A mais recente adversária de Donald Trump é Nikki Haley. Ex governadora da Carolina do Sul, além de ex embaixadora dos EUA na ONU nos governos de Trump. A descendente de indianos anunciou sua candidatura para as primárias do partido republicano. Para quem esperava um embate entre de Ron DeSantis — governador da Flórida — e Donald Trump, se surpreendeu com essa nova candidata.
Nikki Haley, que havia prometido não se candidatar caso Trump tentasse a reeleição como presidente em 2024, mudou de ideia. Sua candidatura surge em meio a polarização, dentro do partido republicano, entre Trump e DeSantis — que contam, respectivamente, com 50% e 30% das intenções de votos nas primárias do partido — no entanto, as pesquisas mais recentes revelam que Nikki Haley conta com apenas 6% das intenções de votos.
As primárias
Os dois principais partidos estadunidenses, que efetivamente monopolizam o processo político, decidem seus candidatos através de eleições internas, o que inclui os presidenciáveis. Ganhar essas eleições significa tornar-se um candidato que oficialmente representa o partido nas eleições gerais. Alguém pode ver esse processo de fora e pensar que os EUA são um verdadeiro exemplo de democracia partidária. O que não poderia estar mais distante da realidade.
Os mais de 50 estados e territórios dos EUA, elegem delegados que, por sua vez, elegerão o futuro candidato à presidência que representará o partido. O problema está, justamente, em como esses delegados são eleitos nos estados e o poder de voto de cada delegado. Como demonstrado no caso Bernie Sanders Vs Hillary Clinton, de 2016, onde as eleições internas do partido democrata foram abertamente manipuladas para favorecer a candidata Clinton.
No caso do partido republicano, existem inúmeros estatutos estaduais que normatizam as eleições de delegados. É um desnecessariamente complexo e caro, que favorece os conchavos da grande burguesia, que possui o capital para influenciar diversos delegados e seus respectivos estados. Tendo em vista que o voto dos delegados para eleger o candidato à presidência pelo partido é secreto, torna-se impossível para a base da agremiação cobrar seus delegados eleitos.
O mais esdrúxulo é que, assim como ocorreu com Hillary, onde os grandes conglomerados de imprensa pintavam toda crítica como um ataque à sua condição de mulher, Nikki Haley também parece gozar da mesma proteção. O que demonstra o real caráter demagógico desse escudo político, tendo em vista que Haley é uma neoconservadora, vinculada ao complexo industrial militar e que possui pautas sociais bem diferentes da própria demagogia “Hillarysta”. Em especial nos EUA, a ordem política burguesa logrou domar as lutas sociais dos chamados “grupos minoritários”, tornando-as armas políticas que atacam e defendem sem a necessidade de um encadeamento lógico.
Não se sabe ainda o motivo real da candidatura de Haley, ao passo que pode ser uma traição ao seu antigo aliado Donald Trump, também pode significar uma tentativa de desgastar DeSantis. Tendo em vista que, os delegados eleitores de Trump são reconhecidamente leais, compondo cerca de 50% do universo de eleitores das primárias presidenciais. O que levanta a possibilidade de Nikki Haley estar disputando os 30% de DeSantis. Parecem ser duas cartas na manga do setor mais importante da burguesia norte-americana para tentar, de algum modo, desbancar Trump nas primárias, visto que ela não quer vê-lo presidente novamente nem pintado de ouro.
A disputa do partido repúblicano parece ser mais um ponto de conflito entre os diferentes setores do imperialismo estadunidense. Desde o início do mandato de Trump na presidência, foram realizadas diversas tentativas de desestabilização a fim de disciplinar o executivo e — no caso de resistência — retirá-lo da presidência. Os ataques continuaram após a vitória de Joe Biden, com a prisão de Steve Banon e as investigações de caráter político contra Trump, que nunca levaram a nada.
O que muito se comentava era se Trump conseguiria participar das primárias, para essa pergunta já temos uma resposta. Resta saber se conseguirá vencer dentro do partido, caso contrário, o manto, muito provavelmente, recairá sobre DeSantis: o líder natural dos republicanos caso Trump esteja fora da disputa. Quanto a Haley, por mais que seja alinhada ao complexo industrial militar, carece de força política para tornar-se um nome nacional.
Seria necessário muito mais que uma mera campanha identitária — a saudando por ser mulher e descendente de imigrantes — seria necessário a vontade política dos setores majoritários da burguesia estadunidense que coordenam os rumos políticos dos republicanos. E no momento, o que temos é uma anã esmagada por Trump e até por DeSantis.
Não deixa de ser irônico perceber que até os caciques republicanos estão “entrando na onda” identitária, com uma candidata não só mulher, como descendente de imigrantes. E, além disso, que utiliza essas duas condições como plataforma política. Não surpreende que os números da candidata sejam tão baixos dentro da base republicana. Esta é uma manobra cansada e que nunca penetrou muito bem nesta base social mais popular e menos citadina, em comparação aos democratas.