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O papel de Bongo no golpe

Assassinato de Gaddafi desestabilizou ainda mais a África

Conhecido pela alcunha "Homem de Obama na África", o ex-presidente deposto Ali Bongo teve um papel fundamental no golpe do imperialismo contra Gaddafi

Em 2010, teve início a Primavera Árabe, uma série de protestos que percorreu vários países do Oriente Médio e da África (em especial os do norte). Tendo início na Tunísia, os protestos se espalharam por inúmeros outros países, os principais deles sendo a Líbia, o Egito, o Iêmen, a Síria e o Barém.

Capitalizando em cima de insatisfações populares decorrentes de situações de crise econômica e social por que passavam esses países, especialmente em razão da crise geral do capitalismo iniciada em 2008, os países imperialistas, em especial os Estados Unidos e a União Europeia, buscaram impulsionar em todos os lugares a população insatisfeita, a fim de derrubar governos nacionalistas que contrariavam os interesses do imperialismo.

Um dos principais golpes de Estado (senão o principal) foi aquele feito contra o líder nacionalista Muammar al-Gaddafi, resultando em seu assassinato.

Como fora dito acima, os protestos também atingiram a Líbia. Contudo, apenas as mobilizações impulsionadas pelo imperialismo não estavam sendo suficientes para derrubar o governo. Afinal, Gaddafi contava com amplo apoio popular.

Assim, o imperialismo viu a necessidade de intervir diretamente. A intervenção, de natureza militar, durou de 19 de março a 31 de outubro de 2011. As operações foram formalmente comandas pelos EUA até o dia 27 de março, quando passou a ser comandada formalmente pela OTAN.

Uma zona de exclusão aérea foi estabelecida pelo Conselho de Segurança da ONU como meio de aprofundar as sanções econômicas contra a Líbia e também impedir que o governo de Gaddafi utilizasse a força aérea para combater os “rebeldes” impulsionados pelo imperialismo. Apesar dessa zona, o país foi bombardeado pelas forças aéreas francesa, inglesa e canadense. Ataques também partiram de navios de guerras americanos e britânicos, os quais, nas primeiras horas de ataques, dispararam pelo menos 110 mísseis de cruzeiro Tomahawk.

Com a ação direta do imperialismo, os rebeldes conseguiram se sobressair sobre a parcela da população que apoiava o governo e as forças deste. O golpe foi consumado com o assassinato de Gaddafi.

Certo, mas o que isto tem a ver com o Gabão?

Tudo.

Especialmente com o presidente que foi deposto, Ali Bongo Ondimba.

Filho de Omar Bongo, ditador lacaio do imperialismo francês que governo o Gabão por 42 anos, Ali se alçou à presidência do país em 2009, após a morte de seu pai.

Ali Bongo não rompeu com o imperialismo. Pelo contrário, além de manter relações com o imperialismo francês, também se aproximou do norte-americano. Dado o seu nível de servilismo perante os EUA, ficou conhecido como “o homem de Obama na África”.

A alcunha não era nenhum exagero. Desde o início de seu mandato em 2009, Bongo procurou aproximar-se do EUA. As relações se solidificaram no ano de 2010.

E o que ocorreu nesse ano? O início da Primavera Árabe. Em relação ao Gabão, foi quando o imperialismo concedeu ao país um assento temporário no Conselho de Segurança da ONU.

E por qual razão foi concedido ao Gabão essa posição? Obama (e o imperialismo) queria que os membros do CSONU apoiassem a intervenção imperialista na Síria para derrubar Muammar al-Gaddafi.

Nessa oportunidade, Ali Bongo transformou o Gabão em uma ponta de lança do imperialismo contra a Líbia. Em fevereiro de março de 2011, o país votou a favor de duas resoluções do Conselho de Segurança. Uma delas impunha sanções econômicas à Líbia. Como se sabe, a política genocida de sanções serve para atingir os trabalhadores dos países atrasados, a fim de que instigar uma revolta contra seus respectivos governos quando estes contrariam o imperialismo.

E a outra resolução? Foi aquela que já mencionada, a imposição da zona de exclusão aérea sobre a Líbia.

Mostrando que Bongo estava disposto a ser um serviçal fiel dos EUA, ele foi o primeiro chefe de Estado africano a conclamar Gaddafi a renunciar.

Segundo relata J. Peter Pham, diretor do Centro Africano no Conselho Atlântico (um think tank norte-americano), foi Bongo quem tomou a iniciativa de se opor ao governo nacionalista de Gaddafi no que diz respeito aos países africanos do Conselho de Segurança:

“Enquanto que os outros países do CSONU estavam hesitantes, o Gabão pavimentou o caminho e ajudou a administração (dos EUA) a conseguir o voto dos países africanos para as resoluções contra a Líbia.”

