Assim o Brasil de Fato, ao analisar a última cúpula dos BRICS, falou sobre o petróleo: “o bloco abraçou países que são conservadores e têm economias baseadas em exploração de petróleo, tendências que vão na contramão de pautas contemporâneas importantes, como direitos das mulheres e combate às mudanças climáticas.”
A questão do conservadorismo e do direito das mulheres não é o tema do nosso artigo, embora seja preciso dizer: tal ideia é uma repetição da propaganda que faz o imperialismo sobre os países dos BRICS. Contudo, vamos nos ater ao que está dito sobre o petróleo.
Segundo a consideração do artigo do Brasil de Fato, a exploração de petróleo vai na contramão de “pautas contemporâneas”. O que seriam tais pautas? Pouco se explica, mas devemos supor que seria o “combate às mudanças climáticas”.
Essa posição não é uma exclusividade do Brasil de Fato. A discussão, nesses mesmos termos de “pautas contemporâneas”, aparece nos principais jornais da burguesia. Aparece também na propaganda estrangeira. Sem muito esforço, podemos fazer uma pesquisa na internet e encontrar dezenas de sites de ONGs internacionais e outras organizações defendendo exatamente essa ideia.
A ideia é tão presente que já virou objeto de crise governamental. É com esse mesmo argumento que o IBAMA, comandado pelo Ministério do Meio Ambiente de Marina Silva, embargou as pesquisas para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Mas seria mesmo o petróleo uma “pauta ultrapassada”? Acredite quem quiser.
Vejamos o caso do Gabão. O país é um grande exportador de petróleo e membro da OPEP. Suas jazidas foram descobertas em 1970 e representam 45% do PIB do país e 80% das exportações. O país, mesmo com uma população minúscula, de apenas dois milhões de habitantes, é o quinto maior produtor de petróleo da África.
O “produto ultrapassado” faz com o Gabão tenha uma renda per capita em média quatro vezes maior do que os países vizinhos.
Não fosse o petróleo, a situação do país seria muito pior. E é importante dizer que esse petróleo, assim como o conjunto da economia, não é controlado pelo povo. O imperialismo rouba a riqueza da população. Eis um dos motivos do golpe nacionalista. Se ele resolverá o problema, apenas o tempo dirá.
De qualquer modo, está claro que nenhum país do mundo pode prescindir do petróleo. Os que têm querem controlá-lo, o que não tem, querem roubá-lo. O caso brasileiro é bem significativo porque enquanto Marina Silva atrasa as pesquisas de petróleo na Margem Equatorial, usando argumentos como o de “pautas ultrapassadas”, argumento divulgado pelo imperialismo, a França outros grupos petrolíferos imperialistas estão sugando o petróleo ali na vizinha Guiana Francesa.
Está claro que o petróleo não apenas não é coisa do passado, como o mundo continua se movendo em torno dele. Por isso, o imperialismo quer roubar o petróleo do mundo e os países pobres querem proteger o seu petróleo. A nova configuração dos BRICS mostra um problema sério para o imperialismo, já que os países membros detêm boa parte da produção petrolífera mundial.
Por isso, o imperialismo precisa inventar uma ideologia para convencer o povo que o “petróleo está ultrapassado”, enquanto eles roubam os países, deixando o povo na miséria, como é o caso do Gabão. Funciona mais ou menos assim, e estamos vendo isso bem claramente no caso do Brasil, o imperialismo diz: “isso é ultrapassado, então pode deixar com a gente”.