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Futebol

Neymar fez certo ao ir para a Arábia Saudita

De repente, a imprensa pró-imperialista descobriu que a Arábia Saudita é uma ditadura terrível

A ida de Neymar para o Al Hilal da Arábia Saudita causou um estardalhaço na imprensa capitalista, que logo taxou o melhor jogador do mundo como um “fracassado”, decretando o fim de sua carreira. Nada poderia estar mais longe da realidade. Alvo preferencial dos urubus da imprensa que atacam o futebol brasileiro, Neymar também foi atacado moralmente.

Mauro Cezar, em sua coluna no UOL, o mais ferrenho portal esportivo contra o futebol nacional, criticou Neymar e outros jogadores por “emprestar prestígio à ditadura saudita”. O jornalista justifica: “a Arábia Saudita é um país muçulmano, com interpretação das leis islâmicas bem conservadora. Teocrática, trata-se de uma nação onde a religião interfere em questões políticas e jurídicas”.

Sem entrar nos detalhes do problema política da Arábia Saudita, mais complexo do que apresenta Mauro Cesar, vamos ao problema. Mas ele continua: 

“Ir contra o governo? Contestar o regime? Nem pensar. Democracia passa longe, obviamente não se permite protestos e manifestações. Consequentemente, também falta liberdade de imprensa. Nessa monarquia absolutista é preciso muito cuidado com o que se publica na internet. Mulheres devem usar o véu sobre a cabeça, nada de roupas muito justas, que marquem o corpo, e ombros à mostra”.

“Em praias públicas, sungas e biquínis não são aceitos. Até 2018, dirigir automóvel era exclusividade dos homens, mesmo assim as mulheres enfrentam dificuldades para obtenção da licença. Apesar de uma certa flexibilidade nos últimos anos, o conservadorismo ainda pesa no dia a dia. Casamentos arranjados ocorrem e a mulher precisa da autorização de um homem para casar ou morar sozinha. Lá, elas só tiveram direito a voto em 2015! Ser gay é proibido e são previstas severas penalidades para quem se relacionar com pessoa do mesmo sexo”.

“Na Arábia Saudita igrejas não são permitidas. Todos os sauditas são considerados muçulmanos e assim a prática do cristianismo é vetada. Contudo, Cristiano Ronaldo já celebrou gol por lá fazendo o sinal da cruz. No Brasil, Neymar frequenta(va) a igreja Batista. Mas nem todo mundo é ‘CR7’ ou ‘Menino Ney’”.

Todas as críticas seriam válidas não fossem o profundo cinismo que está por trás dessas críticas. O intuito da imprensa capitalista não é defender mulher alguma, a democracia, a liberdade religiosa, ou qualquer coisa do tipo. Inclusive, até pouco tempo atrás, quando a Arábia Saudita estava totalmente alinhada com o imperialismo, nada se falava da ditadura monárquica do país.

Acontece que, liderada pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o governo saudita está dando uma guinada contra o imperialismo e levando adiante uma política de desenvolvimento. O caso do futebol é um exemplo disso. O Estado investiu pesado nos principais clubes do país e levou para lá não só o melhor jogador do mundo, Neymar, como atletas de alto nível: Benzema, Kanté, Roberto Firmino, Cristiano Ronaldo, Alex Telles, Sadio Mané e muitos outros.

O futebol também é um instrumento para o atual governo saudita abrir o regime, até pouco tempo atrás controlado a mão de ferro pelo imperialismo, principalmente o norte-americano. Os sauditas querem estabelecer melhores relações com outros países e, para isso, precisam melhorar sua imagem globalmente. Quem sabe, a exemplo do Catar, não sediar uma Copa do Mundo? Essa abertura serve também para aliviar a tensão política no país. Por isso, Bin Salman deu recentemente o direito de dirigir carro às mulheres, entre outras flexibilizações.

No entanto, é notável que Mauro Cézar nunca criticou Neymar por jogar na França, não critica Vinícius Júnior por jogar no Real Madrid ou outros jogadores que jogam nos países europeus — ou Messi por jogar nos Estados Unidos. Por mais que esses países não tenham o bicho-papão conservador das leis islâmicas, também neles a “democracia passa longe”, não passando de uma fachada. No Reino Unido, o atual governo está realizando uma campanha frenética contra os imigrantes. Sobre “protestos e manifestações”, o Estado francês reprime como em nenhum outro país do mundo manifestantes que protestam contra a violência da polícia e a reforma da Previdência. 

Mas, pior do que isso, são os países “democráticos” que promovem ao redor do mundo guerras, golpes, tortura, entre outras barbaridades. Se Mauro Cezar fosse um humanista, como tenta aparentar ser, teria que dizer também, por exemplo, que “Messi empresta prestígio ao imperialismo bárbaro dos EUA”. Sobre a “falta liberdade de imprensa”, vale mencionar que quase todos os países imperialistas do mundo censuraram os portais russos que apresentavam uma cobertura diferente das mentiras contadas pela imprensa “oficial” (ao estilo do Uol de Mauro Cezar) sobre a guerra na Ucrânia.

