Da noite de domingo (08) para a madrugada de segunda-feira (09), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou a queda de três torres de transmissão de energia no Paraná e em Rondônia.
O caso mais grave foi a da torre de transmissão que faz parte do sistema responsável por escoar a energia gerada na usina de Itaipu para o restante do País. Cabos de apoio foram cortados e um trator foi utilizado para derrubá-la. Na mesma região, na cidade de Medianeira (Paraná), outras três torres foram danificadas. Já em Rondônia, os cabos de duas torres que foram derrubadas foram rompidos.
Segundo boletim da Aneel, há indícios de vandalismo e de sabotagem nos três casos. “Não foram identificadas condições climáticas adversas que possam ter causado queda de torres”, afirma o texto. Nesse sentido, a agência enviou ofícios às empresas responsáveis por cada unidade requisitando a execução de planos de contingência relacionados à integridade física das linhas de transmissão. Além disso, encaminhou a investigação interna de todos os casos.
As prováveis sabotagens em questão ocorrem praticamente no mesmo dia em que grupos bolsonaristas invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) por, declaradamente, não concordarem com o resultado das eleições do ano passado. São duas medidas – a invasão e a sabotagem da rede nacional de energia – que desestabilizam o governo Lula e, ao que tudo indica, procuram conduzir a situação a um golpe de Estado.
Os militares envolvidos em toda a mobilização bolsonarista estão dando corda para que o governo Lula caia. Crises como a de domingo tensionam e polarizam a situação política, obrigando Lula a adotar medidas cada vez mais drásticas para conter aqueles que querem sabotar seu governo.
O erro do presidente é justamente esse: fazer o jogo da direita e, ao invés de se radicalizar para a esquerda, fazê-lo na direção contrária. Dessa maneira, quando Lula e seu governo vão cada vez mais à direita, fortalecendo, por exemplo, o aparato repressivo do Estado burguês, abrem uma brecha para que os militares e a extrema-direita, como um todo, façam o mesmo.
Pensemos na seguinte situação: digamos que chega-se à conclusão de que determinado general foi a mente por trás da invasão dos bolsonaristas em Brasília. A partir daí, o governo Lula decide agir de maneira mais dura e decreta a prisão desse general – algo que, no Brasil, simplesmente não acontece por conta da força que os militares detém. Então, as Forças Armadas reagem e desobedecem a decisão, reagindo de maneira que desestabilize e desmoralize ainda mais o governo. Uma verdadeira sinuca de bico.
Ao mesmo tempo, quando os militares desestabilizam o governo, tentam criar uma situação em que Lula não conseguirá mais governar por conta da quantidade e da complexidade de crises que cercarão sua administração. A partir daí, a burguesia chegará à conclusão de que ele deve sair e tomará ela própria o poder. Isso não significa, porém, que os militares tentarão, necessariamente, pegar o governo. Mas sim, que querem derrubar Lula.
O episódio das torres de energia apenas mostra que essa situação está caminhando muito mais rapidamente do que o governo Lula mostrou, inicialmente, conseguir lidar. Além disso, é uma prova de que o inconformismo dos bolsonaristas não vem de baixo, das massas nas ruas, mas sim, de cima, do alto escalão do exército. Isso porque a atuação desses grupos até o momento não só se assemelha ao modus operandi dos militares, mas também necessita de um controle sobre as forças de segurança pública que só os militares conseguiriam ter.
Para o governo, só resta uma saída: mobilizar o povo. A organização dos trabalhadores é a única coisa que, na história do País, foi capaz de enfrentar não só imperialismo, mas a extrema-direita dentro dos quartéis. Não é à toa que a ditadura militar foi derrubada pelo movimento operário.
As instituições não farão absolutamente nada para auxiliar Lula em seu embate contra a burguesia, pois o Estado burguês é, por definição, uma arma do capitalismo, e não dos trabalhadores. Nesse sentido, nem Alexandre de Moraes, nem Flávio Dino e nem mesmo José Múcio conseguirão frear os militares caso esteja colocado a derrubada do governo. Todos esses setores citados simplesmente não têm força política para fazer isso
Lula deve, portanto, convocar imediatamente, por meio da CUT, do MST e do próprio PT, um amplo movimento popular que vise organizar a militância da esquerda para enfrentar a ameaça golpista que Lula sofre neste momento. Caso contrário, não é absurdo pensar que seu governo possa, assim como foi em 2016 e em 1964, ser derrubado pela burguesia.
