A invasão das sedes dos três poderes no dia 8 de janeiro por militantes bolsonaristas revelou a fragilidade do governo Lula. Os acontecimentos deixaram explicito que toda a operação foi montada diretamente pelo alto comando das Forças Armadas, que, com o apoio da polícia militar e seu braço interno no governo, o GSI, organizaram um golpe de tipo político contra o governo eleito. Os militares garantiram o sucesso da operação, e em resposta o ministro da justiça Flávio Dino, um dos principais responsáveis por não organizar a defesa dos prédios públicos, levantou a necessidade de “prender todos os responsáveis” pelas manifestações bolsonaristas. No entanto, quem irá prender os militares?
Mesmo dando diversos discursos enérgicos, Flávio Dino foi prontamente desmoralizado pelas Forças Armadas, que sob a figura do general Júlio César de Arruda, afirmou ao ministro que “você não vai prender pessoas aqui”. O general, que corresponde aos interesses do alto escalão das Forças Armadas deu esta enfática declaração após Flávio Dino tentar prender manifestantes que estavam em frente aos quarteis do exército durante o período das manifestações em Brasília.
A notícia foi dado pelo jornal norte-americano The Washington Post, no último dia 15, informando que os militares posicionaram tanques e três linhas de soldados no local para impedir a repressão dos manifestantes. O caso é mais um dos fortes exemplos que foram dados desde a manifestação em Brasília que, apesar das declarações políticas de Dino, sobre reprimir os manifestantes e prender aqueles que organizaram as manifestações, tudo isso rapidamente se revelou uma total farsa, pois apesar de prometer, o ministro da justiça não possuí qualquer força política para ir atrás daqueles que de fato organizaram a desestabilização do governo.
Em outra matéria, agora na coluna publicada por Merval Pereira no jornal O Globo, um dos principais porta-vozes da burguesia golpista, o articulista afirmou que o governo Lula não poderá tirar o ministro da defesa José Múcio do cargo, devido sua profunda ligação com os militares. Segundo Merval, Lula iria deflagrar uma “guerra civil” caso tomasse esta decisão, outro problema que demonstra a fragilidade do governo perante os militares.
Contudo, no lugar destes fatos servirem para gerar uma forte preocupação da esquerda para realizar uma ampla defesa do governo, grande parte da esquerda pequeno-burguesa se mantém na defesa da política institucional, confiando inclusive em figuras golpistas como Alexandre de Moraes. Nesse mesmo sentido, estes setores já criaram novas explicações para a realidade que se impõe.
Em primeiro lugar inventaram que o governo, apesar de toda pressão militar, saiu fortalecido com a crise, agora, com as novas declarações do alto escalão das forças armadas, uma nova teoria surgiu, a de que não devemos prender as pessoas responsáveis pelas manifestações contra o governo, pois isso poderia causar uma reação bolsonarista. Segundo esta teoria, o governo e o STF não prendem pessoas como Jair Bolsonaro, não por que não possuem força, mas sim pois seguem uma determinada estratégia.
Muito se discute se Bolsonaro deve ser preso amanhã ou nos próximos meses, se os militares devem ser investigados agora ou em um futuro distante, no entanto o que isso tudo serve é para esconder a difícil realidade do governo. Os militares são um quarto poder existente no Brasil, este que não se coloca subordinado a nenhum governo nacional e não poderá ser parado com meras manobras institucionais.
A única resposta real para as Forças Armadas é a mobilização popular. A história do golpismo latimo-americano demonstra na prática como resolver este problema. Em todo o continente as Forças Armadas foram protagonistas de ditaduras e golpes de Estado em todo último século, no entanto, apenas com uma forte mobilização popular puderam ser derrotados. O caso argentino, onde a população saia às ruas exigindo fuzilamento dos militares, sendo a única maneira de garantir prisão de parte da cúpula militar, deixa claro a dificuldade de se enfrentar este setor.
O que ocorreu no dia 8 de janeiro é um problema sério para o governo Lula e os trabalhadores. Não houve tentativa de golpe, mas sim um ato de desestabilização do governo eleito, que fracassou, sobretudo nas mãos de Flávio Dino, de conter os atos de sabotagem. Todo o caso mostrou que as Forças Armadas operam no sentido de sabotar o governo Lula, e para isso não basta ter um governo com pulso firme, pois todos aqueles que supostamente irão reprimir os militares, estão subordinados às Forças Armadas e fazem parte do mesmo grupo bolsonarista.
O único poder que Lula tem está no povo que o elegeu, e principalmente na ampla mobilização dos trabalhadores. É preciso que a CUT, MST, PT e demais organizações hajam no sentido de expandir a mobilização para além da militância e criar um verdadeiro governo apoiado nas amplas massas.