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Pesquisa de opinião

O povo brasileiro é de direita?

Conservador nos costumes? Sim. De direita? Não. Pesquisa mostra que a maioria do povo brasileiro é contra as privatizações.

Entre 22 e 29 de agosto foi realizada a pesquisa de opinião pública “A Cara da Democracia”. Feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), com financiamento do CNPq, Capes e Fapemig, a pesquisa concluiu que 22% (aproximadamente 1/5) da população brasileira se considera de direita. Por outro lado, apenas a metade (11%) se diz de esquerda. Ademais disto, foi constatado também que a maior parte da população brasileira possui opiniões conservadoras sobre questões políticas e culturais.

Ao noticiar, a imprensa burguesa pintou um quadro como se o povo fosse de direita, o que é uma manipulação dos dados.

Pois bem, dos brasileiros entrevistados, 79% são contra a legalização do aborto. 70% não querem a descriminalização do uso de drogas. No que diz respeito ao casamento civil de pessoas o mesmo sexo, 46% são a favor, enquanto que 44% contra. Contudo, cumpre informar que o número dos que são contra aumentou em 2% de 2022 para 2023. No mesmo sentido ocorre com a adoção de crianças por um casal gay. Apesar de 53% serem a favor, e 39% serem contra, o número destes últimos aumentaram, enquanto que os dos primeiros diminuíram.

Por outro lado, apesar do alto percentual dos entrevistados que se colocam contra o aborto, deve ser frisado que a maioria (59%) não concorda com o encarceramento de mulheres que interrompam a gravidez. O que mostra uma rejeição ao sistema carcerário e à repressão como um todo. Uma posição progressista e historicamente de esquerda, mesmo que o entrevistado se considere de direita.

Algo semelhante ocorre com a redução da maioridade penal. Embora a maioria dos entrevistados se mostrem a favor, esse número diminuiu em quase 20% nos últimos 5 anos (de 81% para 65%). Novamente, um aumento da rejeição à repressão. Uma posição progressista que vem crescendo.

Mas a pesquisa não se limitou a inquirir sobre questões de costumes ou políticas. Buscou aferir também o posicionamento da população no que diz respeito aos rumos da economia do país. Assim, questionou se os entrevistados seriam favoráveis ou não às privatizações no setor público. A maioria (59%) rechaçou a política privatista. De todos os dados, este é, possivelmente, a pedra de toque para se aferir a correção da tese de que a população é de direita.

Bom, antes de se tirar conclusões a respeito desses dados, cumpre relembrar que essas pesquisas devem ser sempre avaliadas com ressalva. Não há clareza em como elas são conduzidas, quem são os entrevistados, os dados demográficos etc. Ademais disto, é uma pesquisa sobre o controle da burguesia. Então se deve sempre ser um tanto cético.

Ressalvas feitas, quais as conclusões?

Bom, primeiramente, os dados parecem estar conforme à realidade. É bem notório que o povo brasileiro, em geral, é conservador em seus costumes, afinal, a maioria da população é religiosa, sendo adepta do cristianismo. Nesse sentido. É natural a diminuição do apoio (e aumento da rejeição) ao casamento de pessoas do mesmo sexo e adoção de crianças por elas. No mesmo sentido, é compreensível a rejeição ao aborto e a liberalização das drogas. Embora o aborto seja uma questão política fundamental para a libertação da mulher, ele tende a aparecer como uma questão de costumes, dada a religiosidade do povo.

No entanto, a questão dos costumes não é a questão fundamental para se aferir se alguém é de direita. E qual seria? As questões políticas referentes à repressão e, principalmente, a questão econômica. Nesse sentido, embora a maioria da população seja conservadora em relação aos costumes, ela tende a rejeitar a repressão por parte do Estado burguês. E rejeita claramente a política de privatização, política da burguesia para roubar o trabalhador de forma mais direta.

Assim, não se pode concluir que a população seja de direita. É uma manipulação dos dados, feita pela imprensa burguesa. Afinal, se o povo fosse de direita, seria a favor das privatizações. E o apoio à repressão não estaria diminuindo.

Mas a pesquisa não mostrou que 22% dos entrevistados se declaram de direita, enquanto apenas 11% são de esquerda? Sim. Mas isto também não significa que essas pessoas realmente sejam de direita, nem que as outras sejam de esquerda. Afinal, já dizia Marx, “não se julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio”.

A identificação com a direita se dá em relação aos costumes. O povo é conservador nos costumes. E a esquerda não sabe abordar essa questão corretamente. Nesse aspecto, ela trata o povo de forma ditatorial. Tomada pelo identitarismo, a maioria da esquerda tenta promover uma mudança forçada nos costumes do povo. Isto afasta o povo da esquerda.

Sendo a maioria da população religiosa, a política da esquerda não deveria ser de choque. Aquilo que ela acha que é errado, deveria estimular a mudança por meio de exemplos positivos. Em questões como o aborto, a esquerda deve defender incondicionalmente o direito, sem abrir mão de seus princípios para fazer demagogia com população mais conservadora. Mas a defesa deve ser através de uma campanha política, de esclarecimento, de mobilização dos trabalhadores por seus direitos. Não pode ser uma campanha de censura, pois só serve para jogar os trabalhadores nos braços da extrema-direita.

No fim, o que a pesquisa mostra é apenas que o povo brasileiro tende a ser conservador nos costumes. Concluir que a população é de direita é uma interpretação errada. E a esquerda que embarcar nisto, acabará por se afastar mais ainda do povo.

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