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Coluna

Os ursinhos carinhosos não apoiam o Hamas

Os progressistas devem decidir se estão à esquerda ou à direita do mundo: ou estão do lado do opressor ou do lado do oprimid

A origem 

A democracia liberal assenta-se basicamente em princípios morais declarados em suas cartas de direitos. Essa ideia surgiu quando os senhores feudais foram perseguidos pelo sanguinário Rei João e após várias lutas, os barões forçaram-no a promulgar a Magna Carta inglesa em 1215. A ideia, que mais tarde seria tomada nas revoluções que inauguram o estado constitucional, trazia em suas letras latinas arcaicas, a chamada lei da terra. Sendo a terra perene e o monarca transitório, deveria, então, todo governante se submeter a ela. Mas o rule of law (o império do direito) demorou a pegar. A carta foi revogada e posta em vigor várias vezes, até que no Séc. XVII surgiram ainda mais duas – Bill of Rights e Petition of Rights, as quais declaravam o parlamento como representante do povo e limitavam o poder do Rei. Mas a monarquia só cai com o advento das revoluções Francesa e norte-americana, das quais resultaram a declaração de direitos do homem e do cidadão e a constituição estadunidense, cuja matriz filosófica é o contratualismo fundado nos direitos civis. A ideia decorre do Direito Natural, segundo o qual todos os homens nascem livres e iguais. Mas a gloriosa e violenta revolução burguesa por liberdade e igualdade foi movida não pelo conteúdo moral do valores ditos humanos e, portanto, universais, mas sim pelo capitalismo:  o desejo de se livrar da tirania da monarquia e da Igreja Católica para expandir o capital e assim poder impor sua própria tirania. E para legitimar sua fúria sanguinária, trataram os burgueses de estabelecer também a sua própria concepção religiosa, o protestantismo. E com toda a liberdade, a burguesia se expande e ganha outros continentes.

Morte e vida do ideário burguês 

Seguiu-se, então, uma expansão capitalista desenfreada e sustentada pelo suor do proletariado. E os homens que defendiam liberdade e igualdade o fizeram apenas para eles mesmos. A exploração perversa de homens, mulheres e crianças sustentava a igualdade e liberdade dos donos dos meios de produção. Na segunda metade do séc. XIX  ainda não havia televisão nem internet para inculcar que a virtude humana está na doçura dos ursinhos carinhosos, amorosos, cordatos, submissos e sempre dispostos a dialogar com seu opressor. Naquela época, a glória era usar de todos os meios para repelir a agressão do opressor. Os defensores da ditadura do proletariado não confundiam a resistência do oprimido com a violência do opressor, para citar um companheiro da contemporaneidade. Marx e Engels impulsionaram as revoluções e nos deixaram um valioso legado: a honra de entender como funciona o capitalismo e de lutar contra sua força opressora. Mas os burgueses foram espertos e trataram de inventar o Estado do Bem Estar e a Social Democracia. Com o domínio da economia, do aparelho estatal e cultura, baseada na ideia de que o parlamento daria conta de representar o povo, a burguesia tratou de plasmar em suas declarações os direitos fundamentais chamados de segunda dimensão: os direitos sociais. Incorporaram formalmente o materialismo que Marx inculcou na consciência de tantos e buscaram os legisladores dar uma aparência substantiva às declarações abstratas dos direitos e garantias fundamentais.

Isso acalmou boa parte da civilização ocidental ao passo que fortaleceu a crença no Direito como instrumento de realização da democracia.

A democracia liberal estava em seu auge na segunda metade do séc. XX: a declaração de direitos, agora universal,  e o sistema de proteção dos direitos humanos dava conta de fazer as pessoas acreditarem que o sistema capitalista é tolerável, e mais, que pode garantir uma existência digna a todas as pessoas, afinal, era o que estava escrito nas cartas de direitos. O capitalismo, então, estava livre mais uma vez para continuar satisfazendo sua voracidade, apoiado por um Direito marcado pelo idealismo que não cedeu ao materialismo das lições de Marx.

