Os últimos acontecimentos envolvendo a indicação de uma juíza negra para o STF suscitaram um debate sobre o identitarismo e o papel da OSF Foundations (OSF) na busca de desestabilização do governo. Como sabemos, o identitarismo é uma política fragmentária e reacionária, que se vende como um paliativo para reformar um sistema em crise.
A esquerda revolucionária compreende que essa política, por ser parcial, não colabora para a luta concreta dos trabalhadores, com as reivindicações que levem a um governo dos trabalhadores. Por sua vez, os identitários consideram que o uso do termo “identitarismo” é reacionário, e apenas reflete a vontade dos grandes capitalistas.
Os identitários também pensam que a OSF é o nome de uma teoria da conspiração, que não tem influência sobre as pautas relacionadas às identidades. Esse é o resumo do debate atual sobre a Open Society e sua política.
Contudo, é preciso reafirmar sempre, que o identitarismo é uma política desvinculada do compromisso com as profundas transformações da sociedade, como a luta por um governo dos trabalhadores; com a tomada dos meios de produção; expropriação do latifúndio; trabalho digno com salários dignos; soberania nacional frente ao imperialismo entre outras políticas.
Tampouco, o identitarismo se compromete com mudanças, mesmo que paliativas, sobre as questões candentes da sociedade, tais como emprego; melhores salários; segurança e soberania alimentar; soberania energética; luta contra as privatizações; divisão justa dos direitos de comunicação e imprensa; luta contra o neoliberalismo.
O identitarismo simplesmente se volta para pautas individuais em nome de supostas pautas coletivas. Claro, evidentemente que os indivíduos devem possuir direitos e devem ser respeitados por suas escolhas, mas a organização do direito deve ser conferida aos trabalhadores, não deve ser uma ingerência dos grandes capitalistas como George Soros.
Para o imperialismo é módico e fácil organizar a imprensa internacional para propagar a mesma mensagem sobre valores supostamente democráticos. Estabelecer uma agenda única é missão dos EUA desde os tempos em que pagavam os jornais no mundo para fazer propaganda da “democracia” e demonizar os próprios países.
Por ano, a OSF investe bilhões de dólares para produzir grupos civis engajados na mesma missão, a de atacar governos ou coagi-los a agir de acordo com a agenda do imperialismo. Os valores doados pela fundação somam US$ 19,1 bi, sendo US$ 1,5 bi em 2021, último ano onde houve declaração das doações. No total são 50 mil bolsas concedidas em 120 países, números dignos de um verdadeiro exército.
Os meios de comunicação sob influência da OSF, entre milhares de ONGs do mesmo naipe, impõem o pensamento único por intermédio das seguintes temáticas: feminismo radical, LGBT, aborto, eutanásia, secessionismo, descriminalização das drogas, imigração, mudanças climáticas.
Com novas palavras-chave, além de “totalitarismo”, as sociedades abertas vão empurrando pautas e fragmentando o tecido social, favorecendo a dominação total. Colocaram grande parte da esquerda em uma coleira invisível, aproveitando-se do carreirismo inerente a setores formados em universidades, que muitas vezes também são financiadas por essas organizações.
A Open Society Foundations e a New America Foundation (ligada ao Google) são financiadas por Soros e financiam uma infinidade de projetos nos meios de comunicação, jornalistas e suas organizações. O esforço financeiro e administrativo de toda a rede para construir e controlar a comunicação é grande, despejando milhões diretos ao jornalismo e informação, além de dezenas de milhões nos dispositivos de comunicação de cada uma das organizações [1].
Diante das questões apresentadas, procuraremos estabelecer balizas ao debate sobre o papel da OSF na organização de ativistas políticos que servem para a promoção da agenda de desestabilização dos países oprimidos, bem como desorientar a esquerda e facilitar a dominação imperialista.
Outrossim, desenvolveremos essa discussão em partes: A teoria de Karl Popper sobre as sociedades abertas; os objetivos e as realizações históricas da OSF na cruzada contra a esquerda e contra os governos nacionalistas; o manual de Gene Sharp como instrumento de aperfeiçoamento da OSF; os investimentos da OSF no Brasil, e assim será visto como essa ONG ataca a soberania e o desenvolvimento nacional.
Hoje nos deteremos aos propósitos de Karl Popper.
A divisão social de Karl Popper
De acordo com o portal da OSF:
“George Soros usou sua fortuna para criar a Open Society Foundations, uma rede de fundações, parceiros e projetos em mais de 120 países. Nosso nome e obra refletem a influência no pensamento de Soros sobre a filosofia de Karl Popper, que Soros encontrou pela primeira vez na London School of Economics. Em seu livro Open Society and Its Enemies, Popper argumenta que nenhuma filosofia ou ideologia é o árbitro final da verdade, e que as sociedades só podem florescer quando permitem governança democrática, liberdade de expressão e respeito aos direitos individuais – uma abordagem no centro do trabalho da Open Society Foundations” (OSF, grifos meus).
