Gilo Fezzo é o nome artístico de Gilberto Ferraz Covas, nascido nos arredores de Havana em 1979. Quando era criança, Cuba ainda contava com a ajuda da URSS e do bloco do Leste Europeu e Gilo adorava comer doces e guloseimas, principalmente laticínios. A sorveteria Coppélia oferecia mais de 40 sabores. Na escola, os melhores alunos eram premiados com doces.
De repente, uma tragédia se abateu sobre as crianças cubanas. A URSS caiu e o bloqueio econômico dos EUA, que impede Cuba de fazer comércio com o mundo, se intensificou.
Gilo passava meses sem tomar sorvete. Ficou quatro anos sem tomar iogurte. Um dia, quando foi à casa de uns amigos, lhe ofereceram iogurte de soja, que era uma novidade em Cuba, como alternativa ao leite que faltava. Gilo sentou à mesa, pegou o copo com iogurte e provou. Quando deu o primeiro gole, ficou petrificado. Colocou o copo sobre a mesa e, olhando para o nada, de olhos arregalados, permaneceu como se tivesse sofrido um piripaque. Ficou maravilhado com o sabor e, quando voltou a si, encheu novamente o copo e tomou mais iogurte. E mais. E outra vez. Foi como se sua vida tivesse se transformado. Sentia falta de algo saboroso.
Ele me mostra seus dentes deteriorados. Passou um ano sem pastas de dente na adolescência. Os professores desapareciam porque os problemas de saúde os impediam de dar aula. Os hospitais caíam aos pedaços. Não havia mais papel para imprimir cadernos e apostilas nas escolas, nem grafite para os lápis. Cortava-se caixas de papelão para fazer cadernos improvisados e carvão para substituir o grafite. Imagine escrever com carvão em um pedaço de papelão! Assim as crianças faziam a lição de casa. Mas o papelão e o carvão também acabaram. E, de tão raros, se tornaram preciosos. O papelão e o carvão eram agora o prêmio de melhor aluno para aqueles que antes recebiam doces. Gilo não consegue conter as lágrimas ao recordar sua infância. “O bloqueio é uma guerra de extermínio contra nós.”
E a guerra continua. O Coppélia agora oferece apenas quatro sabores.