Nesta quinta-feira (3) completam-se 63 anos da independência da República do Niger do domínio da França. A data, ainda que alusiva a um evento do passado, reflete o atual momento do país no qual um grupo de militares nacionalistas destituiu o presidente pró-imperialista, Mohamed Bazoum, em um golpe de Estado que aconteceu no dia 26 de julho deste ano.
O golpe tomou forma depois de um massivo apoio da população, que se manifestou nas ruas contra o imperialismo francês empunhando bandeiras pró-Russia e contra a França. O fato ocorre também depois de outros dois golpes que ocorreram nos últimos três anos na região: Mali e Burkina Faso.
A movimentação na África se dá, sobretudo, depois da aproximação do presidente russo Vladimir Putin ao continente. Para se ter uma ideia da aproximação russa, a 2º Cúpula Rússia-África reuniu delegações de 49 países africanos, das quais estiveram presentes 17 chefes de Estado.
Putin declarou na Cúpula, último dia 28, que a Rússia e os líderes africanos concordaram em promover um “mundo multipolar e a combater o neocolonialismo”. A cooperação definida, além de apoio militar, prevê reforço no fornecimento de alimentos, energia e desenvolvimento.
“Durante décadas, invariavelmente, fornecemos apoio durante a difícil luta dos países africanos contra o colonialismo. Infelizmente, algumas manifestações do colonialismo não foram erradicadas até hoje, e as antigas potências coloniais ainda as praticam, inclusive nas esferas econômica, informativa e humanitária”, declarou Putin, conforme informações do site oficial do Kremlin.
O presidente reforçou o anúncio da entrega entre 25 e 50 mil toneladas de grãos para seis países africanos sem nenhum custo. “No geral, a Rússia mantém seu compromisso de facilitar o desenvolvimento do continente africano de todas as maneiras possíveis, não apenas fornecendo ajuda humanitária, mas também por meio de preferências comerciais, ajudando a criar setores manufatureiros modernos, desenvolver a agricultura e ajudar a África por meio de órgãos e agências internacionais especializados”, frisou.
Histórico
Vale lembrar que o território do Niger fez parte do Império Songai até 1896, quando a França ocupou a região. Ainda que alguns movimentos tenham resistido ao colonialismo entre 1910 e 1930, a repressão francesa foi violenta e sufocou os levantes.
Foi somente na metade dos anos de 1940 que o assunto contra a dominação francesa foi retomado por parte da elite política do Niger, ligada a organizações francesas de esquerda. O líder Boubou Hama, um dos criadores do Partido Popular do Niger da frente política interterritorial Assembleia Democrática Africana (PPN-RDA) adotou uma postura reformista e diante da pressão contra o sistema colonial negociou uma autonomia gradual ao país.
No final dos 1950, Charles de Gaulle, presidente francês, promoveu um referendo sobre a independência imediata. Os nigerinos foram contrários e optaram pela criação de uma República dentro da Comunidade Francesa. O governo de transição, como não poderia deixar de ser, reprimiu de forma violenta os opositores, mas isso não impediu seu líder, Hamani Diori, de negociar a independência e se tornar o primeiro presidente do país. A independência foi oficialmente declarada no dia 3 de agosto de 1960.