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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Os anos 1960 em Amor e Raiva

Filme discute os temas políticos que inflamaram as esquerdas nos anos 1960 e ainda são atuais

Amor e Raiva (Amore e Rabbia) é um filme de 1969, de produção italiana. É uma preciosidade cinematográfica dividida em cinco episódios, cada um dirigido por um cineasta europeu: Bernardo Bertolucci, Jean-Luc Goddard, Carlo Lizzani, Pier Paolo Pasolini e Marco Bellocchio. Seu interesse está no fato de que os cineastas realizaram de maneira consciente um retrato do caldo cultural daquele momento histórico e como apreenderam o ambiente subjetivo dentro da estrutura capitalista de então.

Assisti-lo é voltar no tempo para entender como os cineastas buscaram refletir especialmente sobre o pós-maio de 1968, o fracasso dos movimentos estudantis e a capitulação dos partidos de esquerda. Mostra com primor também como ali estava a semente do que, 54 anos depois, estamos vivendo.

O filme abre com o episódio “Indiferença”, de Carlo Lizzani. É uma espécie de introdução, que aponta o principal assunto: a subjetividade capitalista. É ambientado nos Estados Unidos em uma grande cidade. O cineasta representa a reação coletiva de alienação e indiferença diante do sofrimento em situações urbanas, como um acidente de carro ou um estupro. Atualíssimo. A guerra imperialista no Vietnã, tal qual hoje a guerra imperialista na Palestina, é o contexto.

A seguir, temos o episódio arrebatador de Bernardo Bertolucci intitulado “Agonia”. Trata-se de uma apresentação do Living Theater, um grupo de teatro de esquerda nova-iorquino que fez história naquela época. Os atores encenam os últimos minutos de vida de um bispo da Igreja Católica de maneira impressionante.

Na sequência, temos “A flor de papel”, de Pier Paolo Pasolini. É uma crítica ácida ao movimento hippie e ao slogan “paz e amor”. Em meio a imagens da guerra no Vietnã e do genocídio nazista, o filme acompanha a alienação, a superficialidade e infantilidade de um jovem italiano pelas ruas de uma cidade. Algo que, hoje, poderíamos associar ao papel inútil da esquerda identitária e a slogans como “o amor venceu o ódio”.

O episódio de Godard, “Amor”, é ironia pura e também é muito atual, pois faz referência à Palestina. Um casal intelectual e pequeno-burguês assiste a um filme sobre uma história de amor impossível entre uma burguesa israelense e um trabalhador árabe. No seu estilo metalinguístico e autorreferencial, Godard faz uma crítica à intelectualidade europeia pseudo-esquerdista.

Por fim, o nosso epílogo é o filme de Marco Bellocchio, “Discutamos, Discutamos”. Se o episódio inicial nos mostra o problema, o filme mostra a incapacidade de solução. Trata-se da encenação de um debate marxista dentro da sala de aula em uma universidade italiana. Os alunos são os próprios atores e o tom é de farsa.

O objetivo de Bellocchio é mostrar o vazio da ação de estudantes que, como o próprio filme aponta em uma cena, são filhos da burguesia. Eles discutem, discutem, mas são incapazes de ação pela sua condição de classe. Obviamente que a própria posição da universidade, instrumento do estado burguês, é contrarrevolucionária. Sem as condições necessárias para a mobilização da classe trabalhadora, não há o que esses estudantes possam de fato fazer. Trata-se, no fim, da sua própria alienação.

O mais absurdo é constatar que, como se diz por aí, algo que é ruim sempre pode piorar. A complexidade do episódio está no fato de que os diálogos são extremamente afiados e coerentes. Infelizmente, fazendo uma comparação, é difícil imaginar estudantes atuais, perdidos entre livros teóricos identitários e pós-estruturalistas, fazendo um embate tão complexo e tão marxista.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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