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Ocupação ou invasão?

O disfarce da esquerda pequeno-burguesa para apoiar a repressão

Grupo Resistência, do PSOL, faz um contorcionismo argumentativo e acaba justificando a ação da burguesia contra os direitos democráticos

A esquerda pequeno-burguesa ainda não entendeu o que houve no dia 8 de janeiro. Não consegue conceber que a direita também faz manifestação política e que o problema é denunciar justamente o conteúdo político dela, e não o seu método. Mais ainda, o importante é combater a direita com os métodos da esquerda, opondo uma política a outra.

No entanto, a esquerda preferiu repetir o que a burguesia está falando. Dizem que o 8 de janeiro foi um golpe, tese que não se sustenta em nada. Não tomaram o poder, não contaram com a participação direta de uma força armada que tomasse o poder. Embora se possa dizer que os generais estivessem detrás daquilo, o ato em si não foi um golpe.

A esquerda repetiu, inclusive, a ideia de que os malucos que estavam ali eram “terroristas”, ou seja, usando uma política reacionária, que a burguesia usa contra a esquerda, para atacar aqueles manifestantes.

O Esquerda Online, jornal na internet do grupo Resistência, do PSOL, na tentativa de disfarçar a sua posição direitista sobre o problema, publicou matéria explicando a diferença entre “ocupação” e “invasão”.

Para um militante inexperiente, a distinção parece até grosseira. Rigorosamente falando, a discussão é puramente semântica. Para ocupar determinado local, é preciso invadir esse local. Quando alguém invade alguma coisa, a pessoa ocupa aquele lugar, mesmo que de modo passageiro.

O problema é que a esquerda, para travar uma luta ideológica contra a burguesia, definiu que a palavra “ocupação” é mais adequada para explicar uma ação do movimento popular. Isso porque a burguesia usa a palavra invasão pejorativamente, querendo dizer que aquele movimento estaria cometendo algum crime ao invadir.

A discussão, no entanto, não tem maiores implicações, além dessa.

Mas, a Resistência apelou para essa distinção na tentativa de provar que o 8 de janeiro realmente foi algo criminoso, como disse a própria burguesia.

Até a Revista Veja, que sempre foi de direita e contra o PT, chamou os bolsonaristas de vândalos e terroristas. Isso é bom, pois mostra que parte da classe dominante não tem coragem de seguir os delírios de Bolsonaro.

Aqui, a Resistência tira a conclusão errada do problema. A veja chamou aquilo de “terrorismo” justamente porque ela rotula assim toda e qualquer manifestação política que ela quer atacar. Existe uma oposição desse setor da burguesia aos bolsonaristas, mas daí a tirar a conclusão de que a Veja não segue uma política reacionária é um delírio da Resistência.

Mas há uma pequena armadilha na cobertura que a mídia empresarial faz dos atos de 8 de janeiro: colocar como igual o terrorismo bolsonarista e as ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

Essa “pequena armadilha”, na verdade é parte essencial do problema. A Veja usa o mesmo método de ataque contra a esquerda e os bolsonaristas justamente porque o objetivo é voltar esse ataque contra a esquerda.

A Resistência, ao invés de denunciar essa “armadilha”, que na verdade é uma manipulação pérfida da direita, acaba por reforçá-la. 

Segundo o artigo, há “grandes diferenças entre uma ocupação organizada por um movimento social e a invasão terrorista em Brasília”. Ou seja, se são os amigos do Resistência que fazem, é “ocupação”, se são os inimigos, é “invasão terrorista”. A grande pergunta que fica é: será a Resistência que vai definir isso quando os “invasores” forem os movimentos sociais? Claro que não, será Alexandre de Moraes, a Veja, a Rede Globo.

Vejamos alguns pontos levantados pela Resistência:

  • 1. “Ocupação é algo legitimado pela Constituição. O que os bolsonaristas fizeram não”

Aqui, a corrente do PSOL, que em outros tempos já se apresentou como marxista, demostra a mais completa ilusão nas instituições do Estado burguês.

É fato, como diz o artigo, que um movimento por moradia tem o direito de ocupar uma propriedade tendo como base sua função social. Mas o capitalista dono do terreno, que tem influência sobre o Judiciário, que tem autoridade sobre a polícia, não quer saber disso. Bem como a imprensa burguesa, porta voz desse capitalista. A Constituição aqui não vale nada. Erguer a Constituição federal não vai convencer ninguém.

Assim, esse movimento por moradia será chamado de “invasor terrorista” sempre que assim desejar a burguesia.

  • 2. “Ocupação pede cidadania, invasão pede privilégios”

Aqui, a Resistência troca a luta política real por uma disputa de intenções. Esse argumento não é capaz de convencer nem uma freira caridosa, imagina se vai convencer algum capitalista.

