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Hélio Rocha

Possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2013). Atualmente é repórter de meio ambiente e direitos sociais em Plurale em Revista e correspondente em Pequim.

Diplomacia

Lula volta à China para reafirmar multilateralismo

Principais acordos propostos pelo presidente, segundo a imprensa brasileira, tratam de ampliar a independência do Brasil em relação à economia do ocidente

Publicado originalmente China Radio International

https://portuguese.cri.cn/2023/03/23/ARTIWmzyIRZnZYsIIs2nCIOy230323.shtml

O fim do mês de março traz um novo capítulo na história das relações bilaterais bem-sucedidas entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China, com a viagem do presidente brasileiro recém-reconduzido ao Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, ao país asiático. Em 2004, o mesmo Lula, na mesma função, foi responsável por uma das maiores mudanças na presença geopolítica do Brasil, ao viajar ao encontro do ex-presidente Hu Jintao e abrir um canal econômico alternativo à Europa, Estados Unidos e Japão. Agora, depois de seis anos de um frio cumprimento das relações comerciais e diplomáticas entre o Brasil sob Michel Temer e Jair Bolsonaro, e a China sob Xi Jinping, a ida de Lula à China dá indícios de que será restaurada a cooperação estratégica que vigorou entre 2004 e 2016.

Para entendermos “qual é o presidente Lula” que encontrara o presidente Xi Jinping para conversas no Grande Salão do Povo, é preciso olhar para três indicativos importantes sobre a atuação do Brasil nas relações internacionais.

1. O planejamento manifesto, em carta de intenções para o governo, publicada ainda durante o processo eleitoral, sobre a necessidade de reindustrialização do Brasil, visto que o país perdeu quase metade de seu parque industrial nos últimos trinta anos, fruto da maior lucratividade da exploração do minério e das commodities do agronegócio.

2. A possibilidade, deixada às claras pela imprensa brasileira, de que o presidente indique a ex-presidente Dilma Rousseff para o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), fundado pelos países do Brics (acrônimo em inglês para Brazil, Russia, India, China and South Africa), que é a alternativa de lastro econômico para esses países frente à hegemonia das potências ocidentais e Japão, e se pretende um banco de desenvolvimento em escala global, algo que hoje é exercido apenas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

3. O voto brasileiro contra as operações militares russas na Ucrânia, assim como a recusa de Lula em ceder armas brasileiras para o conflito.

Sobre o primeiro ponto, o Brasil planeja firmar entre 15 a 20 acordos entre os dois países, sobretudo para cooperação em ciência e tecnologia. Lançamento de satélites, conexão 5G e produção de semicondutores são as principais pautas, sendo o desenvolvimento e qualificação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), estatal que cuida do avanço tecnológico do Brasil, a prioridade do governo brasileiro. Também está na agenda a cooperação com a Agência Espacial Brasileira e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Para tal, Lula deve levar a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, que foi presidente do Partido Comunista do Brasil e mantém boas relações com o Estado chinês.

Quanto ao segundo ponto, a possível nomeação de Dilma Rousseff para o NBD é algo a se celebrar. A chegada de uma ex-presidente, eleita para comandar o país em dois mandatos, à cadeira de chefe do NBD indica o desejo de Lula em estabelecer prioridade máxima na relação com os Brics quanto à economia mundial. A possibilidade de tirar o Brasil, além de outros vários países interessados no bloco, do guarda-chuva econômico do FMI, é um passo fundamental para o multilateralismo tão almejado pelos países da periferia do capitalismo.

Isso implica o terceiro ponto, que são os conflitos no leste europeu. Recentemente o Brasil tomou duas atitudes aparentemente contraditórias nos esforços para mediar a paz entre Rússia e Ucrânia. Recusou-se a fornecer armas para os soldados de Volodymyr Zelensky, em pedido feito pelo chanceler alemão, Olaf Schols. Por outro lado, votou contra a atuação de Vladimir Putin ao iniciar as operações especiais, que completaram um ano no último 24 de fevereiro.

A decisão brasileira deve ser vista sob um prisma: o Brasil é o único entre os Brics que está totalmente encravado no Ocidente, não tendo saídas militares e logísticas para as rotas comerciais eurasianas. Isso o torna mais frágil ao se opor aos jogos de poder do Ocidente, que causaram e estão prolongando a guerra. Porém, o Brasil se negou a participar da pantomima do oeste europeu na suposta “ajuda à Ucrânia”, que, hoje, nada mais é que uma guerra de todos esses países, imposta à Rússia, usando a Ucrânia como carne de canhão. Embora não esteja oficialmente na pauta, esse tema há de ser conversado, como vem sendo em todos os encontros interestatais do mundo atual.

Somado este alinhamento essencial ao bloco euroasiático, com os protocolos de intenções para cooperação e desenvolvimento, entre eles a nomeação de Dilma Rousseff à presidência do NDB, têm-se um dos mais importantes encontros da história da diplomacia sino-brasileira, equiparável ao encontro entre Lula e Hu Jintao, de 2004, e entre o vice-presidente João Goulart e Mao Zedong, em 1961. Mais um passo em direção ao multilateralismo será dado, num dos momentos mais frutíferos para que prospere esse projeto econômico internacional.

Por Hélio de Mendonça Rocha, articulista e repórter de política internacional

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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