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Setembro Negro

O atentado de Munique

Das ações contra Israel, morte de atletas olímpicos pelo Setembro Negro é a menos apoiada pela resistência, tendo o grupo sido desintegrado pela OLP

Hélio Rocha

O chamado “Massacre de Munique”, de 1972, marcou para sempre a história dos Jogos Olímpicos e a segurança nos esportes, mas foi, igualmente, o momento mais crítico da luta pela libertação palestina, e mais dramático para Israel, até o ataque do Hamas no dia 7 de outubro de 2023. O grupo guerrilheiro Setembro Negro herdava, nos anos 1970, a tarefa da luta contra a colonização sionista, após três derrotas das resistências nacionais para as Forças de Defesa de Israel. Ele sequestrou seis atletas e cinco teinadores israelenses durante as Olimpíadas de Munique, terminando por matar os onze integrantes da delegação do país. 

Ao mesmo tempo em que revela absoluta brutalidade aplicada a um ambiente pouco afeito à luta política, e ainda mais à deflagração da violência como sua ferramenta, o atentado abriu os olhos do mundo para um fato: os palestinos tomavam dos exércitos vizinhos as rédeas da resistência a Israel, e abriria uma frente árdua para proteção institucional do Estado sionista, porque a luta deixaria o campo já conhecido e parcialmente delimitado por regras estabelecidas por convenções internacionais, para adentrar o traiçoeiro terreno do enfrentamento a guerrilhas.

O grupo não professava o fundamentalismo islâmico, definindo-se como laico. Fora fundado em 1970, advindo de conflitos entre combatentes da Organização para Libertação da Palestina (OLP) e o exército da Jordânia, após tentativa de golpe de Estado por grupos de guerrilha que, derrotado, teve seus integrantes perseguidos pelo rei Hussein da Jordânia. Este decidiu eliminar a presença dos palestinos do país. Tal perseguição começava a explicar a pouca solidariedade dos Estados árabes para com os palestinos a partir da derrota militar e política do líder pan-arabista Gamal Abdel Nasser. Estima-se que 10 mil palestinos da Jordânia tenham morrido, e outras dezenas de milhares, já expulsos de seu território original, tenham sido banidos para outros países árabes.

A princípio, as células que integravam o Setembro Negro eram advindas do Fatah, principal grupo da OLP. Já tinham tentado assassinar o embaixador jordaniano em Londres (dezembro de 1971), sabotar uma instalação elétrica da Alemanha Ocidental e uma fábrica de gás holandesa (fevereiro de 1972), sequestrar um avião comercial da Bélgica que viava de Viena para Tel-Aviv (maio de 1972). Após o atentado de Munique, ainda atacaria a embaixada da Arábia Saudita no Sudão (maio de 1973), matando o embaixador, umm diplomata norte-americano e um belga. 

Após essa sequência de atentados e o desastre no massacre de Munique, a organização seria desmantelada, por pressão da OLP, que entendeu que ela estava prejudicando a causa palestina com sua violência. Deixaria, porém, legado em outras organizações de luta pelo povo palestino, que celebrariam o feito de 1972 e nomeariam várias de suas operações como Setembro Negro. Ao contrário de Hezbollah e Hamas, esse grupo, até a sua dissolução gradativa no fim dos anos 1970, foi, de fato, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a maioria dos Estados do mundo como organização terorista.

No atentado das olímpiadas, um grupo de palestinos, jordanianos e libaneses, liderados pelo guerrilheiro Lutiff Afif, o Issa, invadiram a vila onde os atletas ficavam instalados durante as competições. A Alemanha, mais tarde, assumiria culpa por diversas falhas na segurança. Os homens de Issa renderam os 11 integrantes da delegação de Israel, que incluíam atletas, árbitros e treinadores. Alguns foram tomados por reféns, outros foram mortos durante o sequestro. Durante a manhã, os sequestradores se identificaram como integrantes do grupo Setembro Negro e exigiram, para a libertação dos reféns, a troca por 234 prisioneiros palestinos em Israel e dois guerrilheiros da Fração do Exército Vermelho, movimento armado marxista-leninista da Alemanha Oriental que atuava na República Federal da Alemanha. 

A manhã de 5 de setembro de 1972 foi de consternação mundial, especialmente das equipes de competição e organização nos jogos. Durante as negociações, porém, o grupo perdeu o controle das negociações, enquanto a polícia alemã cercava o estabelecimento e deixava os guerrilheiros sem saída. A partir daí, até a manhã do dia 6, Issa mudou suas exigências e passou a focar em como o grupo escaparia da situação, pedindo ônibus, helicópetero e avião para sair para o lado oriental. 

Tudo foi provindenciado, porém os alemães, que esperavam surpreender o Setembro Negro com uma tripulação de policiais federais disfarçados, não foi suficientemente eficaz e os palestinos perceberam a emboscada. Deixaram o apartamento, embarcaram num ônibus, depois em dois helicópteros e, por fim, chegaram ao aeroporto e entrariam num Boeing 727. Ainda de posse dos reféns, que seriam entregues após o embarque, o grupo atirou contra a maior parte das vítimas após perceber a cilada. Tentando entrar na aeronave, um deles jogou uma granada. O resultado do tiroteio seguido de bomba foi a morte de todos os judeus e mais cinco guerrilheiros e um policial.

Os três homens restantes foram presos e mantidos encarcerados até 29 de outubro daquele ano, quando um voo alemão que ia de Damasco a Frankfurt foi sequestrado para pedir a libertação dos presos. Com isso, a Alemanha Ocidental atendeu, e eles foram recebidos como heróis na Síria. Os corpos dos mortos também foram celebrados ao chegarem aos países de origem. Mais tarde, dois dos três sobreviventes seriam assassinados, em ação do órgão de inteligência israelense, Mossad, a mando da primeira-ministra Golda Meir, operação que ganhou o nome de Cólera de Deus. Suspeita-se que outros homicídios tenham feito parte da operação, alguns contra pessoas cujo envolvimento na conspiração jamais foi comprovada. O único sobrevivente à perseguição foi o sequestrador Abou Daoud, que morreu por causas naturais em 2010, na Síria. 

Ate hoje, a Cólera de Deus foi uma das principais ações que criaram o mito Mossad, tornando-se filme de Steven Spielberg em “Munique” e uma sequência de livros sobre o tema. O serviço israelense, no que pese a morte de inocentes como um garçom norueguês chamado Ahmed Bouchiki, além do fracasso em chegar a Abou Daoud, sedimentou a ideia de Israel como um Estado inviolável e implacável. Tal mito perduraria até o ataque do Hamas.

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