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Não adianta inventar moda

Não é possível frear a violência fascista de Israel com discurso

Solução pela "política" é a mesma que vem sendo aplicada há 75 anos

Na última quarta-feira (8), Breno Altman, editor-chefe do Opera Mundi, e Alberto Cantalice, membro do Diretório Nacional do PT e Diretor da Fundação Perseu Abramo, realizaram um debate com tema “A esquerda e a causa palestina”. No presente artigo, vamos analisar algumas das declarações de Cantalice que, em geral, defende uma política profundamente reacionária no que diz respeito à defesa da luta do povo palestino.

Cantalice começa o debate defendendo não só a política dos dois Estados – uma capitulação -, como também afirma que a exigência do cumprimento dos acordos de Oslo sempre foi tradicional da esquerda.

“A esquerda brasileira sempre foi solidária à causa palestina e em defesa de dois Estados, do Estado de Israel e do Estado da Palestina. Na perspectiva do cumprimento dos acordos que ficaram conhecidos como Acordos de Oslo, que não foram cumpridos, em grande medida, pelo fato de que a extrema-direita liderada pelo Benjamin Netanyahu assumiu o poder político de Israel”, disse Cantalice.

A crítica à política de dois Estados já foi tema de muitos artigos neste Diário, por isso, vamos nos deter à segunda parte de sua afirmação. Em primeiro lugar, é preciso ter claro que os Acordos de Oslo, assinados em 1993, foram uma imensa capitulação da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) frente ao imperialismo. Tais acordos não foram feitos em nome da paz, mas sim para que a primeira intifada chegasse ao fim.

Os acordos ocorreram após uma reunião secreta entre o governo de Israel e o presidente da OLP, Yasser Arafat, mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Ele determinou a retirada das forças armadas israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, bem como o direito dos palestinos ao autogoverno nas zonas governadas pela Autoridade Palestina (AP). O acordo também previa que o governo palestino duraria cinco anos, de maneira interina, havendo uma renegociação a partir de maio de 1996.

Como Cantalice mesmo disse, se passaram 30 anos e, até agora, Israel nem mesmo começou a cumprir o acordo. Mas não por conta de Netanyahu e da extrema-direita, pois, apesar de eles representarem uma ala mais sanguinolenta do sionismo, este tem o mesmo objetivo final, que é a expulsão dos palestinos da região. Algo incompatível com os Acordos de Oslo.

Isso comprova que a assinatura dos acordos serviu única e exclusivamente para desmobilizar o povo palestino que, durante a primeira intifada, lutou ferozmente contra a ocupação nazista de Israel na Palestina. Não é uma proposta séria, mas sim, uma farsa, uma manobra.

Justiça seja feita, um dos pontos dos acordos, aquele que determina a retirada das forças armadas israelense da Faixa de Gaza, foi cumprido. Mas não por conta da boa vontade de Israel, nem mesmo da habilidade política da AP. Foi por conta do Hamas, que bravamente expulsou os sionistas do território palestino.

Mais adiante, o dirigente do PT fala o seguinte:

“A relação estabelecida por grande parte da esquerda mundial sempre foi com a OLP liderada pelo Yasser Arafat e que, hoje, é liderada pelo Mahmoud Abbas, que não está no conflito! O conflito é entre o Hamas e Israel […] Todo mundo sabia que haveria retaliação, e essa retaliação escalou e agora virou um genocídio.”

Aqui, Cantalice defende um argumento verdadeiramente rasteiro. Fato é que o Hamas não foi o único responsável pela operação do dia 7 de outubro, ela contou com praticamente todas as organizações de luta do povo palestino, como a Jiade Islâmica. Isso, por si só, já quebra seu argumento de que a guerra é entre Israel e o Hamas.

Mais importante que isso, ele mesmo admite que Israel vem massacrando o povo palestino há décadas – mais precisamente, a ocupação israelense ataca o povo palestino desde antes mesmo da fundação do Hamas. Quando levamos em consideração que o atual conflito não é um raio em céu azul, é a continuação de mais de sete décadas de genocídio, fica claro que a afirmação de Cantalice é absurda.

O Hamas é apenas a vanguarda da luta pela libertação do povo palestino e, sendo assim, o principal representante do povo palestino. É uma verdadeira organização de massas, não é à toa que, em 2006, o Hamas ganhou as eleições contra o Fatá, o que obrigou a OLP, em conluio com o governo israelense, a dar um golpe para acabar com as eleições na Faixa de Gaza.

Esse fato é uma demonstração, inclusive, de como não tem fundamento a alegação de que quem sempre foi ligado à esquerda e, portanto, quem sempre representou os palestinos, é a OLP. Eles representam tanto o povo palestino que, em 2005, com a eleição de Abbas após a morte de Arafat, a Autoridade Palestina começou negociações para acabar com a segunda Intifada – um dos fatores que desmoralizou a organização frente ao povo e garantiu a vitória do Hamas nas eleições do ano seguinte.

Nesse sentido, desde 2006, se há alguma organização que representa o povo palestino, essa organização é o Hamas. A OLP está em último na lista, até a esquerda mais radical tem mais relações com a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) do que com o Fatá – frente que, inclusive, participou do ataque do dia 7 ao lado do Hamas.

