Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Clássico da literatura

O Saci: o herói nacionalista de Monteiro Lobato

Hoje atacado pelo identitarismo, Monteiro Lobato fez um livro para defender a cultura e as tradições nacionais, um esforço para a compreensão da identidade nacional

Em 1921, um dos mais importantes escritores brasileiros, Monteiro Lobato, publicou a obra O Saci. O livro, que fez parte da série do Sítio do Picapau Amarelo, é uma obra-prima da literatura infantil brasileira. Mas é muito mais do que isso.

Pela qualidade e extensão de sua obra infantil, Monteiro Lobato é considerado o patrono desse tipo de literatura, embora tenha uma obra vasta sobre os mais diversos temas.

A qualidade do escritor transformou sua literatura infantil em verdadeiras obras-primas da literatura com valor universal. Aí talvez esteja um dos méritos do autor, capaz de dizer às crianças com a mesma facilidade e qualidade com que fala para os adultos.

Preocupação nacionalista

O problema da compreensão de uma identidade nacional é uma preocupação frequente na intelectualidade brasileira e os livros de Lobato transmitem muito claramente essa busca. Mais do que simplesmente um retratista da sociedade e do folclore brasileiros, Monteiro Lobato foi um militante das causas nacionais.

O nacionalismo do escritor foi inclusive evoluindo à esquerda, que desembocou em sua campanha pelo Petróleo e sua entrada no Partido Comunista.

O livro O Saci é uma aula de cultura nacional. E nesse caso, como se trata de um livro infantil, o termo é bem apropriado, com a ressalva de que o livro está muito longe de ser escolar, ou seja, no sentido de sacrificar a literatura para apresentar determinada tese ou, no caso, de substituir a literatura por uma preocupação meramente didática.

Não! Ler o livro de Monteiro Lobato é antes de tudo uma experiência literária das mais ricas. E é por meio dessa literatura que ele nos expõe os elementos mais tradicionais da nossa cultura. Mas não apenas isso, o livro é um retrato muito interessante dos costumes do povo e até da fauna e da flora brasileira.

O livro é fruto de uma provocação lançada pelo autor quando era colunista do jornal Estado de S. Paulo, incomodado pela presença de duendes e gnomos nas residências brasileiras, uma expressão da cultura importada da Europa. Lobato, então, em 1918, publica, no jornal, o texto “O Sacy-Pererê – resultado de um inquérito”, após pedir para os leitores enviarem histórias sobre esse personagem do folclore brasileiro. O livro O Saci é resultado desse “inquérito”, transformando-o no livro infantil.

A preocupação nacionalista do autor evolui ideologicamente de uma preocupação específica sobre o folclore e a cultura popular para uma defesa econômica do progresso nacional. Naturalmente, essa militância nacional esbarra no imperialismo e o próprio autor é jogado para posições marxistas, daí sua aproximação do Partido Comunista.

Por isso, aqueles que acusam Lobato de reacionário ignoram a evolução do autor. No início de sua carreira, o autor tem ideias confusas sobre o problema da formação e da constituição da sociedade brasileira, e é no marco dessa confusão inicial que devemos compreender o flerte do escritor com o eugenismo, ideologia reacionária que chegou a estar na moda na época.

Embora suas obras possam naturalmente expressar essas confusões ideológicas do autor, elas são principalmente resultado de seu esforço – esse sim muito progressista – de compreender a identidade nacional e do povo brasileiro. Seus livros expressam, portanto, essa evolução para posição cada vez mais progressistas e revolucionárias, no marco, logicamente, das limitações do nacionalismo burguês.

Negro, índio e brasileiro: eis o Saci, herói da história

Compreendidas essas considerações sobre suas posições nacionalistas, O Saci é uma obra que representa bem claramente o esforço do autor para promover as tradições nacionais.

O Saci é o protagonista da história juntamente com o menino Pedrinho, que vem da cidade passar as férias no Sítio. O Saci é o anfitrião da mata, é ele quem apresenta ao menino as tradições do lugar que nada mais é do que o conhecimento do próprio Brasil, ou melhor dizendo, de uma parte do Brasil, de sua formação natural e cultural.

O Saci é uma das entidades mais interessantes do folclore nacional. Embora haja muitas versões da história, uma delas é a de que ele seria um escravo que, depois de ser torturado e preso num tronco por uma das pernas, preferiu arrancá-la e ser livre.

Embora conte a história de um menino negro, a lenda do Saci-Pererê tem origem em uma lenda indígena que aos poucos foi se transformando pela influência africana e europeia. Nesse sentido, a lenda do Saci é própria da cultura brasileira, um herói brasileiro, uma síntese da formação de nossa sociedade.

Além do Saci e das paisagens nacionais, com sua fauna e flora, o livro traz outros elementos do folclore: a Mula-sem-cabeça, a Cuca, o Lobisomem, a Iara, o Boitatá, o Negrinho do Pastoreio.

É uma lição de Brasil para as crianças. Mas é principalmente para os adultos que insistem em ver superioridade na cultura importada dos países imperialistas.

Há um século, Monteiro Lobato tornava esse personagem negro e indígena, ou seja, brasileiro, o herói de seu livro infantil, que se tornou uma obra-prima e um bastião da defesa da cultura nacional.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.