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Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

Brasil

O estranho papo do “domínio na Liberta”

Começa a semana em que se definem as finais da Copa Libertadores da América e da Copa Sul-americana, os dois torneios de futebol mais importantes do continente

Começa a semana em que se definem as finais da Copa Libertadores da América e da Copa Sul-americana, os dois torneios de futebol mais importantes do continente, e que hoje mostram amplo domínio do futebol brasileiro sobre todos os seus vizinhos. De quatro semifinais somando as duas competições, duas são brasileiras, Inter X Fluminense na Libertadores e Corinthians X Fortaleza na Sul-americana. E, se na sula, o Brasil ficou de fora da outra semi, em grande parte por conta da ameaça de um desastre que ronda o Botafogo com a substituição do técnico brasileiro Cláudio Caçapa pelo português Bruno Lage, na Libertadores um limitado Boca Juniors enfrenta o poderoso Palmeiras, hoje o favorito ao campeonato.

O decadente futebol brasileiro, coordenado por treinadores de domínio tático incipiente, que tem seu melhor jogador atuando fora da Europa, só ganhou nove campeonatos de seleções neste século (Copa do Mundo de 2002; Copa América de 2004, 2007, 2019; Copa das Confederações de 2005, 2009, 2013; Jogos Olímpicos de 2016, 2020), quase o dobro da Argentina, que conquistou cinco torneios (Copa do Mundo de 2022; Copa América de 2019; Jogos Olímpicos de 2004, 2008; Finalíssima 2022). Seleções europeias não vale a pena contabilizar uma por uma, mas só a Espanha (Copa do Mundo de 2010, Eurocopa de 2008, 2012) e a França chegam a três títulos (Copa do Mundo de 2018; Copa das Confederações de 2001, 2003).

Quando o Brasil estava vencendo a Copa do Mundo, acusava-se o futebol brasileiro de ser incompetente nas competições de clubes, quando Palmeiras, Santos e Grêmio perdiam para o Boca, São Caetano perdia final para o Olímpia, Fluminense para a LDU, Cruzeiro para o Estudiantes. Não tinha inteligência emocional, faltava aplicação, raça, preparo etc. Agora, que a seleção nem deixou de ser vitoriosa, apenas não ganha a Copa do Mundo, os mesmos especialistas apontam que sobra para o futebol de clubes o que falta para a Seleção, que se tornou uma agremiação medíocre. 

Comandado por paladinos de terno e gravata e passaportes gringos, jogando sob as luzes das catedrais dos naming rights, o futebol ultracapitalista dos clubes brasileiros é tratado como produto da boa gestão da burguesia e das geniais estratégias dos mais letrados e civilizados senhores do primeiro mundo (ou da Argentina, que, apesar dos altíssimos níveis educacionais de seus cidadãos e do reflexo disso em seus treinadores, está tão quebrada que, cedo ou tarde, eu mesmo compro a SAF do Racing de Avellaneda em 12x no cartão). Não como resultado direto do modo brasileiro de se jogar futebol, como é a Seleção, mas como o sucesso de uma gestão multinacional com trabalhadores brasileiros.

Não demorará a se consolidar o discurso de que o futebol brasileiro se tornou um futebol de clubes, como uma Inglaterra que tem sua Premiere League na América do Sul, e restrita a este cantinho do mundo. Nesse sentido, o futebol brasileiro não será mais único no planeta, Pelé já não será o maior da história (outro dia, o bom jornalista Bruno Formiga destilava um argumento aquém de sua capacidade ao dizer que Pelé não deve ser o melhor, porque ocorreu há 50 anos e nenhum atleta de 50 anos atrás é o maior de seu esporte, já que ninguém o viu para ter comparação. Sugiro que leia sobre Muhammad Ali e Nadia Comaneci), mas o Brasil será a potência regional da América do Sul. 

Isso tudo para argumentar que, apesar de atualmente haver certa generosidade para com o futebol brasileiro no cenário sul-americano, até com canais no YouTube com cortes das TVs gringas enaltecendo os clubes do Brasil, atentem-se para o que pode estar escondido por trás disso. O futebol brasileiro pode estar se tornando a Disney de Tokyo, ou seja, a concessão local de uma franquia internacional, sem jamais recobrar o direito ao papel principal. 

Esse discurso do “futebol dominante na América Latina” começa a encobrir a realidade sobre a Seleção mais vitoriosa deste (e do outro) século, do maior jogador de todos os tempos e do segundo maior (Pelé e Garrincha), dos maiores jogadores do mundo em quase todas as gerações (a atual, especificamente, estranhamente marcada pela perseguição a Neymar e Vini Jr. nas premiações individuais) e que só não tem o maior desempenho em clubes porque não quis, passou décadas preferindo ganhar dinheiro fazendo embaixadinhas e dando lambretas nos cantos mais longínquos desse mundo, quando Botafogo, Santos, Atlético Mineiro, dentre outros, excursionavam pelo mundo tal como o fazem, hoje, os Harlem Globetrotters do basquete americano.

Esse papo de “dominante na América do Sul” é de se abrir o olho. O Brasil é maior que isso.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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