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Vinícius Rodrigues

Militante do Partido da Causa Operária no Rio de Janeiro e membro da Direção Nacional da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

Ensaio sobre o teatro

O identitarismo é a supressão da arte

A ideologia identitáira tem um efeito terrível na luta política, mas seu efeito na cultura é ainda pior, é uma negação da própria arte

Fazia um tempo que eu não ia ao teatro, uma das atividades culturais mais agradáveis a serem feitas no Rio de Janeiro. Ontem me convidaram para assistir à peça “Chega de Saudade” sobre a Bossa Nova. A princípio, fiquei animado, um espetáculo com música brasileira no teatro do tradicional prédio da TV Manchete em frente ao Aterro do Flamengo, até descobrir uma triste realidade: a peça tinha uma interpretação crítica identitária da Bossa Nova, apenas com atores negros. Ao fim da peça a sensação foi agridoce, o que infelizmente, me surpreendeu positivamente. 

Os protagonistas da peça eram os famosos músicos Nara Leão, Silvinha Teles, João Gilberto, Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal, todos interpretados por atores negros. Uma boa parte deles não só atuavam como cantavam e tocavam instrumentos. Nesse quesito o elenco tinha muita qualidade, os arranjos musicais eram muito bonitos. Além disso, a produção foi belíssima. Havia uma projeção com a gravação dos próprios atores em um estilo retrô, preto e branco. Isso compunha com os atores ao vivo foi um dos pontos mais bonitos da peça. 

Por essas, e outras questões, ficou claro que o espetáculo tinha um enorme potencial, mas ele foi decapitado pelo identitarismo. Para além dos atores que interpretavam os músicos da Bossa Nova, havia uma diretora do “filme”, que, na prática, era quase uma narradora. Esse era o foco da campanha identitária. Em determinado momento ela chegou a cancelar Vinicius de Moraes por usar mulata em sua letra. Outro ponto baixo foi quando ela considerou Nova Iorque um paraíso para a mulher negra brasileira. Para os que não aguentam mais o identitarismo, seu texto doía os ouvidos. E parece que havia até uma consciência disso, pois em determinado momento ela pergunta: “o texto é militudo demais?”, quando outro personagem responde que sim.

Mas analisando de forma geral o grande problema foi a postura em relação à Bossa Nova. A ideia, colocada de forma muito confusa, é de que é um estilo musical racista. Que desvaloriza grandes artistas negros como Alaíde Costa, Clementina de Jesus, Ivone Lara, etc. Ela ataca figuras como João Gilberto, Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Na verdade, eles são esculhambados por sua “branquitude”. É uma peça anti-Bossa Nova, ao mesmo tempo que seria uma homenagem à Bossa Nova. De certa forma, a peça é a negação de si mesma. Ela é uma expressão clássica do identitarismo na cultura, um ataque principalmente à cultura brasileira.

O que deixou a sensação agridoce foi ver o potencial dos artistas brasileiros sendo desperdiçados. Mesmo que a peça fosse quase idêntica, apenas com atores negros representando os grandes nomes da Bossa Nova, ela poderia ser uma grande obra. Bastaria parar com a loucura identitária e retratar a Bossa Nova, mesmo que de forma crítica, com uma crítica autêntica. A falsa crítica identitária forjada nas universidades dos EUA só consegue destruir a cultura, tal qual foi feito com a ópera Guarany, por Ailton Krenak. Os monopólios são os grandes inimigos da arte. Está só poderá ser de fato autêntica quando estiver livre do controle dos editais e patrocínios da burguesia. 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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