O protagonismo de Bongo no golpe contra Líbia mostrou ao imperialismo a importância estratégica do Gabão para o domínio da ditadura imperialista sobre a África. Afinal, o presidente gabonês mostrou uma grande capacidade de convencer os demais chefes de Estado africano. Conforme relatou o embaixador americano para o Gabão de 2010 a 2013, Eric Benjaminson, a habilidade de Bongo de influenciar os outros líderes decorria, em grande parte, de funcionários do governo que haviam feito parte do governo de seu pai, Omar Bongo.

Ali capitalizou sobre isto. Segundo Benjaminson, o alto escalão gabonês tinha contato direto com outros líderes africanos, através mesmo de seus telefones pessoais. Com isto, os EUA utilizavam os gaboneses para convencer Gaddafi a renunciar.

Não deu certo. Com toda a razão, Gaddafi não renunciou, e o imperialismo foi obrigado a intervir diretamente, desmascarando a farsa de que estava acontecendo uma revolução contra o governo nacionalista líbio.

Apesar de as negociações capitaneadas por Ali Bongo não terem sido frutíferas a ponto de Gaddafi renunciar, mesmo assim, o presidente lacaio se mostrou valoroso para Obama. Repassou uma grande quantidade de informações dos outros países africanos, informações estas que conseguira em conversas com outros chefes de Estado.

Obviamente, tais informações foram utilizadas pelo imperialismo para a intervenção na Líbia e o golpe contra o governo nacionalista.

Em suma, Ali Bongo era, literalmente, “o homem de Obama na África”. Aliás, era um espião.

Não é coincidência que, em várias de suas visitas aos EUA, era extremamente bem recebido por Obama. Ele foi o primeiro líder africano a ficar hospedado na Blair House, uma residência privada do presidente dos Estados Unidos destinada a receber convidados especiais. Já em 2014, durante a Cúpula de Líderes Africanos em Washington, Bongo e sua esposa sentaram à mesa ao lado de Obama e a então primeira-dama, Michelle.

Em suma, Ali Bongo foi um exemplar serviçal do imperialismo, traindo o povo africano, em especial o da Líbia, ao atuar como ponta de lança no golpe de Estado.

Durante os anos do governo nacionalista de Gaddafi, as reservas de petróleo existentes na Líbia foram nacionalizadas. As receitas advindas desse recurso energético foi utilizada como indutora do desenvolvimento econômico do país. Viu-se um grande desenvolvimento da indústria e da infraestrutura líbia. Foi durante os anos de Muammar al-Gaddafi que foi construído o maior sistema de irrigações do mundo, algo fundamental para um país desértico com a Líbia. Tal obra foi feita com os recursos do próprio país, sem que este se endividasse com o FMI, órgão do imperialismo.

Ainda durante o governo nacionalista, a taxa de alfabetização do povo líbio foi de 25% para 88%. A saúde era gratuita e havia uma gama de programas sociais que garantiam uma vida digna para a população, dentro do possível, em um país oprimido.

E como está a Líbia atualmente, após o golpe de 2011 e o assassinato de Gaddafi? Arruinada. O país foi assolado por uma guerra civil que durou cerca de uma década, resultando na morte de centenas de milhares de pessoas.

Com o golpe, o poder político se fragmentou, e passou a ser disputado por inúmeras facções, o que levou a proliferação do jihadismo, situação que expõe a hipocrisia do imperialismo: dizem ser combatentes de terroristas, de extremistas islâmicos. Contudo, são justamente suas intervenções sobre os países oprimidos da África e do Oriente Médio que levam à proliferação de tais grupos.

Dentre eles, o principal que se destacou após o golpe que derrubou Gaddafi foi o Estado Islâmico, conhecido por sua notória crueldade. Não coincidentemente, esse grupo já foi utilizado pelos EUA e pela OTAN para combater outros governos nacionalistas, com o de Bashar al-Assad, na Síria.

O golpe contra Gaddafi resultou, então, em uma maior instabilidade no continente.

Ademais, com a completa desagregação social provocada pelo imperialismo na Líbia, desagregação esta que contou com a fundamental participação de Ali Bongo, a escravidão voltou ao país, de forma sistematizada, a ponto de pessoas serem simplesmente sequestradas em públicos para serem vendidas como escravas.

Enquanto que sob Gaddafi o país chegou a ser o primeiro IDH do continente africano, e o 53º do mundo, hoje em dia é 105º.

Este é o legado de Ali Bongo na Líbia. Foi o principal ponto de apoio do imperialismo para derrubar um dos principais líderes nacionalistas da história da África.

Ali Bongo foi um traidor do povo Líbio, do povo gabonês e dos africanos, como um todo. Sua deposição veio a calhar, no momento em que uma nova janela de oportunidade surge para o desenvolvimento de um novo nacionalismo africano.

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