O capital ensina a todos serem ursinhos carinhosos

Segue-se com os problemas do estado do bem estar social uma new wave liberal. A queda dos regimes inicialmente inspirados pelas lições de Marx tomaram seu próprio rumo até a sua dissolução no fim do século passado. Os liberais comemoraram e bradaram a vitória do liberalismo sobre o socialismo Um discurso esperto fundado em devaneios desesperados. Com o avanço dos meios de comunicação e o advento da internet, a democracia liberal cria ilusões irresistíveis: a meritocracia, o empreendedorismo, coach para todos os males do espírito e uma doutrina segundo a qual somos felizes sendo meigos, cordatos e avessos a qualquer violência. Sejamos todos ursinhos carinhosos incapazes de reagir à opressão do capitalismo, mesmo em sua versão mais selvagem de todos os tempos. A violência da democracia liberal é silenciosa, sorrateira e vai matando seu espírito, retirando-lhe sua humanidade e tornando-o incapaz de reagir para livrar-se da opressão. Qualquer impulso violento é reprimido com drogas e/ou lições de moral.

Veja-se quão perversa é a democracia liberal já na sua segunda dimensão: por meio de declarações abstratas, ela faz as pessoas acreditarem não só que são livres e iguais, mas também que o Estado lhes proverá saúde e educação e, ainda, lhes garantirá um meio de empreender e, com um pouco de sorte e trabalho árduo, até enriquecer. E mais, que a racionalidade  humana teria avançado juntamente com o capital e nos tornado moralmente superiores e capazes de dialogar para resolver todos os nossos problemas. Não precisamos de guerra nem de revoluções, podemos resolver tudo pelas avançadas vias institucionais da grande democracia ocidental. Sejamos todos ursinhos carinhosos enquanto as instituições resolvem nossos problemas.

Enquanto isso…

O imperialismo se mantém forte ainda após a libertação das últimas colônias na África. O império exerce sua soberania sobre os trabalhadores colonizando-lhes as mentes e os corações, impingindo-lhes discursos moralistas e individualistas que os afastam de sua essência e de sua própria humanidade. O problema é que o oriente, onde estão os recursos naturais dos quais dependem os imperialistas, tem outra matriz religiosa e filosófica e teima em resistir ao poder do império. Como não penetram na cultura, os imperialistas compram e corrompem governos, promovem guerra civil, perseguem e executam quem ousa se opor. Mas o que o império fala para seus súditos do ocidente sobre isso? Que está levando os valores da democracia aos selvagens fundamentalistas do oriente, que são povos atrasados, violentos e que mantêm milícias armadas para aterrorizar a civilização ocidental. Que são terroristas, que não reconhecem Jesus Cristo como salvador e por isso têm coragem de explodir bombas em seus próprios corpos.  De fato, eles são o avesso dos ursinhos carinhosos. Não aceitam ser colonizados, não cedem seus valores, sua história, sua cultura, sua terra. Eles não acreditam na racionalidade abstrata dos ocidentais. Eles resistem, são persistentes em não ceder suas consciências. Eles já têm problemas demais com seus próprios governos e monarquias, muitas vezes corrompidos pelas nefastas ferramentas da democracia liberal. Eles lutam para não serem colonizados. Eles lutam contra o imperialismo.

