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Anti-marxista

O socialismo pequeno-burguês de Jones Manoel

Jones Manoel não demonstra saber o que seja o socialismo

O youtuber do PCB, Jones Manoel, fez um vídeo em seu canal criticando a declaração de Guilherme Boulos em entrevista concedida a Reinaldo Azevedo.

Na ocasião, Boulos afirmou que segue um socialismo inspirado no ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Afirmando que o “socialismo atualmente é um caminho que nos leva a uma postura social solidária de oposição ao individualismo que tomou conta da sociedade contemporânea. É lutar por ampliação de direitos, mecanismos de cooperação”.

Muito claramente, longe de ser socialista, a posição de Boulos é “social-liberal” – para usar um vocabulário da moda –, mais liberal, no sentido mais atual do termo, do que social.

Jones Manoel fica incomodado que Boulos, pessoa pela qual ele expressa admiração, não seja socialista. Para nós, não há nenhuma surpresa nisso. Por esse motivo, o que mais interessa aqui é mostrar que a posição de Jones Manoel, ao tentar explicar o socialismo, mostra-se totalmente anti-marxista.

Ao tentar refutar Boulos, Jones Manoel acabou revelando que sabe de socialismo tanto quanto o deputado do PSOL: quase nada. E se propõe a explicar que “há vários tipos de socialismo”, o que não deixa de ser verdade. Marx e Engels mostraram em mais de uma obra a diferença do socialismo burguês e pequeno-burguês com o socialismo científico, ou seja, o marxismo.

No entanto, ao tentar explicar a diferença entre os diversos “socialismos” e o marxismo, Jones Manoel acaba revelando que sua ideia de socialismo se encontra nos socialismos anteriores a Marx e Engels.

Jones Manoel, contrapondo-se à afirmação de Guilherme Boulos, afirma que para um marxista o socialismo “não é um projeto acima de tudo ético, moral, coletivista, solidário. O socialismo tem tudo isso enquanto projeto. Mas, socialismo é acima de tudo um projeto político-econômico de transformação das relações de produção e de propriedade e do poder político.”

Diferente do que afirma Jones Manoel, o socialismo, para o marxismo, não é um projeto de coisa nenhuma. Se não é um projeto ético e moral, como ele afirma, é tampouco um projeto político-econômico.

A compreensão do socialismo como um “projeto”, um “modelo” foi analisada por Engels e Marx e se enquadra exatamente naquilo que chamaram de socialismo utópico. Um socialismo anterior ao socialismo científico, ao marxismo.

No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels afirmam que os socialistas utópicos:

“procuram uma ciência social, leis sociais, para criarem tais condições [materiais para a libertação do proletariado].

“Para o lugar da atividade social tem de entrar a sua atividade inventiva pessoal; (…) para o lugar da organização do proletariado em classe processando-se gradualmente, uma organização da sociedade urdida por eles próprios. A história mundial vindoura resolve-se para eles na propaganda e na execução prática dos seus planos de sociedade [grifo nosso].
(…)
“É só preciso entender o seu sistema para reconhecer nele o melhor plano possível para a melhor sociedade possível.”

Como vemos, o socialismo como “projeto”, ou um plano de sociedade, não tem nada a ver com o marxismo, mas com o socialismo utópico.

Vejamos o que Engels diz, décadas depois, sobre os socialistas utópicos”, no seu folheto “Do socialismo utópico ao socialismo científico”:

“Pretendia-se tirar da cabeça a solução dos problemas sociais, latentes ainda nas condições econômicas pouco desenvolvidas da época. A sociedade não encerrava senão males, que a razão pensante era chamada a remediar.

“Tratava-se, por isso, de descobrir um sistema novo e mais perfeito de ordem social, para implantá-lo na sociedade vindo de fora [grifo nosso], por meio da propaganda e, sendo possível, com o exemplo, mediante experiências que servissem de modelo. Esses novos sistemas sociais nasciam condenados a mover-se no reino da utopia; quanto mais detalhados e minuciosos fossem, mais tinham que degenerar em puras fantasias.”

