Os atos bolsonaristas do dia 8 de janeiro foram muito mal interpretados pela maior parte da esquerda nacional. Alguns setores apresentam a versão de que a perseguição dos manifestantes (chamados pela imprensa burguesa de “terroristas”, alcunha que a esquerda também resolveu adotar) seria a solução para conter o movimento que procurou desestabilizar o governo nesse começo de mandato. Outros setores têm a compreensão de que o ocorrido foi uma ação comandada pela cúpula dos militares, mas interpretam de forma totalmente errônea o ocorrido, afirmando que seria um golpe de estado mal-sucedido.
Essa interpretação, que foi elaborada por diversos articulistas da imprensa dita “progressista” implica numa conclusão extremamente prejudicial, que é a de que o momento é de defensiva dos bolsonaristas e militares, e de ofensiva do governo e da esquerda. O raciocínio seria de que o golpe foi frustrado, os bolsonaristas derrotados, então o governo Lula pode partir para punir os responsáveis, alguns falam até em “colocar os militares no banco dos réus”.
Em conjunto com isso está a propaganda extremamente negativa de que as ações punitivas de Alexandre de Moraes contra os setores menos fundamentais e poderosos dos bolsonaristas irão ser o suficiente para desmontar todo o movimento. A isso se soma uma campanha histérica de perseguição contra todos que fizerem qualquer tipo de crítica ao ministro. Exemplo disso é a comemoração do recente bloqueio do Twitter de Monark e a campanha de calúnias contra o jornalista Glenn Greenwald.
Apesar de todas as evidências terem mostrado que a ação dos bolsonaristas foram bem-sucedidas (conseguiram invadir as três sedes do governo), a esquerda insiste em defender que o movimento foi derrotado, os responsáveis serão punidos e o governo Lula sairá fortalecido de toda essa crise. No entanto, é preciso explicar de onde virá essa força e como ela se manifesta na atual situação. O que se viu foi um governo acuado e derrotado, sem saber como reagir à ofensiva da extrema-direita.
As punições que estão sendo aplicadas aos manifestantes, o afastamento de Ibaneis Rocha, a prisão de Anderson Torres e de outros bolsonaristas de menor importância, tudo isso não passa de jogo de cena feito para dar a ideia falsa de que o regime segue funcionando de forma normal.
No fim das contas, a conclusão que se deve tirar é que o governo Lula sai enfraquecido e atingido duramente por toda a crise. Pela falta de resposta do governo na situação de crise que se deu, os setores militares se sentirão à vontade para partir para a ofensiva e derrubarem o governo caso haja a necessidade ou uma brecha se abra.
A única forma de reagir a isso é o governo mobilizar a população através das organizações populares como a CUT e o MST, que são controladas pelo PT. Isso deve ser feito através da organização de plenárias onde o problema é discutido e apresentado para toda a população da forma mais clara possível. Apenas o povo nas ruas pode conter o avanço dos militares contra o governo.