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Racismo

O racismo gerou o capitalismo?

O fim da luta: o importante é reverter a ideia que se tem do negro, reverter a concepção do opressor, para que ele seja bom com os negros

Texto recente do sítio Geledés, reproduzido da Folha de S. Paulo, anuncia a publicação no Brasil de um livro escrito por Charles W. Mills, cuja tese é a de que não existe “contrato social, mas um contrato racial”, que permite a exploração do negro pelo branco. Em resumo, é a tese tão repetida pelo identitarismo de que não existe classes sociais, mas apenas a questão da raça.

A tese é o pano de fundo da atuação de toda esquerda identitária, que não enxerga a luta de classes, sequer entende isso, e se apoia em teorias raciais para justificar a opressão que vive o negro, tal como descrito neste artigo. Um atraso quase secular na concepção da luta do negro.

“A exploração do branco sobre o não branco é a base da sociedade atual. Base comprovada pela história, com a colonização e a escravização de povos africanos e que também se materializa em estatísticas — o poder econômico e político se concentra na mão de poucas pessoas. As brancas”.

Aqui o texto começa com uma afirmação abertamente antimarxista, anticientífica. É uma negação completa de todo o estudo evolutivo da luta de classes e do próprio capitalismo, atribuindo uma condição natural de opressão. O negro foi escravo e é oprimido hoje em dia pelo simples fato de ser negro. Nada teria a ver com o aspecto econômico, o desenvolvimento do capitalismo, etc. É uma teoria racial, que atribui ao negro uma característica natural para ser oprimido. Nesse sentido, é uma teoria racista. 

A base do artigo é o livro de Charles W. Mills, chamado “O Contrato Racial”. Lançado em 1997, chego ao Brasil neste ano e já assanhou toda a esquerda identitária.

O artigo cita trechos do livro, como este: “Supremacia branca é o sistema político não nomeado que fez do mundo moderno o que ele é hoje”. Esse sistema, segundo cita o texto, foi estabelecido no Século XV, na época das grandes navegações. A ideia é tão absurda que sequer leva em consideração, por exemplo, que os Portugueses e os Espanhóis, as primeiras grandes potências das navegações, são povos considerados os “negros da Europa” por causa da colonização dos mouros, que durou séculos na Península Ibérica. Nesse sentido, o tal do “contrato racial” teria sido feito por pessoas menos brancas do que a maioria dos europeus, como seria isso? Pela lógica do “contrato racial”, deveriam ter sido os alemães e ingleses a se lançarem no oceano, mas inicialmente não foram eles. A ideia, além de ser ilógica, demostra um completo desconhecimento da história. Os brancos se alçaram como supremacistas após o desenvolvimento do capitalismo, cujo dinheiro, produção e seus meios, ficaram nas mãos de brancos. 

É apresentada a tese esdrúxula do contrato racial, em oposição a já conhecida e também esdrúxula tese do contrato social apresentada por outros intelectuais. Mills afirmaria que o contrato racial é que é real, não o social. A hierarquia racial teria sido instalada antes mesmo da compreensão de raça ou racismo. 

Para subsidiar essa tese, o artigo apresenta uma declaração de Lia Vainer Schucman, de que “a raça nasceu para dar significado às relações de poder que se estabeleceram ao longo da história, ela só surge no século 19”, que é autora do livro: “Branquitude: Diálogos sobre Racismo e Antirracismo”.

A tese, defendida pelos identitários, é que o contrato racial naturalizou a ideia de que a sociedade é divida em brancos, que possuem direitos, e os negros, que não possuem direitos, tal como acontece com os que são cristãos e os que não o são. 

É esse “contrato racial”, essa “naturalização” é que justifica o domínio da Europa em todo mundo, o que, por sua vez, cria privilégios para os brancos e cria uma hierarquia racial nos países todos. 

“Todos sabem do contrato, mas afirmam não saber”, diz o texto citando Schucman. A sociedade toda, diz o texto, está baseada no racismo, e não na luta das classes sociais. Isso levaria  Isso torna palatável a ideia de que a sociedade como existe hoje é baseada no racismo

A exploração econômica se ampara nestes mecanismos simbólicos, naturalizados. A beleza, bondade e inteligência são atribuídos aos brancos, e não aos negros. E tudo isso faz parte do contrato racial. 

Os negros em posição de algum destaque serve, não para refutar essa tese, mas para mascarar o contrato racial existente. 