Marx e Engels, portanto, rejeitavam a ideia dos socialistas utópicos de que o socialismo seria um “projeto”, um sistema de ordem social implantado “de fora” da sociedade.

Se o socialismo, para os marxistas, não é nem um “projeto ético e moral” tampouco um “projeto político-econômico”, o que seria, então, o socialismo?

Engels, no mesmo texto, sintetiza a resposta:

“A concepção materialista da história [o marxismo] parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz o pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isso, as causas profundas de todas as transformações sociais e de todas as revoluções políticas não devem ser procuradas nas cabeças dos homens nem na idéia que eles façam da verdade eterna ou da eterna justiça, mas nas transformações operadas no modo de produção e de troca; devem ser procuradas não na filosofia, mas na economia da época de que se trata.”

O socialismo não é um projeto imposto de fora. As causas das transformações sociais e das revoluções políticas não está na “cabeça dos homens”.

O socialismo científico, portanto, não é um “projeto político-econômico” formulado da cabeça de alguém ou de um grupo de pessoas. Ele é produto das “transformações operadas no modo de produção e de troca.” Em suma, o socialismo independe da vontade dos homens.

A economia e a política modificam a consciência

Na sequência, Jones Manoel afirma o seguinte: “É claro que a economia e a política não direcionam por si em automático a ideologia, a cultura, a consciência de uma sociedade.”

Portanto, diferentemente do que afirmam Marx e Engels, para Jones Manoel, a mudança econômica, ou seja, as transformações no modo de produção, não são suficientes para resolver as questões da consciência.

Para isso, seria necessário, segundo Jones Manoel, haver uma “linha política específica sobre isso”, dando exemplos de debates culturais ocorridos em Cuba, China e Coreia no período de transição, pós-revolução. Sem entrar no mérito da correção ou não das ideias colocadas nesses casos, que um governo revolucionário desenvolva políticas específicas para a cultura, não significa concluir, como faz Jones, que a economia não seja suficiente para mudar a consciência.

Em resumo, após dizer que o socialismo não é um projeto moral, mas um projeto político-econômico, Jones Manoel acaba defendendo que precisa haver um projeto ético e moral.

Segundo essa lógica, não teria sido o capitalismo, ou seja, o sistema econômico, que criou um homem diferente, mas a Igreja, um filósofo, ou algum educador. Mas, pensar assim é totalmente absurdo, uma vez que justamente o sistema econômico capitalista criou um homem diferente do homem da Idade Média. Da mesma maneira, o homem do feudalismo era diferente do homem romano.

Cada sistema criou um homem totalmente diferente do anterior. Portanto, a ideia de que seria preciso educar os homens como condição para o socialismo é anti-marxista.

Sobre isso, voltemos a Marx, dessa vez no muito conhecido texto “Teses sobre Feuerbach”

“A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias devem ser transformadas pelos próprios seres-humanos e que o próprio educador deve ser educado. Ela acaba, portanto, separando a sociedade em duas partes – uma das quais é superior à própria sociedade.

“A coincidência entre as circunstâncias mutáveis ​​e a atividade humana ou “automudança” só pode ser concebida e racionalmente compreendida como prática revolucionária.”

Segundo Marx, portanto, não é a educação, nem mesmo as circunstâncias, que modifica o homem. É a própria sociedade (que, como explica Engels, é “determinada pelo que produz, como produz, e pelo modo de trocar os seus produtos”) que modifica o homem em relação dialética com a própria ação do homem modificando a sociedade.

Em suma, a sociedade modifica o homem que se modifica transformando a sociedade. Eis a prática revolucionária. Não há, portanto, um homem acima da sociedade que a transforma “de fora”. É uma só e mesma coisa mudar o mundo e mudar a si mesmo.

Assim, concluímos explicando que, diferentemente do que afirma Jones Manoel, a revolução, a ação revolucionária do homem, não é apenas a tomada do poder, uma revolução política, mas é, também, uma revolução da consciência, ou uma “revolução cultural”, se quisermos empregar esse termo.

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