O Brasil hoje é um país ocupado pelo imperialismo estrategicamente comandado pelo mercado financeiro internacional. O Consenso de Washington no apagar das luzes da década de 1980 impôs através das suas agências multilaterais, em particular o FMI, uma agenda financeira global das finanças com o receituário neoliberal. O Plano Real é a mais bem sucedida experiência mundial de transferência de renda e riqueza da história e a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) de 2000 no segundo mandato de FHC (Fernando Henrique Cardoso) aperfeiçoou as leis 166 e 167 da tal “Constituição Cidadã” que com muita clareza impõe que o pagamento de juros da dívida pública é sem dúvida a maior prioridade em detrimento de quaisquer políticas públicas sociais e de infraestrutura, além da captura das nossas empresas estratégicas nacionais, e portanto, da nossa soberania. A Lei do Teto de Gastos de dezembro de 2016 no bojo do golpe de Estado no Brasil coloca uma coleira ainda mais apertada na garganta do povo já vilipendiado e expropriado do seu direito de viver humanamente.
A esquerda ainda não compreendeu a raiz que envolve o fenômeno do proto fascismo ou até mesmo do fascismo. Não se trata de uma pauta moral sobre corrupção e elementos lastreados por fatos, mas sim pela aderência a aspectos ideológicos que dialeticamente estão imbricados com a base material da sociedade capitalista.
O nacionalismo xenófobo, o preconceito, discriminação e distinção social no recorte de classe oferecem o alicerce e as munições pra horda autoritária, reacionária e conservadora. A esquerda se conformou ao capital e assim como a direita tradicional será diluída no caldo das disputas políticas, caso a parte que representa os trabalhadores nos sindicatos e movimentos sociais não caminhe mais para a esquerda do espectro político. 2023 será decisivo não só para o Lula, o PT e a esquerda social liberal, mas para o povo, que refém da degradação social irá adotar a extrema-direita, caso parte da esquerda mais lúcida, engajada e com um programa socialista não consiga desenvolver uma política que forneça respostas ao povo e estratégias de luta; não por falhas combativas e propositivas, mas principalmente pelos constrangimentos impostos pela correlação de forças. 2023 passa a ser um ano decisivo no limiar dessa luta, onde as forças populares terão um papel decisivo para o País.
Precisamos de uma estratégia urgente de mobilização popular para fornecer os alicerces e as condições mínimas para que o novo governo Lula consiga desarmar essa bomba relógio que já vem ao longo de décadas explodindo fragmentos anunciados da sua destruição ainda maior por vir. A tendência será a de deterioração dessa esquerda reformista e identitária, assim como acontece com os partidos da direita tradicional substituídos pela direita mais conservadora e reacionária. Na Europa os partidos socialistas se renderam à lógica neoliberal e perderam muita força e legitimidade enquanto que a ultradireita avança cadeiras no congresso e governos. A esquerda pró imperialista serve como amortecedor das lutas sociais, como no caso chileno e outros exemplos no mundo ocidental. Ou a esquerda caminhará empurrada para o confronto na luta de classes ou será engolida, absorvida e totalmente refém da burguesia e do imperialismo. Voltaremos a ser uma colônia como outrora e ainda com o peso do imperialismo estadunidense destruindo o futuro das próximas gerações, enquanto que a burguesia nacional e os ricos do mundo usurpam o orçamento público a sua vontade. . A luta pelo socialismo não pode mais ser uma miragem, mas sim uma condição urgente e necessária para a própria sobrevivência da humanidade, onde o próprio povo exigirá uma saída de todos os trabalhadores “uni-vos!!”.
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