Antes de mais é preciso dizer que não há contrato nenhum, nem social, nem racial. Ninguém assinou nada, ninguém aceitou e nem aceita nada. O que existe é a luta de classes e seu desenvolvimento. A ideia do contrato social, desenvolvido por filósofos como Rousseau, é uma tentativa de explicar abstratamente o funcionamento da sociedade e do Estado. Mas não há esse contrato no sentido que tentam explicar, o que há é a luta de classes.

Em alguns países, na maioria deles, esse desenvolvimento da luta de classes tornou o negro em trabalhador, e, como tal, explorado pelo capitalismo. É o que ocorre no Brasil. 

A tese falha ao não analisar, por exemplo, a opressão que negros sofrem de outros negros em países africanos, por exemplo. Lá, a luta de classes fez com que o negro trabalhador seja oprimido, e duramente oprimido, por outros negros. Se esses países são majoritariamente negros, é natural que negros estejam nos postos de opressão, o que explica isso senão a classe social? O problema, ao final, é o problema de classe, do regime econômico, do capitalismo. É daí que surgem as ideias racistas, e não o contrário. 

Não fosse assim, teríamos que pensar que os brancos possuem um desejo particular psicótico de oprimir os negros, somente por se sentirem superiores, e, assim, criaram e desenvolveram o capitalismo com essa ideia. Isso seria uma concepção idealista, religiosa da sociedade.

No Brasil, em razão da escravidão, o povo negro ocupa um estrato inferior dentro da própria classe trabalhadora. As ideias racistas que existiam no regime da escravidão acabaram por se adaptar à nova realidade econômica, em que o negro, embora não fosse mais escravo, ainda era o setor mais vulnerável da sociedade.  

Mills afirma, de acordo com o texto d Geledés, que o contrato racial beneficia todos os brancos. Falso. O branco pobre é tratado como se negro fosse. Mesmo que exista uma diferenciação aqui e acolá no tratamento geral, a realidade que o pobre, branco ou negro, sofre é tal qual qualquer oprimido. Haveria ainda os orientais oprimidos, os índios, enfim, o branco teria um ódio natural contra esses povos e desenvolveram um sistema que sirva não ao lucro dos capitalistas, mas à exploração racial. 

Obviamente que a tese do “contrato racial” faz com que a reivindicação seja para que o racista pare de ser racista. Que o rico pare de ser rico. É uma reivindicação de esmola, e que abandona o caráter ativo e revolucionário da luta do povo trabalhador, que no Brasil é de maioria negra. 

Fernando Baldraia, historiador e editor do livro de Mills no Brasil, citado no texto do Geledés, afirma: “quanto mais recursos uma pessoa tem, mais ela pode renunciar para que uma pessoa não branca ocupe aquele lugar. Redistribuir riquezas significa redistribuir poder”. Não é luta, é altruísmo, abnegação, o apelo à consciência do opressor para o desprendimento. 

Essa concepção, apresentada como grande novidade, na realidade é um atraso gigantesco na luta do negro. É uma concepção primitiva da questão racial. Concepção que já teve Marcus Garvey (1887-1940) e mesmo Malcolm X (1925-1965) como defensores. Porém, Malcolm X evoluiu. Pouco antes de ser executado, relata em sua autobiografia que esteve na África e compreendeu que a luta era muito maior que a questão racial, que era preciso uma luta revolucionária para pôr abaixo o regime capitalista. Talvez por isso tenha sido assassinado, inclusive foi morto por outros negros, infiltrados, a mando do governo norte-americano. 

As saídas raciais para o racismo levaram às teses de volta à África, não miscigenação, enfim, às mais variadas e malucas ideias para acabar com o racismo, mesmo que só na aparência. Mas isso é passado, o movimento negro já tinha superado essa questão. Quem está requentando estas teses, e com um interesse bem definido, é o imperialismo.

O importante é reverter a ideia que se tem do negro, reverter a concepção do opressor, para que ele seja bom com os negros, abra mão de seus privilégios só por empatia. Simplesmente algo que nunca aconteceu ao longo da história do mundo. 

É uma tese que não coloca a luta consequente contra o regime de exploração, ou seja, contra o capitalismo e seus regimes políticos. Não colocar a necessidade de mobilização e organização. É uma tese que abandona a luta pelo poder para pedir, implorar, mendigar que os opressores deixem de ser opressores.

O que fez nascer o racismo e suas manifestações subjetivas foi a situação social do povo negro, sua miséria total. Povo que é massacrado nos mais variados países, como parte fundamental da classe trabalhadora. É esta situação que deve ser combatida, se preciso for, pela força, pela luta revolucionária.

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