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Não é luta

O que é o identitarismo? – parte 1

O identitarismo não é um movimento de luta real

No último domingo, dia 17 de setembro, o portal de esquerda, Brasil 247, publicou uma coluna intitulada: identitário não é quem defende pessoa negra no STF, mas quem naturaliza o status quo excludente, escrita pelo articulista Jeferson Miola. A coluna é um exemplo perfeito do identitarismo e de seu caráter de classe, uma teoria burguesa, adotada pela pequena burguesia dita progressista (o que não é o mesmo que esquerda, e a cada dia menos). 

Confundir para governar

O texto é repleto de truísmos, obviedades, para mascarar a natureza de classe de seus argumentos, então pedimos um pouco de paciência pelas citações um tanto grandes. Inicia o colunista:

Aqueles que defendem a igualdade de representação de mulheres e pessoas negras em todos os espaços da sociedade, sobretudo nos espaços da política e do poder, são rotulados de maneira errada e depreciativa como ‘identitários’, como se a busca da igualdade fosse um pleito particularista em conflito direto com a perspectiva universal de representação” (grifos nossos).

Palavras difíceis e uma estrutura confusa são outra forma de encobrir a falta de argumentos. Destrinchemos os trechos grifados: os que defendem a representação, ou seja, um seleto grupo de pessoas, sobretudo nos espaços de poder, nos locais de privilégio da sociedade capitalista, burguesa, são definidos pelos críticos do identitarismo como particularistas (individualistas), em conflito com uma perspectiva universal de representação, traduzindo, uma libertação coletiva, em que todas as pessoas de fato se façam representar.

Bom, naturalmente que uma mulher negra em algum espaço de poder não altera em nada a condição das mulheres negras de conjunto, a não ser de maneira muito subjetiva, superficial, ou seja, dá uma falsa ideia de igualdade. Enquanto esses representantes se elevam a altos cargos com gordos salários, as condições da maioria da população explorada, o que inclui mulheres e negros, permanece inalterada.

Na realidade, devido ao aprofundamento da crise capitalista, a condição de vida desses setores piora. Exemplos não faltam: hoje se vê uma variedade muito maior nas telas da televisão e em todas as mídias, no entanto, a polícia está assassinando mais pobres e negros, o encarceramento cresce, a pobreza se espalha.

O caso de uma das mulheres mais poderosas do mundo, negra, a vice-presidente dos EUA, como exemplo de seu passado, é uma promotora, que, quando advogada geral do estado da Califórnia, lutou contra decisão da Suprema Corte que determinava a redução da população carcerária estadual através da soltura de presos julgados como apresentando perto de nenhum risco. Atualmente, ela atua como figura de proa do maior inimigo dos explorados, o governo dos EUA.

A defesa, portanto, de tal representação, se faz para encobrir a necessidade de uma luta encarniçada contra o sistema econômico que determina o esmagamento de todos os trabalhadores, incluindo negros e mulheres, por óbvio. Ao invés de lutar contra as instituições que chacinam e encarceram a classe operária, que condenam os pobres à miséria, seria preciso lutar para dar um rosto negro, fazer um black face, nestas mesmas instituições, sem modificá-las, de fato, em nada.

Dominação de classe existe?

O autor então cita algumas passagens de um livro, que reafirmam sua própria confusão:

“As relações na sociedade são relações de poder entre diferentes grupos sociais. ‘Cada grupo é diferente dos demais e constitui em muitos casos essa diferença com base na exclusão e subordinação dos outros grupos’.”

Aqui temos a ideia dos pequenos poderes, isso é, não existe uma classe que domina toda a sociedade, mas várias pequenas dominações por toda a sociedade, que se somam umas às outras. De tal maneira, se reforça uma luta de indivíduos, cada um com suas pequenas opressões, sendo os mais oprimidos aqueles que devem ser erguidos (simbólica e individualmente) ao topo da sociedade, o que, na prática, quer dizer que devem ser colocado nas funções de esmagar os pobres, mas com variedade de cor e gênero, como numa boutique.

A confusão é tanta que argumentos básicos são contraditórios:

“Para o autor argentino, ‘se a particularidade se afirmar como mera particularidade, numa relação puramente diferencial com as outras, estará sancionando o status quo das relações de poder entre os grupos’.

“Foi isso o que aconteceu no apartheid sul-africano, onde a particularíssima ‘superioridade’ da elite branca minoritária foi evocada para subjugar e inferiorizar politicamente a esmagadora maioria negra.”

Ora, se uma particularidade se afirma como apenas uma particularidade, uma diferença simplesmente, por óbvio que ela não reforça nada. Como coloca o próprio autor, a particularidade da pele foi tida como superioridade no apartheid, não como uma particularidade.

E o capitalismo não é questionado

“Essa não é uma discussão meramente teórica, porque os efeitos concretos de regimes segregacionistas são devastadores: negam direitos fundamentais a todos; direitos que deveriam ser universais”.

“A exclusão de mulheres e negros é uma perversão que carrega muitas outras perversões. Esses segmentos, que são permanentemente bloqueados e sabotados, apesar de majoritários, são rotineiramente interditados para o exercício de postos proeminentes em todas áreas”

A maioria da população, a maior categoria, a classe trabalhadora pobre no geral não é levada em conta. É possível, sob o regime de classe da burguesia, libertar toda a população? O que fazer com os milhões de mulheres e negros na rua da amargura? Haverá cargos de poder para todos? E isso não se restringe a mulheres e negros, mas a todos os pobres.

“Quando a igualdade de direitos é assegurada a todos integrantes da sociedade, a particularidade de raça, gênero ou de qualquer outra identidade se reconhece e, ao mesmo tempo, se dilui no exercício de uma cidadania universal, além de ricamente diversa e plural.”

E que igualdade de direitos se irá garantir com um punhado de colorido na classe dominante e nos altos cargos que ela proporciona aos mais obedientes de seus servos? Nenhuma igualdade de direitos. Tal representação é uma fachada.

“Não é isso, contudo, o que acontece no Brasil, uma nação marcada pelo apartheid racial e pela exclusão das mulheres. As maiorias sociais brasileiras –53% mulheres e 56% de pretos e pardos– são inferiorizadas politicamente, o que é uma mancha racista e misógina vergonhosa.

Esta vergonha estampa a fotografia da Câmara dos Deputados”.

Novamente, o ponto central é oculto por Miola. Ao invés de questionar o próprio sistema eleitoral, onde o dinheiro dita as regras no geral, o colunista afirma que o fundamental seria a etnia e o gênero dos candidatos (não se importando com a quantidade de operários ou camponeses na Câmara, que é um tanto menor). É importante notar que a política dos eleitos também é ignorada pelo articulista, nota-se que isso, a parte fundamental, que define a vida do povo, é irrelevante. A coluna poderia estar numa seção de estética, pois de fato é dedicada exclusivamente não à política, mas à maquiagem. E segue:

“Portanto, é desonesto e ignorante taxar de identitário quem defende a representação universal e igualitária das maiorias –mulheres e pessoas negras– em relação às oligarquias dominantes brancas e masculinas que, apesar de minoritárias, exercem ferreamente o poder.

“Identitário, no caso brasileiro, é quem pertence à minoria branca [44%] e masculina [47%] mas, mesmo assim, ao longo de mais de 500 anos continua impondo a supremacia da sua identidade enquanto poder dominante sobre as reais maiorias sociais.”

Ou seja, o identitário afirma que defender a estrutura burguesa de poder, mas exercida por mulheres e pessoas negras, seria uma luta real das mulheres e negros, que se mantém, apesar do avanço “representativo”, nas mesmas condições de sempre.

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