Valéria Guerra

Jornalista (UMESP), historiadora, atriz com DRT-RJ, escritora, colunista do 247, PCO, e do meu site (https://guerraluz.prosaeverso.net/); mestre em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação; professora do Estado do RJ na cadeira de biologia, poetisa e ativista contra a desigualdade no Brasil e no mundo.

Adestrar não é educar

Massacre da serra elétrica na educação brasileira

Talvez, no íntimo, o rapazola que de forma hedionda tirou a vida da professora de Ciências na Vila Sônia em São Paulo tenha se revoltado contra o status quo doentio que só adestra

Extirpar a miséria do grande Brasil é o sonho de consumo de muitos brasileiros, e eu me incluo também nesta meta. Estamos com algum caminho andado para esta realização com o retorno da Esquerda ao centro, mas quando nos deparamos com a ideologia malsã do NEM (Novo Ensino Médio) em curso dentro das Escolas públicas do nosso território: fica difícil sorrir.

A proposta chega a ser perversa, pois substitui disciplinas como biologia por uma falácia chamada Projeto de vida, e Química por “ O que rola por aí”. É de dar dó assistir o panorama aviltante, que condena professores pós-graduados, com salário inicial de 1.300 ( que já é um estupro de alma), tendo que arrefecer seus ânimos sacerdotais diante de tais injustiças escravagistas.

Aliás, os professores estaduais fluminenses sequer absorveram os 600 reais referentes do piso nacional, eles estão endividados e sem “reajuste” há quase um decênio.

Leitores progressistas precisamos sensibilizar a população, que está anestesiada, afinal são anos de deseducação. Na verdade, o salário destes mestres não passa de uma bolsa-educador, e isso é vergonhoso. Quero perguntar ao governo do Rio de Janeiro a razão de tanto descaso e opressão contra uma categoria tão fundamental ao desenvolvimento social e humano de um país? Tal “deforma” não foi revogada, e se mantém sob o olhar do novo ministro da Educação. Ela se constitui em mero despotismo, chega a ser perversa, ao substituir disciplinas como biologia; química e física por piadas.

 Um país onde a covardia anda à solta. Morrer esfaqueada pelas costas ao exercer o sagrado ofício do magistério virou notícia. Ela não é a notícia mais importante em nosso país; é “apenas” a nota sensacionalista da hora. Quem sofre mesmo é a família enlutada daqueles que morrem vitimados por um processo vil de deseducação.

 Hoje o deus-mercado aproveita tudo de ruim que qualquer humano ofereça para transformar em dinheiro; desde influencers medíocres, com suas letras musicais infames e ridículas até políticos que topam altas paradas para ficarem mais ricos. O Brasil está sendo recolonizado de golpe em golpe. O povo só obedece; afinal a chibata dos baixos salários, do analfabetismo, do desemprego e de outras mazelas é o recheio do bolo do poder.

Quem perseguiu e matou os chamados “negros da terra”, ou índios; e trouxe milhares de africanos abarrotados em navios negreiros, sob toda sorte, ou antissorte de maus tratos, não poderia perder ao longo dos séculos sua pecha de capitão-do-mato. Atualmente, o capitão-do-mato passou a vestir Prada, e ocupa cargos empresariais, no parlamento, no executivo, e também no judiciário nacional.

Quatrocentos e vinte e cinco anos foi a condenação de um ex-governador do Rio de Janeiro, que foi solto recentemente.

 Como não ser esfaqueado em salas de aula feitas “nas coxas” de um sistema senhorial, que planejou para os nascidos em solo nacional, e seus descendentes miscigenados: um destino cruel,  de eternos condenados e escravizados de uma política mundial imperial.

Os espaços criados no sul do Brasil, sob os holofotes de uma lei de Terras (1850) saqueadora de direitos da população, especialmente a escrava, foi realizada por um pensamento “científico” que afirmava que há diferença evolutiva entre etnias. Era preciso “branquear” o povo brasileiro.

E a herança nacional prosperou, e em função disto cada professor está sendo esfaqueado pelas costas todos os dias. Concorrer com influencers mal dançarinos que enxovalham o português e enriquecem “cantando” dialetos desafinados, pode consciente ou inconscientemente despertar no âmago de jovens brasileiros: a ira, quando se depararam com os conteúdos da boa química, ou da boa biologia; afinal tal clientela fora moldada a aceitar “O que rola por aí” e “Brigadeiro caseiro” como disciplinas da nova grade do Ensino Médio, que foi implantada pela Reforma absurda do Temer.

Talvez, no íntimo, o rapazola que de forma hedionda tirou a vida da professora de Ciências na Vila Sônia em São Paulo tenha se revoltado contra o status quo doentio, e traduzido na base da educação que segrega, pune e exclui. Não esqueçamos que o senhor secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, “lamentou o ocorrido”. Estaria ele sentido ou culpado, já que sua politica de exigir compulsoriamente –  a realização da chamada diária, via internet, para controlar alunos e professores (já tão humilhados por baixos salários) – pareceu mais uma  “punhalada” de opressão no dorso da classe docente e discente.

Sem dúvida, que o psicológico humano dos “clientes”  maltrapilhos do Sistema de Ensino falido e explorado neste país está abalado.

 Existe uma cruz no lugar do deus Guaracy (deus Sol) e Tupã ( deus Trovão): a cruz da eterna desigualdade.

 Dia 27 de março de 2023, manhã, uma professora foi assassinada por um garoto de 13 anos. A Imprensa não pode negar este fato. Ele um dos  frutos podres oriundos de um outro episódio funesto da História do Brasil, que completou 59 anos no dia 31 de março: O golpe militar de 1964, momento insalubre e retrógrado do cenário político e social brasileiro. E não será a prisão de Donald Trump que irá tirar a motosserra do pescoço do massacrado professor brasileiro.

 Quem será o nosso (brasileiro) Carniceiro de Plainfield?

 #ValReiterjornalismohistórico

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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