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Olha o golpe

Os “decolonialistas” de estimação da burguesia

O decolonialismo é uma farsa pró-imperialista

No último dia 9 de janeiro, Antônio Bispo, apresentado como uma liderança quilombola, falou, diante de uma plateia considerável, que Dilma Rousseff, do PT, era “colonialista”, ou seja, na concepção dele, defensora da opressão dos quilombolas. Ele disse isso quando do lançamento de seu livro, chamado “A terra Dá, a Terra Quer”, na Feira do Livro de 2023, realizada em São Paulo. 

A questão é que Bispo gostaria que Dilma tivesse feito uma comissão da verdade com relação à situação dos quilombolas. Como ela não fez, ela é “colonialista”. E não só, o líder quilombola considera que tanto os quilombolas quanto os índios são anticolonialistas pois não se deixaram colonizar até hoje, e que considera correto fazer uma arrecadação para os colonizadores saírem do país. 

Da nova onda pseudo-intelectual “decolonial”, as teses de Bispo merecem uma discussão, pois revela que existe uma nova corrente intelectual, destinada a orientar a luta dos negros, mas que serve de base para uma campanha que resultará, se não for combatida, em um novo golpe de Estado, com um verniz esquerdista.

O “decolonialismo” golpista

Em primeiro lugar, é de se destacar que Dilma Rousseff foi derrubada por um golpe de Estado em que, além das forças direitistas, contavam também como golpistas um setor considerável da esquerda, os abarcados no, agora pouco falado, “fora todos”, como foi o caso do PSTU

Não é por acaso a declaração dele, Bispo, dada em uma entrevista realizada pelo diário O Beltrano, durante os tempos de golpe, onde podemos ver sua rubrica na ascensão de Bolsonaro ao poder: “FHC, Lula e Dilma criaram as condições para o avanço do capital sobre os quilombos, para esse desastre que está se anunciando. Então, não sou eu quem vai defender Dilma, não é problema meu. Quero saber é como ficam os quilombos nesse momento”.

Daí já fica mais claro o restante das posições do decolonial Antônio Bispo. Se existe um militante da esquerda capaz de ter se colocado a favor do golpe de Estado contra Dilma e o PT, é este militante que precisa ser acolhido pelos interesses da burguesia. 

Também por isso os holofotes voltados para ele e a “luta decolonial” neste momento e para outros militantes “decoloniais”: estão prontos para se movimentarem contra o governo PT e, quem sabe, colaborar novamente em outro golpe de Estado.

É importante notar o carinho que a imprensa golpista tem com relação a este tipo de elemento da esquerda. A Folha de S. Paulo é quem deu a publicidade das declarações de Antônio Bispo contra Dilma Rousseff, e com certo ar de felicidade: “Bispo não deixou barato. Ele chamou a ex-presidente Dilma Rousseff de colonialista por não conduzir uma comissão da verdade direcionada aos quilombolas”, diz a matéria do jornal sobre o lançamento do livro de Bispo, na Feira do Livro. 

Por outro lado, é interessante notar que o golpe contra Dilma foi dado justamente pela burguesia imperialista, que é, em último caso, a inimiga final dos quilombolas. Não é que Dilma não quis atender às demandas do movimento negro, ela simplesmente não tinha a menor força para isso, e tinha que enfrentar a própria esquerda na luta contra o golpe que sofreu. 

Golpe este que, diga-se de passagem, facilitou o caminho para os latifundiários atacarem os quilombolas e demais trabalhadores da terra, e o próprio governo federal também o fez, através, então, de Jair Bolsonaro, colocado no poder com ajuda da esquerda “fora todos”.

Não custa lembrar as declarações de Jair Bolsonaro contra os quilombolas: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”. E ele assumiu o poder com a ajuda do movimento negro “decolonial”, essa é que é a verdade.

E isso para pegar o lado golpista da posição de Antônio Bispo, mas vamos tratar, também, das concepções confusas apresentadas pelo líder quilombola.

O “decolonialismo” é uma farsa pró-imperialista

Bispo diz que quilombolas e índios não se deixaram colonizar até hoje. O que é falso. A afirmação não passa de uma demagogia barata. O país foi colonizado, faz algum tempo, e sofre de problemas sociais de um país capitalista atrasado.
É claro que se há alguma comunidade que deseja permanecer em sua terra e manter suas tradições, isso não deveria ser problema, e deveria ser garantido pelo Estado “colonizador”, afinal, quem mais garantiria isso? O que não quer dizer, em absoluto, que este povo inteiro quer e precisa viver à margem da civilização, pelo contrário.

Boa parte da luta dos trabalhadores da terra, sejam quilombolas, índios ou trabalhadores rurais, reivindica direitos básicos que boa parte da sociedade já usufruta. Educação, saúde, moradia, energia elétrica, transporte de qualidade, enfim, já foram registrados milhares de protestos desse povo nesse sentido.

Oras, ainda durante a pandemia e o governo Bolsonaro, quilombolas lutaram, por exemplo, por vacinas e saúde em suas comunidades. Já no início deste ano eles também se movimentaram em defesa de direitos coloniais: “Acho que o Estado não tem que ter desculpa. É obrigação que faça as políticas chegarem (nas comunidades). Nós sabemos que, enquanto quilombolas, às vezes a gente se sente muito menos do que cidadãos”, disse a advogada integrante do Quilombo Kalunga, Vercilene Dias, que exigia, naquela altura, mais políticas sociais além da titulação das terras quilombolas. Titulação que só pode ser feita, obviamente, pelo Estado. 

Assim, não se trata de uma luta “anticolonial”, pelo contrário, se trata de conseguir os benefícios do desenvolvimento que já foram conquistados por outros setores da sociedade capitalista. Mesmo os direitos democráticos devem ser conquistados, ainda, por quilombolas e outros trabalhadores da terra. É o oposto do que defende Antônio Bispo.

A posição “decolonial” de Antônio Bispo serve, na verdade, para impedir o avanço nos direitos sociais e democráticos dos quilombolas. Cria uma nova versão da chamada luta anti-racista, que serve perfeitamente aos interesses golpistas. É uma posição cultural abertamente reacionária que envolve, ainda, a invenção do chamado “saber orgânico” que se opõe, segundo Bispo, aos “saberes sintéticos”, que seriam os conhecimentos científicos. 

Fica a pergunta: como ele faria uma exposição e publicaria um livro se não fosse os avanços da colonização, como a energia elétrica, as fábricas de microfone e caixas de som, além, claro, das gráficas? Seria de se pensar, então, que ele não deveria ter utilizado nenhum destes equipamentos, posto que oriundos do processo de desenvolvimento do Brasil, fruto, por óbvio, da colonização.

E Marx?

Por fim, e demonstrando não conhecer o “saber sintético” de Marx, Bispo solta a frase de efeito, típica de um jogador de futebol, e não de um militante de esquerda: “as pessoas leem Karl Marx, mas não conversam com suas avós”. Divertido para a platéia. Mas para a luta do negro isso não diz nada, tal declaração só é parte da campanha secular da direita contra o marxismo.

Na realidade é o marxismo que permite desmascarar as políticas de ocasião do movimento negro pequeno burguês e outras pixotadas da esquerda pró-imperialista. E é preciso denunciar amplamente essa política, pois está sendo patrocinada para dar o aspecto esquerdista para os ataques contra o governo Lula e contra o PT.

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