O julgamento que visa tornar inelegível o ex presidente Jair Bolsonaro está deixando bastante animada boa parte da esquerda, entretanto é preciso dizer que caso Bolsonaro venha a se tornar inelegível, esse fato não ajudará a esquerda em absolutamente nada, muito pelo contrário, a força do bolsonarismo provavelmente só irá aumentar já que se trata de uma perseguição política.
Não faltam motivos reais para tornar Bolsonaro inelegível, ele poderia, por exemplo, ser acusado de crime de lesa-pátria por haver entregue de mão beijada para os delinquentes que faliram as Lojas Americanas todo o sistema Eletrobrás ou por haver condenado cerca de um milhão de brasileiros à morte durante a pandemia do Covid 19, chegando inclusive a planejar um projeto de imunidade de rebanho no Amazonas onde as pessoas morriam asfixiadas nos hospitais por falta de oxigênio.
Entretanto, não é por nenhuma dessas razões que Bolsonaro está sendo considerado um criminoso, até porque se assim fosse seria necessário voltar um pouco a lista e condenar não só à inelegibilidade, mas a uma pena muito maior figuras que conseguiram ser ainda mais criminosas do que Bolsonaro, como Michel Temer e principalmente o príncipe do neoliberalismo, o homem que condenou durante seu governo à morte mais de 300 crianças por dia, o pior presidente que esse país já teve, Fernando Henrique Cardoso.
Entretanto, o TSE persegue o Bolsonaro por declarações dadas por ele em uma reunião com Embaixadores, na qual questiona a validade e eficiência do sistema eleitoral brasileira. Prática que não é crime e muito menos é razão para que alguém perca todos os seus direitos políticos. Criticar o sistema eleitoral é, na verdade, um direito de todo cidadão numa democracia.
Trata-se, portanto, de um julgamento evidentemente político, por mais que o ministro Alexandre de Moraes queira transformar a eficiência e lisura das urnas eletrônicas em um dogma no qual todos os brasileiros devem acreditar e aceitar sem o direito de questionar, não existe amparo legal para isso, o juiz do STF está agindo de forma completamente ditatorial.
O exemplo dado pelo caso Donald Trump
A esquerda deseja se livrar do bolsonarismo sem uma luta séria contra a política bolsonarista e para esse fim se apega a instituições como o STF, que aparecem na imprensa burguesa como o último bastião da luta contra o bolsonarismo. Uma tremenda falsificação.
O exemplo de Donald Trump nos EUA, outra liderança da extrema-direita a ser perseguida judicialmente, mostra que a perseguição jurídica não é uma fórmula para abaixar a popularidade de um candidato, mas que, pelo contrário, só irá fazê-la aumentar.
O candidato norte-americano, mesmo sofrendo diversas acusações de natureza criminal e cível, é disparado o candidato favorito nas primárias do partido Republicano onde as pesquisas indicam que teria mais de 53% dos votos contra 26% do segundo colocado e ao nível nacional ganharia do candidato do partido Democrata Joe Biden por 49% dos votos contra 42%.
Além disso, está evidente que a burguesia torna Bolsonaro inelegível porque tem a intenção de colocar alguém ainda pior em seu lugar. Segundo a própria imprensa, já há articulações para o apoio a Tarcísio e Zema, ou até Eduardo Leite, eleito no Rio Grande do Sul com ajuda da esquerda. Qualquer um desses seria um político burguês puro sangue, disposto a fazer todo o tipo de maldade que fosse colocado a eles pelos banqueiros e capitalistas. Seriam, portanto, ainda piores do que Bolsonaro.
A ditadura do judiciário
Todos os dias milhares de brasileiros vão para a cadeia devido a decisões completamente arbitrárias do judiciário. Trata-se do poder mais anti-democrático da república. Nenhum de seus representantes são eleitos, sendo eles os mais suscetíveis à pressão da burguesia, já que não devem satisfação ao povo.
Direitos elementares como a liberdade de expressão e o direito de greve já foram praticamente suprimidos da população. Portanto, não é possível, não é razoável, entregar ainda mais poder, dar carta-branca para cometer ainda mais arbitrariedades para um órgão já tão corrompido, ditatorial e arbitrário como o judiciário. E apoiar o julgamento contra Bolsonaro sobre a base de um crime inexistente é fazer exatamente isso. A esquerda não deve apoiar um “vale-tudo” jurídico contra seus inimigos, já´que isso irá, inevitavelmente, se virar contra a própria esquerda e contra os trabalhadores.
