O ano de 2023 foi o ano da infâmia quando às mazelas do Estado de Israel e seu ideal racial e religioso de país, que terminou por tirar a vida de, não se sabe, talvez dezenas de milhares de palestinos. O que começou com um ataque terrorista do Hamas, supondo que sim, terminou com um massacre sem precedentes no século XXI. Ainda não se compara aos principais morticínios do século XX, entre eles o holocausto nazista praticado, entre outros grupos sociais e políticos, contra os próprios judeus, mas dados os dias atuais e a ampla disponibilidade de informação de que se dispõe, talvez seja mais grave no critério da subestimação das reações de repúdio internacionais e do acobertamento das atrocidades de Israel pelas potências imperialistas.
É bom lembrar que o precedente do nazismo, referência quando se trata de violação dos direitos humanos em seu Estado absoluto, também transcorreu sob panos quentes da elite capitalista internacional e de suas representações nos Estados burgueses. O objetivo dos movimentos fascistas que atingiram Itália, Alemanha, Espanha e Portugal a partir dos anos 1920 não era propriamente perseguir os judeus, mas atacar os movimentos populares liderados pelo comunismo soviético e espalhados em células na Europa central e mediterrânea, em partidos até anteriores ao Partido Comunista russo, como seu par alemão. Diante do possível avanço do comunismo na Europa arrasada economicamente e do pós-guerra, a violência de Estado apropriou-se do antissemitismo cristão para fazer funcionar uma máquina de propaganda que operava para acobertar a verdadeira perseguição: às classes populares lideradas pelos movimentos de base, marxistas, que beneficiavam, inclusive, a muitos judeus trabalhadores, sobretudo como profissionais liberais como artistas, ourives, sapateiros etc.
Vale fazer essa observação porque estamos num momento de conflagração popular contra o imperialismo e vitórias robustas como a da Rússia contra a OTAN e sua estratégia de utilizar a Ucrânia como títere em sua estratégia contra as potências emergentes. O mesmo fenômeno ocorreu na África e a resposta se espalha onde é possível para o imperialismo, atualmente em Israel e, ensaia-se, na Argentina. Dois países, por sinal, com histórico de bastante sucesso na implementação de regimes fascistas e acobertamento de líderes políticos responsáveis por atrocidades contra os direitos humanos. Aliás, direitos humanos esses que o imperialismo faz questão de apregoar contra nações vítimas de suas políticas econômicas de fome.
O sacrifício de povos oprimidos é atroz, causa choque e consternação, e não deve ser motivo de celebração de qualquer ordem, nem para tratar de sua possibilidade de resultar na decadência do capitalismo parasitário. Entretanto, sua resposta, se bem-sucedida como no sahel africano e na Rússia, pode abrir caminho para muitas vitórias do anti-imperialismo e da esperança socialista de todo o mundo, hoje capitaneada pela China. O avanço econômico chinês é a consequência imediata das derrotas dos Estados Unidos e da Europa Ocidental nessas guerras que marcam o começo dos novos anos 1920, cem anos após a ascensão do fascismo.
O ano de 2024, ao que tudo indica, seguirá no caminho da queda dos regimes econômicos e dos ataques militares predatórios que marcam a humanidade desde a virada para o capitalismo parasitário apontado por Lênin já no início do século XX, diagnosticado pelo líder revolucionário como ascendente desde metade do centênio anterior.