É um debate abstrato. Para entender isso basta perguntar a qualquer um dos manifestantes que estiveram no 8 de janeiro que ele responderá, sem titubear, que ele esteve lá “pela cidadania”.

Quem define o que é “cidadania” e o que é “privilégio”? O artigo continua:

A ocupação de um movimento social sempre acontece em defesa de demandas populares como saúde, educação, moradia, passe livre ou pelos direitos democráticos da população.

Mais uma vez, qualquer bolsonarista poderia dizer que sua ação é para tudo isso e mais ainda, que a eleição de Lula foi uma “fraude” para acabar de vez com todo esses direitos.

A Resistência considera o contrário, mas quem estará certo? É apenas um problema de opinião. E se é assim, então vencerá o mais forte a defender a sua opinião. Hoje a esquerda acredita que ela é mais forte, mas será mesmo?

  • 3. “Na ocupação a violência é exceção. Na invasão a violência é a regra”

Aqui, a Resistência abre uma brecha muito perigosa. Se é verdade que a esquerda não faz atos tendo como objetivo a violência, também é verdade que não dá para desconsiderar a violência como um fator potencialmente presente em qualquer manifestação política mais radical.

Ao dizer isso, a Resistência está autorizando a burguesia a tratar como criminosos, terroristas etc, qualquer manifestação da esquerda que tenha alguma violência. Mesmo que essa violência seja inventada, como ocorre muitas vezes.

Mais uma vez, a Resistência troca a realidade por abstrações. O direito real por opiniões.

  • 4. Ocupação tem pautas públicas e equipe de negociação. Invasão é para impor o medo

Mais uma vez, o argumento da Resistência é abstrato. Pode ter certeza que para aqueles bolsonaristas sua pauta era pública. E aí, quem estará certo?

Sobre ter uma equipe de negociação é uma besteira. Podem haver ocupações planejadas como podem haver ocupações em que o movimento decide realizar aquela ação na hora, por alguma questão imediata. A presença ou não de uma equipa de negociação não pode ser um parâmetro.

Ao dizer isso, na verdade a Resistência está revelando sua própria política nos movimentos de esquerda, muito conhecido pelos militantes de base, que é realizar um ato para logo depois acabar com ele, muitas vezes sem ter conquistado as reivindicações:

E a ocupação acaba quando há negociação. Em alguns casos, nem é necessário que todas as reivindicações sejam atendidas, basta que o diálogo seja aberto.

Como a Resistência é uma organização moderada, ela só concebe uma ocupação que acaba. É insuportável para o pelego de esquerda realizar uma ação mais radical, que pode se desdobrar em uma ação mais duradoura a depender da situação.

  • 5. As ocupações são uma necessidade do povo, a invasão golpista foi um capricho de gente rica

Mais um argumento feito para convencer apenas os amigos. Quem vai definir as necessidades do povo? Para uma pessoa pode ser uma coisa, para outra pode ser algo diferente. Como seria possível definir se um ato é criminoso ou não apenas com esse critério?

Falar que a ação do dia 8 foi um “capricho de gente rica” pode servir para deixar um esquerdista feliz, mas não vai convencer ninguém.

Uma parte de nossa burguesia não se contenta com o muito que já tem. Eles querem mais. Querem impor uma ditadura onde o voto da maioria não tenha valor. Querem que os movimentos sociais sejam reprimidos e proibidos de agir. Não querem nenhum direito, querem que seus caprichos sejam atendidos. E à força.

Interessante saber que, para a Resistência, só uma parte da burguesia não se contenta com o que tem e quer mais. A Resistência inventou uma outra burguesia, a burguesia que não quer lucrar. E uma burguesia que nem poderia ser chamada como tal, portanto.

A Resistência acredita que apenas uma parte da burguesia é antidemocrática e quer reprimir os movimentos sociais. Até poderíamos aceitar a ideia de que existe uma ínfima parte de uma burguesia sem muito poder que não pensa em atacar direitos, embora seja difícil de conceber tal ideia. Mas da maneira que o artigo da Resistência coloca, temos a impressão que há realmente uma burguesia que defende os direitos dos trabalhadores.

Isso explica porque a Resistência adotou o linguajar da direita, tão divulgado pela imprensa, de que as manifestações dos bolsonaristas foram “vandalismo”, “terrorismo” etc. A corrente do PSOL acredita que os setores da direita que hoje aparecem como oposição aos bolsonaristas são democráticos. Eles acreditam que a Veja, a Globo, o PSDB e outros são defensores dos direitos do povo. Justo eles, os responsáveis pelo golpe e por dar poder a Bolsonaro.

A conclusão do artigo do Resistência, diferente do que eles tentam explicar no início, é que a esquerda deveria aplaudir a repressão dos invasores bolsonaristas.

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