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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Imperialismo

Não existe Ocidente, existe imperialismo e a OTAN

A noção de Ocidente é uma continuação do poder brando dos Estados Unidos e toda sua rede de instituições, que existem para utilizarem o ataque permanente, como a melhor defesa

Recorrentemente lemos e ouvimos em análises das relações internacionais a ênfase a um suposto “confronto” entre Ocidente e Oriente. Essa divisão arbitrária, pouco útil para o confronto contra o imperialismo, é bastante antiga, secular. Entretanto, essa proposta de divisão do mundo em dois polos, foi reforçada com o conjunto de transformações advindas da queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e derrubada do muro de Berlim, quando diversas teses foram criadas a “toque de caixa” para justificar e reforçar a nova etapa do regime imperialista. Entre as mais conhecidas e lembradas é a tese de Francis Fukuyama sobre o “fim da história”.

À época do fim da URSS, na América Latina foi aplicado o receituário do Consenso de Washington, também conhecido como “regionalismo aberto” (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL/ONU), que impôs o neoliberalismo a partir das medidas de redução da participação dos Estados na economia, privatizações e desindustrialização. Em outros termos, a “globalização” veio como política de abertura econômica em favor dos Estados Unidos e da banca internacional. A imposição de regras para dissolver o aparato industrial na América Latina seria executada por Fujimori, Menem, Collor, Fernando Henrique entre outros fantoches de Washington. 

Durante os anos 1990, os Estados Unidos aplicaram sua doutrina para balcanizar o leste europeu e a União Soviética, forjar guerra às drogas contra a Colômbia, invadir o Afeganistão e a Somália, ensaiar a primeira revolução colorida sob os novos parâmetros de poder brando contra a China, a partir dos eventos da “Praça da Paz Celestial”. Com a Rússia arrasada, o Oriente Médio em dificuldades pela guerra ao terror, a tática de sugar o petróleo na porta escancarada no Afeganistão e anteriormente na primeira guerra do Golfo, preponderou sobre a tomada do então combalido “coração da Terra”, a Rússia, e seu entorno. 

Essa noção de “Ocidente”, apesar das tentativas de teorias geopolíticas conservadoras, como as teorias “multipolar” de Samuel Huntington e Alexandr Dugin, ao visarem maior compreensão das civilizações e suas especificidades a fim de se evitar eminente confronto do “imperialismo” (nas palavras de Huntington) e “globalismo” (Dugin), é bastante vazia de sentido crítico. Embora seja duas propostas de dissuasão e antiguerra, ressalta-se os aspectos pouco realistas das teorias, embora sejam assim consideradas. Ambas as teorias, ao criticar a “arrogância do Ocidente” e denunciar seus objetivos, não fundamentam o confronto que deveria ser mobilizado, isto é, o confronto entre os países atrasados e países imperialistas. 

Guerra é o fator que desmorona a existência de um “Ocidente” 

Entre as teorias da “globalização”, a “ocidentalização” é uma ideologia propagada pelo imperialismo junto à expansão da rede de poder brando, formalizado após o término da Segunda Guerra Mundial, quando normas vão sendo produzidas a partir do novo centro do imperialismo, Washington. Diversas diretrizes para desestatização, desregulamentação, liberalização do comércio, padrão monetário, “indústria cultural” são elaboradas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BIRD) administram as novas normas junto com uma grande rede de segurança institucional, espionagem e filantropia. Universidades recebem fomento para propagar o liberalismo e os valores “universais” do pós-guerra, enquanto a ideia de “soberania nacional” pouco a pouco se amalgamava a uma internacionalização a partir do país imperialista dominante, os Estados Unidos. 

O poder brando, baseado na força da ideologia imperialista, é parte importante do poder duro, a guerra em seu estado puro. Na atual virada histórica, a tese de Huntington de visar a paz acabou reproduzindo o seu oposto, a guerra se tornou a própria política do imperialismo, e o uso do território ucraniano pela OTAN, demarca didaticamente isso. O estágio atingido pelo imperialismo, com todo aparato de segurança que tem vida própria sobre os governantes, além de empresas que lucram com a indústria da guerra, a mais rentável após o capital financeiro.

Toda a indústria de espionagem, os interesses de expansão de atividades produtivas e improdutivas colocam a OTAN como o mecanismo de defesa dentro de uma estratégia ofensiva. O aumento da desigualdade em face do aumento da pobreza e do número de bilionários escancara que a OTAN precisa de inimigos para justificar sua existência, manter aliados sob controle, ao contrário da tese de Huntington. Senão por cinismo, a ideia de Huntington em não expandir a OTAN para não provocar reações das “civilizações”, teve eco para ampliar as “guerras por identidade”. O choque de civilizações evidentemente não transparece cinismo algum, mas reforça que entre todas as teses das relações internacionais, apenas Trotski e Lênin tinham razão, ao entenderem que o imperialismo demanda das “civilizações” (para usar termo de Huntington para analogia) uma revolução permanente e confronto contra o imperialismo. 

O imperialismo se dissimula através do poder brando, com a finalidade de ativar permanentemente, uma de suas principais forças produtivas, a guerra e toda sua logística. A guerra mobiliza toda sorte de capital – trabalho e promove a permanência da OTAN como expressão da autonomia que as instituições imperialistas assumem atualmente. As instituições Wall Street, Pentágono, Petroleiras e empresas produtoras de armamentos dos Estados Unidos controlam completamente o governo de seu país e faz toda a administração da guerra 24 horas por dia, por intermédio de uma grande rede de espionagem, controle e filantropia no mundo inteiro. 

Enfim, essa rede imperialista demarca que não existe “Ocidente”, existe um tratado do “Atlântico Norte” que visa o controle de todas as regiões. Para isso, além da guerra como motor do Imperialismo, a ideologia de poder brando pode até ter um “corte civilizacional”, “cultural”, “diverso”, mas desde que se baseie no modo universal de “direitos humanos”. Esse sim variando de acordo com o tempo e com o ritmo das transformações na própria correia de transmissão na rede de administração e manutenção do imperialismo. Evidentemente que as velocidades das mudanças na correia de transmissão, bem como a liquidez e volatilidade do capital financeiro e toda sorte de títulos podres; a busca interminável pelo capital monopolista etc. expõem a permanente crise, mas o imperialismo mantém forte capacidade de mutação pela existência dos diversos campos de batalhas abertos para fins de guerra por procuração.

Com o uso permanente do termo “ocidente” por forças nacionalistas, reforça uma tese cultural inexistente para os propósitos centrais do imperialismo, que não é “pasteurizar” o mundo em uma única cultura (“globalismo”). Essa questão é apenas uma parte da guerra contra os povos, não a centralidade dos propósitos dos Estados Unidos e suas redes de instituições mantenedoras. Por isso, as forças “nacionalistas” precisam reforçar que o imperialismo é um regime de força que por meio de diversas armas força sua passagem para continuar extraindo mais-valia, infinitamente, por meio da violência e brutalidade, travestida de guerra cultural.

Artigo publicado, originalmente, em 22 de novembro de 2022.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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