O jornalista ainda afirma que, “quando alguém como Neymar, que já enriqueceu; topa defender um time daquele país, obviamente mais dinheiro é a motivação. Ainda com idade e condições físicas para ser competitivo no futebol mais forte do mundo, o europeu, ele abre mão dos grandes torneios e dos maiores desafios profissionais. Mas ficará ainda mais milionário. Direito e problema dele, obviamente. Mas não estamos falando de alguém pobre que se muda para um país assim com o intuito de resolver sua vida financeira, como se fosse a oportunidade única. Falamos de jogadores que já são mais do que endinheirados, com patrimônio o bastante para manter gerações. Eles não dependem da grana saudita, só querem engordar suas contas bancárias. Errado? Não, ora, cada um faz o que bem entende da sua vida. Mas em se tratando de uma estrela da bola como o principal jogador brasileiro, evidentemente haverá discussões sobre tal escolha. Não mais veremos o camisa 10 da seleção na Uefa Champions League. Nem em qualquer campeonato relevante”.

Ora, a opinião de Mauro Cezar é mero preconceito. Melhor dizendo: ele é apenas um paga-pau do imperialismo europeu. É correto afirmar que o “futebol europeu” é o “futebol mais forte do mundo”? Não. Primeiro, porque o “futebol europeu” não existe mais: os melhores jogadores dos melhores times não são, em sua maioria, europeus; são brasileiros, uruguaios, argentinos, africanos, etc. Segundo, isso só acontece porque os países mais ricos têm condições de realizaram uma política de rapina para roubar os jogadores do mundo inteiro.

E esse é o verdadeiro problema da questão. O imperialismo ataca o futebol da Arábia Saudita porque os árabes estão contratando jogadores com investimentos gigantescos, salários exorbitantes, etc. Isso prejudica o próprio esquema dos clubes imperialistas europeus, que cada vez mais se encontram numa crise financeira.

Isso também explica a saída de Neymar do PSG. Boicotado por Mbappé e os donos do clube francês, Neymar iria ficar encostado no elenco, pois existe uma manobra de transformar artificialmente o atacante francês em um dos melhores jogadores do mundo. No entanto, ele ficaria — como ficou nos últimos anos — ofuscado por Neymar, o melhor jogador do mundo. Então, o craque brasileiro entrou em um dilema: ficar encostado no PSG ou sair do clube. A segunda opção, naturalmente, era melhor.

No entanto, para Neymar, seria difícil ir à Europa. Os clubes que estavam interessados simplesmente não poderiam contratá-lo, e o PSG não aceitaria que o jogador saísse de graça. Não poderiam contratá-lo justamente por causa das regras do fair play financeiro (resultado justamente do mercado inflacionário europeu e da disparidade que alguns clubes assumiram em relação aos outros).

Neymar, para se soltar das correntes do PSG, precisaria de um clube que estivesse disposto a pagar por ele, e a liga saudita surgiu. Ele fechou um contrato de dois anos, o que significa que, aos 33 anos, o craque brasileiro poderá sair de graça do clube saudita para jogar onde quiser, ficando livre na janela de negociações.

Ao mesmo tempo, jogar na Arábia Saudita é uma grande oportunidade. Por mais que seja um campeonato fraco, não é muito diferente do que acontece no restante da Europa, pois agora um punhado de clubes investiram pesado e contrataram grandes jogadores.

Mauro Cezar diz que “por mais que os sauditas contratem estrelas, suas competições continuarão sendo disputadas por clubes sem grande expressão global. Com elencos recheados de atletas locais, de qualidade técnica inferior”. Sim, é verdade: em geral, o jogador de base europeu é melhor do que na Arábia Saudita, país sem tradição no esporte.

No entanto, o que ocorre em todo país europeu é a concentração de bons jogadores em um punhado de clubes em detrimento dos outros. Enquanto o Bayern de Munique é campeão pela milésima vez seguida, com um clube de bons jogadores globais, os clubes de base alemã capengam. Na Espanha, onde os jogadores são melhores que em outras partes do continente, o Real Madrid não conta quase com jogadores espanhóis no seu elenco, passando por cima de todos os outros que não têm elencos globais — isto é, com exceção de Barcelona, o Atlético e, a depender da temporada, um ou outro clube. E assim segue.

O único campeonato nacional mais regular é o inglês (Premier League) e a Liga dos Campeões (Champions) fica difícil durante o mata-mata.

Melhor para Neymar ir à Arábia Saudita e, além de jogar com grandes atletas, se preparar para a Copa do Mundo de 2026, sem a perseguição do imperialismo europeu. O ideal seria voltar ao Brasil, mas nenhum clube conseguiria pagar o que o PSG queria.

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