De 2016 a 2023

O antipetismo travestido de independência de classe

Mais uma vez os stalinistas retomam a sua política golpista contra o PT disfarçada de luta contra a conciliação. O "nem nem" do PCB vai se configurar na prática o "fora Lula".

Os acontecimentos políticos com a atual crise do imperialismo se tornam cada vez mais rápidos. Em menos de um mês de governo Lula os militares já demonstraram a sua sanha golpista e a imprensa burguesa já ataca diretamente o próprio presidente. Ao mesmo tempo, a esquerda parece também definir suas posições mais rapidamente e isso vale também para o PCB, tradicionalmente o partido que mais demora a se posicionar. Em um artigo em seu sítio intitulado “Brasil 2023: o que fazer?”, os filo-stalinistas já se colocam no campo da esquerda golpista, da mesma forma que fizeram com Dilma Rousseff em 2016.

Milton Pinheiro, dirigente do PCB, escreveu o artigo para o jornal O Momento. Ele inicia sua tese dividindo quem são os blocos políticos: “Temos um confronto central entre a extrema direita, com presença de massas, versus uma ampla articulação democrático-liberal, cujo principal aspecto de sustentação é uma fraseologia de corte moral.” Aqui está o primeiro erro, que fundamenta a política golpista do PCB; apesar de existir o bloco bolsonarista e de outro lado uma frente popular, esses não são os únicos atores da política nacional. O imperialismo com suas diversas frentes, monopólios de imprensa, identitários, PSDB e a 3ªa via, atua ao mesmo tempo dentro do governo Lula e contra ele. Basta ver as manchetes da Folha de S.Paulo, do Estadão e do Globo, que são duríssimas contra Lula em temas fundamentais como a economia.

A incompreensão dessa frente frente é na verdade o que gera o argumento da esquerda golpista. Em suas palavras: “Na vaga articulação democrático-liberal, agrupa-se a social-democracia tardia, o neodesenvolvimentismo político herdeiro da segunda internacional (com seu viés anacrônico), frações burguesas sedentas por espaço em um novo bloco no poder, oportunistas de esquerda e sua visão entrista e as OS (organizações sociais) da política.” Isso configuraria o governo Lula como um governo de conciliação de classes e portanto um governo burguês ou “burgo-petista” (termo extraído do texto) que deveria ser combatido. O impressionante é que a tese é uma repetição de 2016, quando a direita, com o apoio do PCB, derrubou a ex-presidenta Dilma.

O grande erro aqui consiste em considerar todos os setores da frente popular como inimigos dos trabalhadores, o problema é que por definição essa frente contém organizações dos trabalhadores e da burguesia, essa é justamente sua força para conter as massas. Lula é um candidato dos trabalhadores, é um operário, principal dirigente da CUT e de um enorme movimento popular que gira em torno do PT. Os trabalhadores votaram em massa em Lula justamente por ele ser a sua principal liderança no Brasil. O mesmo não vale para Alckmin e para a esmagadora maioria do governo, como Marina Silva, Simone Tebet, Silvio Almeida, Sonia Guajajara (amiga dos “comunistas” do PCB) etc.

A ideia chave de Pinheiro é de que é preciso combater a frente popular, mas ela não se combate indo contra o governo mas sim indo contra os elementos de direita, golpistas, burgueses, do governo. O Partido Comunista Brasileiro deveria compreender isso visto que essa foi a política de Lênin durante a revolução russa. Após a revolução de fevereiro se formou uma frente popular, Lênin defendia a palavra de ordem de “fora os ministros capitalistas do governo!” e não “fora Kerensky”. Defendia “todo poder aos sovietes!” organizações de trabalhadores que não tinham partidos da direita, mesmo que os sovietes fossem controlados pela esquerda pequeno-burguesa do tipo petista. Mas não defendia o “fora Kerenski!”, uma vez que os socialistas-revolucionários de Kerenski eram a representação dos trabalhadores dentro do governo, mesmo sendo conciliadores. O “fora Kerenski” era a palavra de ordem da extrema direita czarista.

