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Ricardo Machado

É dirigente do Sindicato dos Bancários de Brasília e ex-dirigente da CUT-DF. Integra a Coordenação dos Comitês de Luta do DF e faz parte da Direção Nacional do Partido da Causa Operária (PCO)

Perda salarial x ganho real

Para a burocracia sindical, perda salarial virou ganho real

As direções sindicais cantam “vitória” quando dizem que este ano os bancários terão “ganho real” de 0,5% sendo que os banqueiro nem a inflação deu para os bancários

As direções sindicais da categoria bancária tentam sistematicamente fazer uma propaganda de que a Campanha Salarial de 2022, que mais uma vez foi firmada através do famigerado acordo bianual, foi uma conquista para a categoria, sendo que a CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) foi o velho resultado da capitulação dessa mesma burocracia sindical para os banqueiros. Se não, vejamos.

As direções sindicais cantam “vitória” quando dizem que este ano os bancários terão “ganho real” de 0,5%, sendo que no ano passado a burocracia sindical defendeu a proposta dos banqueiros de 8% com uma inflação naquele período que foi de 8,83%, ou seja, os bancários já saíram perdendo quase 1% já naquele período. Isso sem falar que o índice de inflação, medido pelos órgãos oficiais do governo, fazem uma média de preços de vários produtos e, o que realmente pesa nos salários dos trabalhadores são, principalmente, os preços dos alimentos, transporte, gás de cozinha, saúde, higiene.

Só para se ter uma ideia, os preços dos alimentos que compõem a cesta básica no País, naquele período, tiveram um aumento de 26,75% calculado até o mês de maio. Os planos de saúde individuais e familiares também foram reajustados em 15,5%; o leite longa vida, somente naquele ano havia sido reajustado em 42%; a alta dos preços nos transportes foi de 17,37%, puxada pelo aumento dos combustíveis, que chegou a 27,89% e o diesel teve um aumento de 46,47%; já os produtos de limpeza também haviam atingidos o dobro da inflação oficial. Logicamente, isso significa que os bancários já no ano de 2022 tiveram os seus salários arrochados, muito mais do que essa miséria de 0,5% que serão reajustados em 2023.

Além disso, os banqueiros, na tentativa de ludibriar a categoria e contando com a capitulação da burocracia sindical, induziram a aceitação do acordo bianual, propondo o tradicional golpe dos reajustes no Vale Alimentação (VA) e Vale Refeição (VR) com um “aumento” de 10% e uma esmola, como forma de “adicional”, no valor de 1.000 reais. Não é novidade para ninguém que vale-alimentação e refeição não é salário que na aposentadoria, por exemplo, o trabalhador deixa de ganhar esses benefícios.

Uma outra questão e, ao contrário do que apregoa as direções do movimento de que “com o constante crescimento nos lucros dos bancos, o aumento do teto da parcela adicional da PLR possibilita maiores ganhos para os trabalhadores”, da mesma forma que os banqueiros dão o golpe com o VA e VR, a PLR é um artifício e, também, um instrumento de barganha do patrão na hora que a categoria vai discutir o aumento salarial. Os bancos, manipulando as dificuldades econômicas dos trabalhadores, criadas pela sua política de arrocho salarial, desvia a reivindicação salarial para que os trabalhadores se contentem com esta espécie de abono, de periodicidade esporádica, que não incide na folha de pagamento, não é incorporada nos salários dos trabalhadores, nem nos seus benefícios e direitos. Ela é usada pelos patrões para desviar a atenção dos trabalhadores, opondo-a a qualquer luta por aumento salarial. Consequentemente não podemos dizer que é um “ganho para os trabalhadores”, já que na aposentadoria o bancário deixará de receber essa espécie de abono, uma migalha caída da mesa de negociação com os banqueiros.

Uma outra questão, não menos importante, são as justificativas da burocracia para aceitar mais arrocho salarial, demissões, terceirizações, etc., que é a tal da “conjuntura adversa”. Mas quando foi que a categoria bancária, em suas campanhas salariais, contou com uma conjuntura favorável!?

A categoria bancária, uma das categorias mais combativas do País, protagonista das maiores mobilizações que já aconteceram, somente conquistou todos os seus direitos através de muita luta através de grandes greves onde os trabalhadores cruzam os braços em todo o território nacional em luta pelas suas reivindicações. Inclusive, no último dia 28 de agosto comemorou-se o dia do bancário, dia esse não foi uma invenção do comércio para vender presente, e sim a comemoração da sua memorável vitória sobre os banqueiros na década de 1950 com uma greve de 69 dias onde arrancaram dos patrões um reajuste de 31% e, de lá para cá as vitórias da categoria só se deram em cima de uma “conjuntura adversa”.

Nesse sentido, a categoria bancária, em virtude de suas características numéricas nacional e sua natureza central na economia capitalista, na atual etapa, poderia ser uma ponta de lança importante do movimento nacional de luta, unindo, inclusive, o conjunto de outras categorias de trabalhadores. Somente uma luta unitária dos bancários nacionalmente por suas reivindicações pode abrir perspectivas de reversão do atual quadro. No entanto, em função da política de capitulação da burocracia sindical nas mesas de negociações com os banqueiros, não resulta numa verdadeira campanha salarial de luta pelas verdadeiras reivindicações da categoria.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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