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Camilo Duarte

Militante do PCO e colunista do Diário Causa Operária. É formado em Física pela UFPB.

Coluna

Momento de férias ou de luta?

Nas últimas semanas, a esquerda parece ter entrado em férias coletivas, ao menos nas atividades tradicionais

Nas últimas semanas, a esquerda parece ter entrado em férias coletivas, apenas não combinaram com o imperialismo. Os bombardeios seguem na Faixa de Gaza e não encontramos nenhum grupo da esquerda disposto a fazer atividades de rua.

Cenário nacional

Nacionalmente, essa tendencia política ficou explícita com a negativa de todas as forcas políticas de realizarem atividades nas últimas semanas de dezembro. Basicamente, após a manifestação do dia 3 de dezembro, os setores da esquerda que não conseguiram dar sua orientação política às manifestações se abstiveram de realizar qualquer atividade.

Saíram de férias coletivas, apenas não combinaram a trégua com os oponentes, que, na Palestina, continuam a bombardear Gaza e, aqui, interferem no governo. Diante dessa realidade, o PCO, militantes avulsos de outras forças e ativistas independentes, realizaram, na manhã do dia 17 de dezembro, uma caminhada em São Paulo pelo fim do genocídio em Gaza.

A caminhada

A mobilização iniciou por volta das 11h. Concentrou-se na praça Oswaldo Cruz, no início da Avenida Paulista, deslocando-se para o MASP.  Embalados pela Bateria Zumbi dos Palmares, os manifestantes marcharam entoando cânticos e gritos de guerra, denunciar o genocídio na Faixa de Gaza, destacando o elevado (mais de 8 mil) número de crianças mortas pelos bombardeios israelenses.

Posição reforçadas nas palavras de uma palestina residente no Brasil, Diana: “O que está acontecendo na Palestina é inacreditável. Esses massacres contra crianças, a migração forçada daqueles que saíram de suas casas, e tiveram as suas casas demolidas, levadas ao chão. É um pecado. As escavadeiras israelenses foram e derrubaram as tendas das famílias refugiadas. É uma cena que te faz chorar, crianças e mulheres.”

A caminhada terminou com um convite para participar dos Comitês de Luta em defesa da Palestina:

“Queria convocar todos os companheiros que se mantiveram na rua nesse domingo e que estão dispostos, se solidarizando com a situação da Palestina, a participar, todos os sábados, na rua Conselheiro Crispiniano, número 73, das reuniões dos Comitês de Luta em defesa da Palestina, onde vamos discutir democraticamente e estar nas ruas todos os dias panfletando, colando cartazes, fazendo debates e grandes manifestações. Não seremos cúmplices do sionismo e nem tiraremos férias agora nesse final de ano. Continuaremos nas ruas todos os dias e convido todos, independente de partido ou organização, a estarem no Centro Cultural Benjamin Péret, em São Paulo, todos os sábados às 16h”, afirmou Uriel Roitman, militante da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR).

É momento de férias?

Temos que nos questionar se o momento atual é propício a essa pausa praticada pela esquerda e quais são as consequências dessa política. É evidente que a esquerda brasileira pouco contribuiu com a causa palestina, tão pouco que, vergonhosamente, sua pausa quase não é percebida.

Felizmente, o Hamas e demais combatentes, apoiados no povo palestino, seguem firmes, impondo uma derrota ao sionismo e ao imperialismo em geral, demonstrando que o momento não é para descanso, mas para luta e mobilização.

Se, internacionalmente, férias coletivas da esquerda não são convenientes, o mesmo se aplica à dinâmica política nacional. Vimos o governo Lula, que sofreu derrota após derrota no Congresso, ser forçado a desistir de suas preferências de indicações para o TSE e PGR.

Com certeza, o momento nacionalmente não é para férias, mas para mobilização. O Decreto 11.841/2023 fortaleceu os poderes das Guardas Municipais, contrariando a Constituição Federal de 1988.

Em qual sentido vai a esquerda?