Partindo desse erro crucial, o texto só piora: “A vitória, mais uma vez, da coligação burgo-petista demonstra que a bifurcação da política brasileira e do complexo da luta de classes está longe de colocar na contradição principal a disputa entre capital e trabalho.” A contradição principal da luta de classes é entre os monopólios dos países que dominam o planeta, isto é, o imperialismo, e a classe operária em cada país. Essa contradição se tornou cada vez maior no Brasil desde o golpe de Estado de 2016, e teve um de seus ápices na eleição de 2022 quando a classe operária brasileira conseguiu impor uma derrota pontual ao imperialismo com a vitória de Lula. O PCB não consegue compreender que a vitória de Lula foi uma grande vitória de uma luta de muitos anos. O motivo é claro, o PCB atuou contra essa luta durante todos esses anos.

O PCB então apresenta uma solução para a crise da disputa do governo Lula e os militares: “Neste sentido, seria fundamental criar o instrumento das assembleias populares para estabelecer consultas públicas sobre temas relevantes. Essa forma política também seria extremamente importante para mobilizar a classe trabalhadora e enfrentar a correlação de forças no parlamento. Ao lado das assembleias populares, poderiam ser criados os referendos revogatórios e/ou proclamatórios.” Fazer assembleias de movimentos populares meramente consultivas é uma proposta absurdamente rebaixada! Isso não difere das tradicionais propostas do próprio PT e a proposta dos ditos “comunistas” de referendos revogatórios e/ou proclamatórios é igualmente reformista. Porém, mais importante é o seguinte: tratam-se de propostas vazias, de mera fraseologia pseudorrevolucionária. Como sempre, o PCB ignora a real situação política do país, a ameaça de golpe de Estado por parte dos militares e a fragilidade do governo Lula após o 8 de janeiro. É preciso assembleias populares sim, mas em um movimento organizado a partir de agora pelas principais organizações de massas do País, como o PT, a CUT e o MST, para mobilizar os trabalhadores e todos os oprimidos em torno de um congresso amplo e democrático para fortalecer, por um lado, a posição de Lula perante os militares, e, por outro, a posição dos próprios trabalhadores perante Lula. Para forçar o governo a agir contra a direita, o que passa necessariamente pelo atendimento das reivindicações mais essenciais do povo oprimido neste momento, como um aumento real do salário mínimo e a revogação de privatizações.

A outra solução do PCB contra a investida dos militares tem uma aparência de política correta: “Os impasses que se seguem criaram dificuldades manifestadas na cena política (abertas ou veladas) que devem ser afrontadas pela capacidade da esquerda revolucionária em constituir um instrumento de frente única de caráter proletário e popular. Essa frente única, dirigida pelo bloco revolucionário do proletariado, deve surgir do trabalho de base e da organização da classe trabalhadora.” De fato é necessário organizar uma frente única de esquerda, mas isso não passa por atuar contra Lula, pois se não essa frente estará pulverizada desde o seu início. Além do mais, o PCB, acreditando-se revolucionário, quer dirigir uma frente única operária, popular e de esquerda. Isso é uma ilusão esquerdista. Não se pode tapar o sol com a peneira: o movimento operário e popular é dominado pelo reformismo, ou seja, pelo PT. Não há como setores extremamente minoritários – ainda mais sem base popular, como o PCB – dirigirem tal frente. O PCB, sob uma desculpa esquerdista, portanto, indica a repetição do que fez em 2016: nenhuma frente com os reformistas do PT em que eles sejam dominantes. Se em qualquer frente única, nas condições atuais, o PT, a CUT, o MST e as organizações de sua base, os reformistas estariam na direção, portanto o PCB não entraria nessa frente e ficaria isolado em seu mundinho de revoluções de brinquedo. Eis a fórmula que justificaria o golpismo de esquerda.

O texto fecha com um antipetismo emblemático: “A conciliação de classes e seu governo de união nacional não interessam ao projeto de futuro da nossa classe.” Para o PCB é inconcebível atuar em defesa do governo Lula, assim como era inconcebível defender a presidenta Dilma. O partido filo-stalinista assim aponta que cometerá os mesmos erros – crimes para uma organização que se reivindica marxista – que cometeu em 2016 durante o golpe de Estado. Por fim é preciso lembrar que foi essa tese ultra esquerdista responsável pela ascensão de Hitler ao governo. Os stalinistas alemães consideravam a conciliação de classes do governo Social Democrata indefensável. Eles, ao contrário do PCB, tinham milhões de apoiadores. A divisão da esquerda ante o golpe de Hitler foi o que permitiu a vitória do nazismo na Alemanha.

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