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Lugar da mulher

Manuela D’Ávila quer saber quem cuida dos filhos dos políticos

Enquanto se preocupa com as dificuldades de as mulheres fazerem política, Manuela D'Ávila repete chavões identitários, que apenas dificultam a luta geral das mulheres

Expulsos do paraís

Manuela D’Ávila publicou um artigo intitulado “Por que as mulheres desistem da política?”, no qual tenta elencar os motivos que afastam as mulheres da política. Na verdade, já era esperada a resposta: as mulheres estão presas ao trabalho doméstico. A pergunta que nunca foi feita é “por que quando mulheres, como Margareth Thatcher, estiveram no poder a condição da mulher não melhorou em nada?”.

No texto, Manuela D’Ávila faz reflexões dos porquês que a fizeram desistir de concorrer e contrapõe sua experiência com a dos homens: Volto a 2016, quando não concorri, ou a 2018, quando ouvi de um homem que minha filha me acompanhava demais. Quem cuidava das crianças dele em suas longas ausências de 15, 20 dias?”.

Com a declaração acima, de alguém que não pertence às camadas mais pobres da população, podemos deduzir como é a vida das mulheres trabalhadoras, que quase nunca têm creche para deixar os filhos; mulheres que muitas das vezes precisam deixar suas crianças com os avós ou algum outro parente, mas nem sempre isso é possível, não é raro aquelas que deixam suas crianças trancadas em casa ou, na pior das hipóteses, deixá-las sem qualquer tipo de acompanhamento.

Seguindo no texto, Manuela D’Ávila diz que respondia aos que a provocavam para concorrer ao Senado nas eleições de 2022: ‘Olha, minha filha precisa de mim nesse momento, não foi fácil o que vivemos no último período’. Eles interpretavam isso como um gesto equivocado meu. Como se eu estivesse cedendo aos ataques ou virando uma pessoa menor. Diz também que ninguém indaga aos homens sobre suas famílias e “ocorre que, na maior parte das vezes, essas pessoas são homens que não calculam esses impactos na vida de suas esposas e crianças”.

Segundo a própria autora do artigo, sua situação é privilegiada, uma vez que seu marido assume essa jornada, não lembra em nada a realidade de praticamente nenhum dos homens com quem cruzei na jornada política. E ainda diz que “um dia a gente vai debater publicamente sobre isso. Quem cuida das crianças dos homens políticos?”. Bom, em um país no qual os políticos recebem todo o tipo de assistência, inclusive quando deixam seus cargos, não é difícil de imaginar.

Mea culpa

Alguém já se perguntou por que as sessões das casas legislativas começam, em geral, no fim do dia? Por que a reunião de líderes é no horário do almoço? É o mundo dos homens. Dos horários de quem não sabe o nome da professora da criança, de quem chega em casa com a geladeira abastecida e a camisa passada”. Honestamente, quem pode ter tal nível de preocupação? Na classe trabalhadora, pelo menos, os pais não sabem os nomes da professora porque não têm tempo de ir às reuniões. Muitas das crianças têm mais de uma professora porque até mesmo essa profissão é atacada por todos os lados pelo Estado.

Manuela D’Ávila diz que num país desigual como o nosso, mulheres (majoritariamente brancas, assim como [ela]) eventualmente ocupam espaços de poder contando com outras mulheres para dar conta das responsabilidades familiares que são tidas como delas: levar e buscar filho na escola, organizar as refeições e a limpeza das famílias. Muitas, flertando com o feminismo liberal, dizem ter rompido o teto de vidro imposto pelo machismo quando chegam lá. Mas romperam exatamente com o quê, se esse lugar não pode ser ocupado por qualquer mulher?(grifo nosso).

O jargão ‘espaço de poder’ é muito utilizado nos meios universitários e identitários. Toda hora se fala em ‘ocupar espaços de poder’ como se isso fosse mudar alguma coisa na vida das pessoas. Já se fez uma grande festa porque as lojas do grupo Magazine Luiza tinham aberto cargos de gerência para pessoas negras. O anúncio demagógico foi feito após um homem negro ter sido morto por seguranças de um supermercado. Apesar de os identitários terem soltado fogos, a vida segue, a polícia continua matando pessoas negras e, fora aquelas que eventualmente conseguiram o posto de gerência, os salários continuam de fome.

Já tratamos neste Diário da questão de Eduardo Leite, governador tucano bolsonarista – que se declarou gay ao se prontificar para concorrer à presidência –, que está simplesmente destruindo a Educação no Rio Grande do Sul. Sua ‘posição de poder’ está servindo para melhorar ou piorar a vida da população LGBTQIA+ naquele estado? Essas ‘pautas’ identitárias não passam de falácias, a realidade comprova.

No artigo, somos indagados que a gente vive debatendo as razões pelas quais as mulheres não fazem política. Mas cabe na política o mundo invisível (porque invisibilizado) do trabalho reprodutivo? Não. Manuela D’Ávila diz que “a cada cara feia para uma mulher que se desloca para uma atividade com sua criança, uma porta se fecha para quem assume sozinha essas responsabilidades que deveriam ser todos”. Mas nós sabemos muito bem a condição da mulher, especialmente as trabalhadoras, que estão em condição mil vezes pior.

Luta feminina x identitarismo

O que tem ocorrido ultimamente é a cooptação das lutas das mulheres pelo identitarismo. Essa ideologia importada dos EUA e financiada por fundações-fachada da CIA, muitas vezes, retira a luta da mulher por sua emancipação e a substitui por ‘pautas’, por ‘disputas de narrativa’, pela divisão do feminismo em função da cor da pele.

Esse artigo de Manuela D’Ávila é bom para esclarecer por onde andam as preocupações das pessoas que fazem política. Existe o problema para as que se elegem? Sem dúvida, mas nem se comparam e não podem de nenhuma maneira se sobrepor às reivindicações das mulheres da classe trabalhadora.

Não temos que debater publicamente, como o artigo propôs, quem cuida das crianças dos homens políticos. Nosso problema é resolver a penúria na qual vive a esmagadora maioria da população. A mulher que faz política, e todas devem fazer, só vai se emancipar quando a classe trabalhadora for emancipada e, para tal, é preciso, logo de cara, deixar de lado essa falácia identitária e lutar pelos reais interesses dos trabalhadores.

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