Os 100 dias de governo Lula deram lugar a muitos balanços e análises. No dia 10 de abril, no portal do Brasil 247, a colunista Denise Assis fez um artigo com o seguinte título: “Lula se impõe tarefa árdua: trazer o Brasil de volta à civilidade”.
Dois pontos na coluna nos parecem importantes para serem destacados. Um é a ideia, que teria sido expressa pelo próprio Lula em reunião ministerial, de “voltar” à civilidade; segundo, é o excessivo otimismo apresentado pela jornalista em relação ao governo.
Sobre o segundo ponto, não há problema nenhum em ser otimista. O problema é que o exagero pode impedir que se enxergue claramente a realidade. Na conclusão de seu texto, ela afirma o seguinte: “A despeito dessas armadilhas, o país vai caminhar. Como disse Lula, um otimista inveterado, há futuro e esse foi só o começo.”
A questão é justamente como Lula irá enfrentar essas “armadilhas” que, segundo ela, é a oposição do Congresso, onde o governo tem minoria, a ação golpista das Forças Armadas, o boicote econômico etc. O simples otimismo do “vamos caminhar”, infelizmente, não resolve os problemas.
O que Lula fez até agora para superar as dificuldades foi importante. A colunista elenca uma série de medidas, algumas corretas, outras nem tanto, algumas bem erradas, que o governo fez para superar as tais armadilhas.
Mas o problema-chave é que tudo isso é muito insuficiente. E aqui não estamos avaliando a vontade do governo de resolver determinadas questões, mas o método político usado. Até agora, e isso não está explicado no artigo de Denise Assis, Lula apenas procurou as vias institucionais. É por isso que, como ela afirma, Arthur Lira “sabe que se deixar Lula e sua equipe voam e impedem novamente a tal “terceira via” de chegar lá em 2026.” O governo é refém do Congresso, cuja maioria é oposição.
Tentar qualquer coisa por ali é ficar preso na política dos sabotadores do governo. Mas não é só o Congresso. O Banco Central é outro elemento de boicote. O Judiciário, que por enquanto tenta se passar de democrático, está preparando uma nova jogada golpista; e as Forças Armadas, nem é preciso explicar.
Para superar esses entraves, é preciso colocar em marcha uma política que se apoie no povo. Essa tem sido a principal falha do governo. Não se trata aqui de abandonar as manobras institucionais, mas de se apoiar numa mobilização que dê forças ao governo para impor políticas de interesse da população.
Sobre o primeiro ponto, o da “volta à civilidade”, é preciso dizer apenas uma palavra. A tarefa não é “voltar” nenhuma civilidade, mas é estabelecer uma mínima civilidade para o povo, que nunca conheceu tal realidade.
O povo brasileiro sofre com a miséria, a exploração, a violência da burguesia. O bolsonarismo e o golpe de 2016 apenas fizeram aprofundar essa barbárie, derrubando as pouquíssimas e limitadas reformas feitas nos governos do PT. A tarefa, portanto, é dar ao povo o mínimo de civilidade que ele nunca teve e a partir daí. Para isso, voltamos ao problema da mobilização, que é o meio para conseguir medidas de interesse da maioria da população e impor uma derrota à direita.