O PT, ao menos na Paraíba, está deslocado da realidade. Aqui, pretendem realizar um “Ato pela vitória da democracia e derrota da extrema direita”.

Somos forçados a perguntar onde houve uma vitória da democracia? A vitória de Lula nas eleições de 2022 e o seu consecutivo governo foram uma vitória da mobilização popular e não de uma “democracia”, ou de instituições democráticas.

Quanto à derrota da extrema-direita, o que podemos falar é que sua derrota, com a descontinuidade do seu regime na esfera do Executivo Federal, foi fruto da mobilização popular. Mobilização essa que não é impulsionada pelo PT, mesmo sendo sua única força real.

Na questão da Palestina, o PT não se propõe a realizar atividades de rua. Aparentemente, o partido ainda acredita conseguir contornar a situação com acordos, mesmo com toda a experiência contrária.

Em vez de utilizar o momento pela mobilização em torno da questão da Palestina, o PT se confunde com o governo e tenta uma posição insustentável. Já é vexatória e insustentável a passividade em relação aos ataques de Israel para um governo… Imagine um partido de esquerda…

Sempre pode piorar

Entretanto, nada é tão ruim que não possa piora. Outras forças se esforçam para demonstrar essa máxima, havendo destaque para o PSTU. Este grupo consegue se colocar em uma posição ainda pior que o PT.

O PSTU, neste sentido, é quase insuperável: quando se pronuncia sobre a Palestina, ataca também o Hamas como “uma direção burguesa, ligada ao fundamentalismo islâmico”. Ataque esse que serve apenas à atual política do imperialismo norte-americano de dois Estados, desmerecendo os combatentes, favorecendo os agressores.

Aqui em João Pessoa, temos um representante do PSTU no Comitê em Defesa da Palestina, que fez essa demonstração in loco. O PSTU não teve contribuição significativa em nenhumas das atividades propostas. Para um “partido socialista dos trabalhadores unificados”, não consegue mobilizar muitos trabalhadores…

Entretanto, uma atividade em especial chamou atenção do militante do PSTU: um abaixo-assinado solicitando o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com Israel enquanto houver agressões sionistas.

Quando falo que chamou atenção é que houve um esforço titânico do mesmo, na verdade, qualquer esforço, para colher assinaturas. Mas apenas para se manifestar contra o governo. Não basta bater no Hamas, agora o PSTU se propõe a bater no governo Lula.

Como militante do PCO, digo que, desde o início, não nos opomos, mas também não demos grande consideração ao abaixo-assinado.  No sentido que a força real era a mobilização e as manifestações, o abaixo-assinado só teria alguma força como uma expressão dessa mobilização.

E aqui chegamos ao ponto de inflexão: o militante do PSTU não se dispunha a colher mais assinaturas ou realizar atividades durante seu período de férias. Defendeu enviar um abaixo-assinado com um número baixo de assinatura para a quantidade de entidades do Comitê. Fazer um abaixo-assinado de um Comitê com mais de 15 entidades, e enviá-lo com pouco mais de 150 assinaturas, como queria o militante do PSTU, é desmoralizante para o Comitê e para a luta da Palestina. Um abaixo-assinado nestes moldes serviria apenas para alegar que a Palestina não tem apoio entre os brasileiros. Com certeza, seria divulgado pelos sionistas como prova de seu “apoio” político.

A realidade transparece quando um único militante do PCO, em uma hora de atividade, recolheu 54 assinaturas em nome do Comitê. Concluindo, não precisamos de uma atividade para criticar o governo Lula, o PCO o faz justamente quando necessário, sendo dever do governo romper com o Estado de Israel, mas precisamos de atividades para mobilizar a população para termos força em defesa dessas bandeiras históricas da esquerda.

Chamamos os companheiros a participar das reuniões do Comitê em Defesa da Palestina em João Pessoa e região, e dos mutirões e demais atividades do Comitê.

Nosso contato: (83) 9 9308-2958

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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