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Academicismo reacionário

‘Necropolítica’ e ‘biopoder’ são modismos direitistas

A insistência em termos exóticos, como ‘necropolítica’ e ‘biopoder’, cada vez mais comum no mundo acadêmico, apenas enfraquecem a luta dos trabalhadores

o Sétimo Selo

O academicismo de esquerda não se cansa de dissolver a luta de classes em um interminável mar de neologismos e divisões que, em vez de fortalecer, apenas enfraquece a luta contra burguesia. Como é o caso do texto “Necropolítica e racismo”, de Luiz Marques, publicado no sítio A Terra é Redonda. O artigo mistura Achille Mbembe, Michel Foucault, Guerra do Golfo e até plantation, que, como aprendemos na escola, tratava-se de um sistema de plantação baseado no latifúndio, mão de obra escrava e monocultura com vistas à exportação.

Segundo o texto, No Ocidente, o racismo étnico foi o instrumento, por excelência, criado para a eliminação da alteridade; mais inclusive do que a perspectiva de classe social”. No entanto, o racismo, a desclassificação de outros povos ou etnias, até onde se sabe, era espalhada de maneira uniforme pelo mundo todo, até mesmo os nossos índios, agora chamados de ‘povos originários’, guerreavam entre si. Não era incomum os vencedores dessas guerrear escravizarem ou tributarem as tribos vencidas.

Durante a história humana, impérios e civilizações inteiras foram construídos sobre guerras de conquista e a escravidão. Egito, Grécia, Roma, são inúmeros exemplos. No Brasil, reduzir a escravidão negra a um ‘racismo étnico’ ou uma ‘preferência’ é não explicar o que de fato ocorreu. Foram diversas circunstâncias, como a própria lucratividade do tráfico que, por exemplo, acabou transformando a mão de obra africana extensamente utilizada durante a nossa colonização.

O autor do texto diz que “na economia do biopoder, a função do racismo é regular a distribuição da morte e tornar possíveis as funções assassinas do Estado. Neste sentido, os relatos históricos sobre a necropolítica precisam reinserir na agenda crítica a escravidão, ‘que pode ser considerada uma das primeiras manifestações da experimentação biopolítica’. Ora, que interesse um senhor teria em matar seus escravos? Era um investimento muito caro, os senhores estavam muito mais interessados em recuperar os custos e lucrar com o trabalho escravo. O poder sobre a vida dos cativos é um dos aspectos que caracterizam a opressão necessária para coagir o escravo a trabalhar.

Para Luiz Marques “se o sistema de plantation serviu para modelar o Estado de exceção moderno, as perdas que abateram os escravos incubaram apátridas, sem direitos sobre o seu corpo ou à existência social (desumanização). Perdas maiores que a simples mais-valia. Esse trecho é um tanto obscuro. Os escravos, sabemos, não tinham ‘direitos sobre seus corpos’, sem dúvida uma condição desumana. A mais-valia, o trabalho excedente, digamos, a diferença entre seu custo de manutenção e aquilo que produzia, era apropriado pelo senhor, que não se incomodava em infligir os piores castigos para extrair o trabalho escravo o máximo de lucratividade. Não fica muito claro se é o plantation que teve o condão de ter criado esse tipo de Estado mencionado.

Colonialismo

De acordo com o autor, “as beligerâncias pós-modernas são diferentes. Não incluem a conquista e a gerência territorial. As guerras de conquistas, é fato, se vê pouco, ainda que Israel avance sobre os palestinos e tome sistematicamente seus territórios, bem como fizeram com as colinas de Golã, da Síria. A gerência territorial, no entanto, é complemente trivial. O tempo todo são colocados governos fantoche e países atacados ou dominados pelo imperialismo.

Não se pode afirmar, como segue no texto, que “em Kosovo, a guerra teve um caráter infraestrutural, destruiu pontes, ferrovias, rodovias, redes de comunicação, armazéns e depósitos de petróleo, centrais termoelétricas, centrais elétricas e instalações de tratamento de água. A estratégia visou o aniquilamento da alternativa de sobrevivência. A divisão da Iugoslávia em diversos países foi o objetivo principal das grandes potências, pois para o imperialismo fica mais fácil controlar países pequenos, se apoderar dos seus mercados e riquezas.

O imperialismo não esconde seu desejo de fatiar a China e a Rússia em diversos países menores. O conflito na Ucrânia, as investidas sobre Taiwan e Xinjiang são uma prova inequívoca dessa política.

Reparação?

Existe na esquerda um grande esforço para separar a luta dos negros do restante da luta dos outros trabalhadores. O mesmo é feito com a luta as mulheres que cada vez mais se divide. De feministas a feministas negras; de feminicídio a lesbocídio, o tempo todo surgem novas divisões e a luta geral da dos oprimidos vai ficando particularizada, restrita a determinadas ‘identidades’.

Segundo a matéria “cotas étnico-raciais em universidades públicas agilizaram a reparação, que era devida aos vitimizados por séculos (…). Nenhum outro programa promoveu tamanha e impressionante mobilidade social. Filhas e filhos de diaristas e frentistas puderam então frequentar o ensino superior, tornar-se doutores. Embora as cotas sejam importantes, é preciso dizer que elas não são o ideal. Que alguns filhos de diaristas e frentistas se tornem doutores é muito pouco diante da necessidade real da classe trabalhadora: de que haja livre ingresso nas universidades.

O tema da ‘reparação’ sempre vem à tona, mas nós não podemos nos responsabilizar por eventos que ocorreram há séculos. Se o negro, hoje, sofre do racismo, é porque foi sendo relegado a trabalhos secundários e daí sua desvalorização enquanto ser humano. O mesmo fenômeno ocorre com as mulheres, que durante séculos esteve aprisionada aos trabalhos domésticos e, portanto, é tratada com uma pessoa de segunda categoria na sociedade. Motivo pelo qual recebe, em média, menos que um homem para fazer a mesma função.

Mudança de sinal

O texto finaliza dizendo que A luta de classes no país está ligada à emancipação da canga do colonialismo (racismo). No entanto, a ordem está com sinal trocado, com a ordem invertida: é a emancipação de setores oprimidos que está subordinada à luta de classes. Filhas e filhos de diaristas e frentistas poderão se doutorar e o capitalismo continuará bem, obrigado. Inúmeros outros filhos da classe trabalhadora continuarão na miséria e sendo alvo de extermínio das forças repressoras do Estado. A emancipação não está na colocação de pessoas pobres em determinados cargos embora, seja óbvio, que é importante as pessoas saírem da pobreza.

Apenas a luta pelo fim das classes é que poderá emancipar negros, as mulheres, e quaisquer outros setores oprimidos da sociedade. Nenhum racismo será vencido apenas com uma luta moral ou com a ‘conscientização’ da sociedade.

A tarefa do momento é fortalecer a luta de classes. A divisão em setores, em identidades, em novas nomenclaturas e categorias só interessa à burguesia, que se aproveita dessa pulverização para ganhar sobrevida e continuar a oprimir toda a classe trabalhadora.

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