Em relação à questão da “retaliação”, Cantalice mostra uma posição ainda mais reacionária. Ao afirmar isso, o dirigente quase que justifica a matança de Israel em Gaza. É como se ele dissesse “Um pouco tudo bem, mas passou dos limites”. Tanto é assim que ele equipara o genocídio israelense contra o povo palestino com a ação heroica do Hamas, afirmando que “Também não compactuo com o que foi feito pelo Hamas, também não compactuo com o genocídio que está sendo praticado pelo Benjamin Netanyahu”.

Mais adiante, para tentar provar o seu ponto de que a guerra é entre Israel e o Hamas após ser rebatido por Breno Altman, Cantalice afirma que nenhum Estado árabe é favorável ao conflito. “Hoje, você não vê nenhum Estado árabe, ninguém se envolveu. O Egito não se envolveu, a Jordânia [não se envolveu]. Todo mundo quer o cessar-fogo, ninguém se envolveu”, disse.

Primeiro que, se os Estados árabes não estão participando diretamente do conflito, eles não tomaram uma posição totalmente capacha de não denunciar Israel e seus crimes. Até mesmo o Barém, um país praticamente insignificante para o conflito, tomou uma iniciativa diplomática. Mesmo assim, muitos dos países da região apoiam os palestinos de maneira indireta, como o Catar e o Irã que, apesar de não ser árabe, foi citado por Cantalice.

Segundo que, o fato de os países árabes não estarem apoiando energicamente a resistência palestina apenas reforça a necessidade de apoiarmos completamente os palestinos. Trata-se de um povo que está lutando sozinho diante da capitulação vergonhosa dos países árabes. A diferença em relação às guerras citadas por Cantalice, como a Guerra dos Seis Dias, está justamente aí. Naquele momento, esses mesmos países não capitularam.

No final das contas, porém, mais importante do que os países árabes é o povo desses países. Desde o dia 7, vemos manifestações cada vez maiores em defesa do povo palestino e da luta armada do Hamas. As imagens e vídeos de atos gigantescos na Turquia, na Jordânia, no Iêmen estão rodando o mundo, demonstrando como é popular a ação do Hamas contra Israel. Isso sem nem contarmos com as manifestações gigantescas em países europeus, nos Estados Unidos e na América Latina.

Então, Cantalice diz:

“A resolução do conflito naquela região será feito pela política, pela política! Até porque o mais desinformado leitor sabe que, militarmente, não haverá saída possível. Vai continuar o morticínio”

A resolução pela política, como defende Cantalice, é simplesmente absurda. Essa vem sendo a forma de resolução do conflito desde 1947. Foi pela política que a Organização das Nações Unidas (ONU) criou esse verdadeiro monstro que é o Estado de Israel. Sem contar no fato de que a população palestina já tentou, em outros momentos da história, realizar manifestações pacíficas, protestos em defesa da Palestina. Como Israel respondeu? Fuzilando os palestinos. É essa a solução política que ele quer?

As intifadas também mostram que a proposta de Cantalice é desorientada. A população palestina não estava armada e, mesmo assim, foi assassinada aos montes. Ou seja, nem mesmo uma luta menos agressiva funcionou. É matar ou morrer! Com os episódios citados, não precisamos imaginar nada: a história já mostrou que Cantalice está errado.

No que diz respeito à parte militar da guerra, o que vemos até aqui é que Israel tem muito discurso, mas pouca bala. O número estrondoso de palestinos assassinados se deve quase que exclusivamente por conta dos bombardeios israelenses, da Força Aérea de Israel. Na luta armada, Israel está enfrentando dificuldades inéditas, tanto é que, até agora, não conseguiram invadir a Faixa de Gaza apesar das tentativas quase que diárias.

Por fim, vamos comentar sobre a seguinte declaração de Cantalice:

“Tem uma questão de fundo, tem uma questão sobre os evangélicos brasileiros e as visões que eles têm sobre Israel […] Essa questão que envolve a terra santa incide politicamente nas questões aqui.”

Traduzindo o jargão ensaboado de Cantalice, o que ele quer dizer é que o governo Lula precisa tomar cuidado para não se indispor com os evangélicos sionistas. Se existe, de fato, uma base significativa do sionismo dentre os evangélicos brasileiros, é o tipo de coisa com a qual, infelizmente, Lula terá que brigar. Vale mais Lula perder parte de seu eleitorado do que não defender a luta do povo palestino contra uma das maiores opressões da história. Afinal, se apoiar Hitler gerasse votos, por isso seria necessário defender Hitler?

Sem contar no fato de que se trata de uma política inócua. Se existe um setor da população que é sionista, que defende firmemente o Estado de Israel, Lula nunca vai ganhar essa parcela da população porque, assim como é com a segurança pública, Bolsonaro sempre vai apelar mais a essa parcela.

No fim, fica claro que a política defendida por Cantalice quando não é oportunista e baseada em informações falsas, é reacionária. Diferente do que ele diz, a esquerda deve defender a Palestina de maneira incondicional. E isso significa, necessariamente, defender a ação heroica do Hamas contra a ocupação nazista de Israel.

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