Karl Popper foi um filósofo do liberalismo, antimarxista, que desenvolveu uma filosofia da ciência visando estabelecer um paradigma válido para todas as questões sociais e políticas, procurando refutar o historicismo através do platonismo e do marxismo, visões de mundo “totalitárias”.
Um dos livros mais influentes de Popper é o mencionado pela OSF, intitulado “Open Society and Its Enemies”, que é a pedra fundamental para tensionar o que ficou conhecido na visão liberal, o totalitarismo.
Popper, por meio dessa alcunha, através do centrismo liberal, procurou denunciar os regimes fascistas e o comunismo. Esse é o ponto de partida: Popper e seu pupilo, Soros, produziram uma teoria e uma política que ajuda a nortear (juntamente com outras ideologias) a política externa dos Estados Unidos até hoje.
Nesse sentido, qualquer um que esteja nos bolsos de George Soros, necessariamente está combatendo o comunismo e a esquerda genuína, a partir de uma visão centrista liberal, consequentemente conservadora, sob uma fachada de liberação sexual, equidade de gênero e equidade racial.
De acordo com Popper, o livro visa “contribuir para que compreendamos o totalitarismo e a significação da permanente luta contra ele”. Na visão do filósofo, o marxismo é uma forma de “historicismo”:
“A filosofia histórica do racismo ou fascismo, o de um lado (a direita) e a filosofia histórica marxista do outro (a esquerda)” possuem visão “teística” da história, por isso precisam ser combatidos filosoficamente, pois, “no caso do racismo, é ela considerada como uma espécie de lei natural; a superioridade biológica do sangue da raça escolhida explica o curso da história […] No caso da filosofia da história de Marx, a lei é econômica; toda a história deve ser interpretada como uma luta de classes pela supremacia econômica”.
E nota-se que é bem esse o mote da OSF.
Outro pensamento derivado do pensamento de Popper é o famoso “paradoxo da tolerância”:
“A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada, mesmo para aqueles que são intolerantes, e se não estamos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos e tolerância com eles. – Esta formulação, não implica que devemos sempre suprimir as filosofias intolerantes, contanto que possamos combatê-las por argumentos racionais e mantê-las sob controle pela opinião pública.
Mas devemos reivindicar o direito de suprimi-las, se necessário até mesmo pela força, e isso pode facilmente acontecer se elas não estiverem preparadas em debater no nível de argumentação racional, ao começar por criticar todos os argumentos e proibindo seus seguidores de ouvir argumentos racionais, devido ela ser uma filosofia enganosa, ensinando-os a responder a argumentos com uso de punhos ou pistolas.
Devemos, portanto, reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar os intolerantes. Devemos enfatizar que qualquer movimento que pregue a intolerância deva ser colocado fora da lei, e devemos considerar a incitação à intolerância e perseguição devido a ela, como criminal, da mesma forma como devemos considerar a incitação ao assassinato, ou sequestro, ou para a revitalização do comércio de escravos como criminoso”.
Essa é a filosofia política que norteou todos os golpes de Estado no mundo, todas as revoluções coloridas e todas as formas de opressão real do imperialismo, sob pretexto de combater algo chamado abstratamente de “totalitarismo”.
Cabe deixar claro que a Open Society apresenta um modelo de ONG imperialista, porém existem milhares de ONGs dedicadas aos mais diversos, dos direitos humanos como arma de guerra contra os países oprimidos, até a imposição de modelos econômicos liberais como forma de pressão e de guerra econômica.
Por trás das boas intenções é onde reside o diabo, e é nas brechas, por ser considerado “não-governamental”, é que uma ONG se infiltra na política das nações.
A Open Society na América Latina, tem como comandante, Pedro Abramovay, que conseguiu impor uma série de infiltrações no governo Lula: Anielle Franco; Sônia Guajajara; Silvio Almeida; Flavio Dino (já foi Open); Marina Silva entre outros nos mais diversos escalões do governo.
Por fim, o que demonstraremos na série sobre a Open Society, é que quem paga a banda, escolhe a música, e as sociedades abertas têm o único interesse na política liberal de seu fundador, e fragmentar a luta política dos explorados, facilitando, assim, a dominação imperialista.
Só mais um detalhe: a direita também dispõe de milhares de ONGs que atentam contra os trabalhadores e a soberania dos países oprimidos. Criticam George Soros, e sua OSF, como forma de se escudar dos mesmos propósitos de subordinação aos Estados Unidos. O que há de comum em todas as ONGs é que são instrumentos da política externa norte-americana.
Referências
[1] Arias, Javier. George Soros controla miles de medios informativos en todo el mundo. Em: Mil21