Sendo o modus operandi do imperialismo destituir governos que vão contra seus interesses, Mohammed Morsi, primeiro presidente eleito democraticamente no Egito em 2012, com ideais progressistas e defensor dos oprimidos, foi derrubado por um golpe militar no ano seguinte (2013), condenado a 45 anos de prisão, vindo a morrer em 2019 diante do tribunal, aos 67 anos, quando falava na tribuna para um juiz.
Morsi era um dos principais membros do Partido da Liberdade e Justiça quando, exatamente a um ano da sua posse, começaram os “protestos” pedindo-lhe que se retirasse do poder. O chefe das forças armadas, general Abdel Fatah Al-Sisi, anunciou na televisão estatal que estava a suspender a constituição e nomeou Adli Mansour, chefe do tribunal constitucional, como presidente interino. Um ano após o golpe, em uma eleição totalmente duvidosa, Al-Sisi foi eleito presidente com mais de 96% dos votos.
O presidente deposto também era uma liderança da Irmandade Muçulmana, entidade que logo após o golpe foi extremamente perseguida pelos militares e atualmente é considerada um grupo terrorista pelo governo egípcio. É óbvio que um dos principais motivos da derrubada de Morsi era sua luta em defesa dos palestinos. Morsi foi membro-fundador do Conselho do Egito para a Resistência contra o projeto sionista, se tornando assim uma pessoa indesejada para os planos do imperialismo para a região.
De acordo com o jornal de notícias Monitor do Oriente Médio, já em seu discurso de posse Morsi reivindicava os direitos dos palestinos. “Na Universidade do Cairo, em 30 de junho de 2012: ‘Anuncio aqui que o Egito, seu povo e sua instituição presidencial permanecem ao lado do povo palestino até que reconquistem seus direitos’.” – afirma o jornal. Morsi, também defendia que a Palestina deveria ser um Estado independente, soberano com Jerusalém como capital e com pleno direito de retorno aos refugiados.
Morsi foi a primeira liderança significativa do Egito a entrar na Faixa de Gaza desde o início da ocupação israelense em 1967, abrindo assim o caminho para várias outras lideranças regionais a fazer o mesmo. Vendo o sofrimento do povo em Gaza, o governo decide considerar a abertura permanente da Travessia de Rafah para o livre movimento de pessoas e bens. Sua administração não perdeu tempo em acelerar este processo. Uma pequena abertura foi concretizada antes do golpe de Estado.
Por toda a imprensa ligada ao imperialismo, Morsi era considerado como um apoiador e colaborador de “terroristas” por contas de suas amizades e negociações com várias lideranças da resistência armada palestina, principalmente o Hamas e seus laços políticos com o governo do Irã. Uma frase sua que ficou marcada na história, dada logo após um bombardeio de Israel sobre a Faixa de Gaza que matou quase 2 dezenas de pessoas incluindo crianças e ferindo mais de uma centena e meia, foi a seguinte:
“Digo a eles, em nome de todo o povo egípcio, que o Egito de hoje não é o Egito de ontem e que os árabes de hoje são diferentes dos árabes do passado.”
Como não poderia ser surpresa para ninguém alguns anos depois do golpe contra Morsi, o Brigadeiro-General do exército israelense, Aryeh Eldad, num jornal local (jornal Maariv), afirmou que Israel trabalhou ativamente para derrubar Mohammed Morsi. “A eclosão da revolução de Janeiro coincidiu com a avaliação da segurança israelense de que o presidente eleito Mohamed Morsi, um homem da Irmandade Muçulmana, pretendia cancelar o acordo de paz com Israel e enviar mais forças militares egípcias para a Península do Sinai.” afirmou o militar israelense.
Eldad também aponta como os Estados Unidos e todo o imperialismo se envolveu diretamente na queda do presidente do Egito. De acordo com o General, “Israel foi rápido e disposto a ativar as suas ferramentas diplomáticas, e talvez meios ainda maiores, para levar Abdel Fattah Al-Sisi ao poder no Egito, e convencer a então administração dos EUA, sob o presidente Barack Obama, a não se opor a esta medida.”