O representante da democracia liberal no Oriente

A democracia liberal, plasmada em belas cartas de direitos, conviveu e convive até hoje com a realidade fascista e nazista praticada por seus governos. Seja por este motivo ou por qualquer outro, os sionistas sustentam que os judeus, os quais não aceitam o Jesus Cristo sacralizado na Europa e EUA, tinham que ter um lugar para estabelecer seu próprio Estado já que os anos de perseguição e o extermínio pelos nazistas não foram suficientes para dizimá-los da Europa. A democracia liberal ajeita tudo por meio de abstrações convenientes aos seus propósitos: os judeus têm direito a “retornar para suas terras”. E assim inventaram o Estado de Israel sobre o território palestino. Os liberais são eficientes quando se trata de criar um argumento, ora racional ora racionalmente religioso, para justificar sua sanha colonizadora. Israel, que bebe o sangue dos palestinos e toma-lhes suas casas há mais de 70 anos, foi reconhecido pelos “governos democráticos” depois da Segunda Grande Guerra. Israel é a presença do império no teimoso e resistente oriente. O discurso liberal é tão cínico que toma os corações e mentes da esquerda, que um dia chegou a ser marxista, mas abandonou a luta, seja por covardia, seja por conveniência, seja por ingenuidade ou por burrice mesmo. A esta altura, são poucos corações revolucionários herdeiros de Marx e Engels. Afinal, as instituições de defesa “dos direitos humanos” estão aí para evitar qualquer conflito. Só mesmo os bárbaros e de espírito atrasado continuam lutando com armas na mão. Essa gente nunca viu o desenho animado dos ursinhos carinhosos. Eles aterrorizam o ocidente com a força inexorável de sua resistência. Quando os tanques de guerra do império se aproximam, eles os destroem com seus artefatos explosivos. Eles não vencem a guerra porque não é uma guerra. Eles resistem como podem e fazem o poderoso império negociar em seus termos. Eles não aceitam ser colonizados. Eles são a força de resistência anticolonial, e são tão resistentes que assombram o império. Por isso, e somente por isso, eles são chamados aleatoriamente de terroristas.

A “esquerda progressista”

Fofos e cordatos, a esquerda se autointitula progressista para se livrar da pecha revolucionária, a qual é demonizada pelos democratas liberais e calada pelos mecanismos sofisticados de opressão capitalista. A teoria moral nunca foi tão sedutora e tão desumana. Os progressistas se dizem de esquerda, mas abandonaram as lições de Marx para incorporar a moralidade liberal e, assim, tornaram-se os ursinhos carinhosos, incapazes de compreender e aceitar a resistência dos palestinos em face da perversidade de Israel apoiado pelos imperialistas. A esquerda tão cordata e meiga com o capital sequer invoca as cartas de direitos e nem as verdades plasmadas nos documentos dos homens que atuam nas instituições de defesa dos direitos humanos. Os resquícios do materialismo que Marx nos deixou, conservado pelos bravos, sequer são considerados pelos seus próprios defensores. A esquerda foi colonizada pelo neoliberalismo que a intitulou de progressista para evitar que resistissem. Afinal a violência é monopólio dos liberais. Depois que eles mataram milhares na guilhotina ninguém mais pode fazer revolução. Tudo deve ser resolvido pelas instituições que eles inventaram. E quando estas instituições produzem uma certa verdade que os incomoda, os bravos são perseguidos, afastados, demitidos… demonizados porque escreveram a verdade.

A democracia liberal, que no capitalismo é a sua essência, é uma máquina de contradições idealistas que desumaniza e corrompe quem quer que seja.

Os ursinhos carinhosos contra a resistência palestina

Nem mesmo os juristas “progressistas” foram capazes de defender a resistência palestina. Ocupam o aparelho que dá vida à democracia liberal, que quer atropelar a humanidade, que jura defender, que retira os direitos que declara como fundamentais, que cria um estatuto de direitos e usa-o para perseguir seus titulares. O discurso etnocêntrico e moralista está nas bocas da tal “esquerda progressista”, que usa o aparelho capitalista de repressão contra as classes mais vulneráveis ao mesmo tempo em que lhes reconhece a vulnerabilidade e lhes confere um estatuto de proteção. Inculca uma moralidade tosca para condenar a atuação da resistência palestina e silencia quando a própria mídia israelense desmente o tal “terrorismo”. E pior, muda de ideia somente porque essa tal mídia disse, pois nunca foi capaz sequer de olhar para o que as próprias instituições produziram de acordo com a legislação fundada em seu ideário de dignidade humana. Veja-se o quão desumana é a democracia liberal!

Se Marx estava certo, e sabemos que estava, o abismo vai se aprofundar. Os progressistas devem decidir se estão à esquerda ou à direita do mundo: ou estão do lado do opressor ou do lado do oprimido. Se decidirem pelo único lado que cabe à esquerda, aprendam de uma vez que contra o opressor não há violência, mas somente resistência.

Viva o Hamas e toda resistência palestina!

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