O desserviço da “cultura do cancelamento”

A marca própria da do marxismo, do movimento revolucionário e da própria esquerda sempre foi defender qualquer manifestação individual, coletiva, mesmo que diante do estado burguês. Sempre a defesa da opinião e a manifestação de qualquer opinião fez e deve fazer parte da luta revolucionária. Rosa Luxemburgo, uma das maiores marxistas que o mundo já viu, foi clara: “Os Social Democratas no nosso próprio país, assim como no mundo, defendem os princípios de que a consciência e as opiniões das pessoas são coisas sagradas e intocáveis”. Entende-se aqui a social democracia como a defesa do socialismo da época. Rosa Luxemburgo, uma mulher oprimida, assume uma posição revolucionária, que coloca claramente a opinião como algo “sagrado”, de intocabilidade total.

Teriam motivos os revolucionários da época para fazerem o contrário? É cabível dentro de uma sociedade de classes, já construída com seu oprimido e opressor, criar mais ferramentas para que todos se calem? E de fato, quem se cala? A revolução, a destruição da miséria, o fim das classes não passaria exatamente pela liberdade de que todos possam exprimir tudo, absolutamente tudo? Que os fascistas falem o que quiserem! Digamos para os operários que abram suas vozes, visto que a burguesia já o faz através de seus jornais diários. Falamos todos, gritemos, esperneamos em voz alta! Nasce o movimento: falei e tá dito.

Porém, a opinião de Rosa Luxemburgo, dentro de um setor da esquerda, vem sofrendo uma distorção sem tamanhos. Influenciados, ou digamos, doutrinadores por um setor da direita, essa esquerda pequeno burguesa decidiu partir para o cancelamento, ou sendo mais claro, a censura. Para este setor, as opiniões devem convergir. Existe um máximo “revolucionário” onde proibir alguém de falar, é próximo da revolução. Há setores que dizem que na democracia não se pode falar tudo, democracia é ficar quieto, deixar-se calar pelos próprios sentimentos. Ou seja: não há democracia. Se tivéssemos em um estado operário, como na Rússia Revolucionária de Trotsky e Lênin, ainda teríamos mais tempo para discutir uma situação desta, visto que a revolução operária estava em andamento. Mas dentro do estado burguês, a “cultura do cancelamento” é um serviço direto para a burguesia. Uma aposta sem precedentes que culmina em um amplo serviço para a própria extrema-direita, que se utiliza disso para ainda mais ampliar espaço. Tópicos religiosos ainda se tornam mais polêmicos, visto que, um grande setor da população é evangélica, e de maneira nenhuma podem se calar diante dos fatos. Se os evangélicos foram evangelizados, a esquerda e a cultura do cancelamento também. Apenas o que mudou foram os métodos.

É de direito que cada um possa se expressar. Falar é o hábito mais natural do ser humano. Estamos falando de sentimentos, emoções e a vida de cada um. Sejam eles errados ou certos, fascistas ou não, preconceituosos ou não. Cabe a um partido revolucionário instruir, convencer e educar a sociedade. É nosso papel conversar com cada um. Desejar que os outros falem o que gostamos de ouvir é idealismo não é marxismo.