Recentemente, uma idosa bolsonarista foi presa pela Polícia Federal por ter defecado no STF, durante os atos de 8 de janeiro. Ao lado dela, centenas de outros apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro também foram parar atrás das grades para que Moraes faça uma cena, mas todos tinham uma característica em comum: todos eram pobres.
Entre os “terroristas” que o Alexandre de Moraes vem mandando prender, para usar o jargão do Departamento de Estado norte-americano, não estão inclusos o dono da Madero, o Luciano Hang, dono da Havan, nem nenhum outro empresário, mesmo que estritamente nacional, como esses dois. Os únicos “empresários” presos são os apoiadores de Bolsonaro donos de botequim.
Para a burguesia, existem aqueles que podem sofrer com todo tipo de arbítrio por parte do Estado, e existe a própria burguesia. Naturalmente, na medida em que essas prisões são meras perfumarias, elas não podem atingir nenhum empresário de fato – e aqui não se refere a donos de botecos, nem de restaurantes de esquina.
Ora, se Alexandre de Moraes estivesse, como que por convicção política pessoal – surgida sabe-se lá de onde, já que a vida toda foi um político do PSDB – decidido a combater o bolsonarismo, deveria atacar seus elementos mais poderosos. Isto é, se tivesse poder para tal e se considerasse que esse é o modo correto de combater o bolsonarismo, deveria prender os generais, os grandes empresários que financiam todo o aparato bolsonarista, os governadores mais importantes, etc.
No entanto, tudo o que a PF fez desde o 8 de janeiro e que Moraes fez desde antes foi prender elementos secundários, como comunicadores, parlamentares de menor importância e uns pé-rapados, pessoas pobres que se amontoaram em frente aos quartéis porque defendiam Bolsonaro.
Evidentemente, isso não é combate ao Bolsonaro e não é assim que deve ser feito. Em primeiro lugar, não se combate o fascismo com um “salvador da pátria” vindo do aquém e do além para salvar a nação como quer crer a esquerda, Moraes não só não se assemelha nenhum pouco a um salvador da pátria, como é, ele próprio, um fascista.
Não é porque Alexandre de Moraes utiliza os métodos policialescos do Estado contra a extrema-direita que ele é menos fascista, visto que sempre os utilizou contra a esquerda e nada o impede de voltar a utilizá-los. Sob nenhum aspecto, Moraes é um salvador da pátria, precisamente porque ele é um agente do imperialismo, esse sim, o maior inimigo da classe operária e dos movimentos de esquerda: o fato de ele utilizar o aparato repressivo do Estado contra pé-rapados, contra pessoas incapazes de levar o movimento bolsonarista adiante de maneira total, enquanto deixa os bolsonaristas, de fato, intocáveis, revela isso.
A postura correta da esquerda não é recorrer ao judiciário, composto por seus inimigos de classe, mas de mobilizar o povo em torno de um programa reivindicativo, de chamar congressos e conferências contra os militares, de aproveitar que Lula está no governo e tomar uma série de medidas para quebrar a base de Bolsonaro e, por fim, formar comitês de autodefesa contra o fascismo – isto é, organizar os trabalhadores para que eles defendam a si próprios, sem precisar da polícia.