O filho mais novo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Renan Bolsonaro, foi alvo de cinco mandados de busca e apreensão, além do pedido de prisão de duas pessoas próximas a ele na manhã do dia 24. Evidentemente, trata-se de um novo capítulo da perseguição promovida pelo setor mais poderoso do imperialismo contra Bolsonaro, que da mesma forma como opera nos EUA, busca disciplinar os setores mais frágeis da burguesia, alijando-os de seus representantes políticos.
A menção à principal potência imperialista do mundo vem a calhar porque, um dia antes (23), acontecia nos EUA o primeiro debate das primárias do Partido Republicano, agremiação do ex-presidente Donald Trump, também alvo de uma intensa perseguição judicial. Após muita publicidade do cerco da justiça americana contra Trump, qual foi o resultado colhido?
“Eventuais críticas a Trump foram recebidas com sonoras vaias da plateia de Milwaukee, no estado-pêndulo de Winconsin. O ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, um dos opositores mais vocais do empresário, foi quem mais sofreu com as reações.
Em determinado momento, os moderadores da Fox News tiveram que se virar para o público e pedir que deixasse Christie falar –na hora, ele afirmava que Trump desrespeitou a Constituição por não aceitar a vitória do democrata Joe Biden.
Por outro lado, elogios ao ex-presidente foram aplaudidos com vigor.”(“Filho de indianos é destaque em 1º debate republicano; críticas a Trump são vaiadas”, Fernanda Perrin, Folha de S. Paulo, 24/8/2023).
Trump, diga-se de passagem, sequer compareceu ao debate, tendo enviado uma mensagem gravada. Ainda assim, dominou completamente o evento, deixando claro que o uso intensivo da justiça para tirar de cena o ex-presidente americano um tiro que saiu pela culatra. Tornaram-no mais forte.
Em um regime político tão reconhecidamente corrupto, o que pode ser melhor para uma boa propaganda eleitoral, capaz de aglutinar as camadas mais ativas da sociedade do que ser perseguido? O fenômeno do mártir revela-se irresistível a setores das massas que não reconhecendo mais como democrático o regime, apoiam quem se diz opositor ao sistema político, tendo seu intento fortalecido pela ação deste mesmo sistema, que através de inúmeras arbitrariedades e perseguições, termina afirmando também que Trump é, de fato, inimigo dos corruptos.
Fica também em questão o Brasil e se a esquerda está disposta a contribuir para a reprodução do mesmo fenômeno no País. Do outro lado do Atlântico, o uso da justiça para controlar o regime político está se revelando um desastre para o imperialismo. Não há razão para acreditar que em terras brasileiras, o mesmo enredo terá um final diferente.
O que as massas que apoiam Trump e Bolsonaro contra os setores políticos mais poderosos demandam, entretanto, é uma lição positiva para a esquerda, desde que seus dirigentes tenham a cabeça no lugar e prestem atenção no povo. A população está praticamente exigindo o rompimento com a política neoliberal e o enfrentamento ao imperialismo, e não aceitam mais o político de tipo tucano, preferindo lideranças enérgicas, em quem encontrem disposição para lutar pelas direitas democráticos e por uma política econômica que beneficie as massas no lugar dos bancos.
A esquerda precisa ficar atenta a esse fenômeno e longe de portar-se como fiadora de um regime que também no Brasil, é profundamente corrupto e ferozmente hostil à população, deve fazer sua luta mobilizando suas próprias bases, nunca as odiadas forças de repressão do Estado, tal como faz a burguesia. Fizeram isso e colheram resultados catastróficos durante os golpes de Estado 1964, de 2016 e de 2018 (na prisão de Lula). Nunca deu certo para o povo e nunca dará, porque finalmente, o Estado tem dono e não são os trabalhadores.