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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

40 anos do GNU Hurd

O sistema operacional incompleto que deu origem ao software livre

Richard Stallman não conseguiu concretizar suas ambições com o GNU, mas seu legado sobrevive no Linux, ou GNU/Linux como ele gosta de chamar

Há pouco mais de 40 anos, um aluno do prestigioso Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT, em inglês), tinha um problema que tenho certeza que muitos leitores desta coluna já enfrentaram. A impressora compartilhada por diversos laboratórios, inclusive aquele em que Richard Stallman trabalhava, perdia os pedidos de seus usuários porque o aparelho era tão requisitado que sua fila de requisições estava frequentemente cheia. A impressora era uma Xerox 9700 e o programa que a controlava era proprietário, opaco aos seus usuários. Stallman, que trabalhava como programador no laboratório dedicado a pesquisa de Inteligência Artificial, considerou a situação absurda: tanto porque ia contra a filosofia de seu grupo de pesquisa, de que o software lá desenvolvido deveria ser livremente compartilhado para modificação, tanto porque o problema era de fato trivial de se resolver caso o programa instalado na impressora pudesse ser alterado. Bastava aumentar o tamanho estipulado para a fila ou torná-lo dinâmico.

Esse episódio, ocorrido em 1981, levou Stallman, no final de setembro de 1983, a anunciar que desenvolveria um sistema operacional próprio, o GNU. Isso porque, além da impressora, em 1982, o MIT comprou um computador, o então poderoso DEC PDP-10 da Digital, que era operado pelo lendário sistema operacional Unix, desenvolvido no Bell Labs, departamento de pesquisa e desenvolvimento do monopólio norte-americano de telecomunicações AT&T. Stallman considerava absurda a forma como o software era distribuído e achava que os programas deveriam ser livres. Não necessariamente gratuitos, mas livres para que seus usuários pudessem moldá-los às suas necessidades ou consertá-los e atualizá-los. O nome que deu a sua iniciativa era ambicioso e revela seu humor peculiar. O anagrama recursivo GNU significa “GNU não é Unix”.

Stallman queria um sistema moderno, compatível como o popular Unix. O sistema seria composto tanto por seu núcleo, o GNU Hurd, parte que se comunica diretamente com o hardware, e as ferramentas disponíveis a seus usuários. O Hurd continua até hoje em desenvolvimento, é levado adiante tanto por entusiastas como por acadêmicos, mas as demais partes do projeto GNU alcançaram enorme sucesso. Duas de destaque são o editor EMACS, que deu origem à licença de software livre que já comentamos nessa coluna, e o compilador GCC, que quando lançado, no final dos anos 1980, superava o desempenho dos compiladores comerciais.

Apesar de não utilizarmos o GNU hoje em dia, muitos de nós utilizam diariamente o Linux, ou GNU/Linux como Stallman gosta de chamá-lo. Muitos de nós usam sem saber, finalmente o núcleo do Android é baseado no Linux. O núcleo do sistema operacional livre, criado pelo estudante finlandês Linus Torvalds foi inicialmente publicado com licença própria, mas em 1992 aderiu à licença GNU. O projeto era apenas o hobby de um estudante motivado e boa parte das ferramentas – o interpretador de comandos bash, o compilador gcc, o editor emacs – que o tornavam útil eram parte do projeto GNU, que teve basicamente apenas seu núcleo substituído.

Do ponto de vista ideológico de Stallman, o Linux não é perfeito. Finalmente, o suporte do sistema a inúmeros componentes, certamente algo que ajudou em sua adoção, veio por meio de um compromisso, a admissão de software opaco, massas binárias não livres que fazem esses componentes funcionarem. Ainda assim, o Linux é o Hurd real. Como muitos em muitos projetos idealistas, utópicos, o Hurd é um alvo em movimento.

“Eu estou fazendo um sistema operacional livre (é apenas um hobby, não será grande e profissional como o GNU) para os clones AT 386(486). Está sendo desenvolvido desde abril e está quase pronto”, disse Torvalds às vésperas de apresentar a primeira versão do Linux à internet em 1991. Em algumas décadas, seu projeto sem grandes ambições profissionais “como o GNU” transformou-se no sistema mais utilizado no mundo, tanto em servidores que sustentam a computação em nuvem como em celulares e sistemas embarcados.

Por mais que o Hurd não tenha atingido sucesso comercial, o que podemos parcialmente colocar na conta do caráter ideológico do projeto GNU, não podemos jamais diminuir seu legado. Parabéns ao projeto por seus 40 anos. Espero que nos próximos 40 o Hurd se torne uma realidade e que tenhamos tanto o GNU/Linux como o GNU como alternativa.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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