O presidente Lula se reuniu no início desta semana com o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, para que este prestasse contas sobre os sucessivos escândalos em que está envolvido e que estão desgastando o governo.
Ministro do União Brasil, Juscelino utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) privadamente, recebeu diárias para participar de um evento de cavalos, escondeu mais de dois milhões de reais de patrimônio, enviou emendas parlamentares para reformas em sua fazenda, nomeou um apadrinhado de um amigo para os Correios como troca de favores e infiltrou bolsonaristas em seu ministério.
Todas essas denúncias são veiculadas pela imprensa golpista como forma de atacar mais o governo Lula do que o próprio ministro. Naturalmente há uma manipulação para atender aos seus próprios fins, que é desgastar o governo Lula. Mas, de qualquer forma, é notório que Juscelino tinha de ser demitido, pois também não interessa aos trabalhadores, a base social de Lula, que um fazendeiro direitista e golpista seja ministro.
Apesar disso tudo, Lula decidiu manter Juscelino Filho. Agora terá de arcar com a enxurrada de propaganda da imprensa sobre escândalos dentro do governo, e com as consequências de um inimigo dos operários e camponeses trabalhando dentro do governo para atender interesses diversos daqueles que o próprio Lula se apresentou como representante.
A decisão desagradou muito à base do PT. Em todas as redes sociais houve pedidos para que Lula o demitisse e críticas porque o presidente não o exonerou, embora a situação estivesse perfeitamente favorável para que o fizesse.
O governo justifica a decisão de manter Juscelino Filho porque isso poderia ajudar na busca por “governabilidade”. Isto é, acha que é necessário fazer esse tipo de concessão para a direita pensando que a agradará, tanto dentro do governo como no Congresso. O União Brasil tem vários parlamentares que votaram contra o candidato de Lula para a presidência do Senado e apoiam CPIs contrárias aos interesses do governo.
Mas nada indica que manter Juscelino Filho aproximará Lula do União Brasil. As declarações da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e da direção do União Brasil, trocando farpas, indicam que o buraco é muito mais embaixo. Além disso, o ministro das Comunicações não é o único membro do União Brasil no alto escalão governamental que apresenta problemas. Daniela Carneiro, do Turismo, está envolvida com milicianos, ou seja, com o bolsonarismo.
De fato, o União Brasil nada tem a ver com a proposta de governo de Lula. É um partido que surgiu da fusão do PSL (partido que elegeu Bolsonaro presidente da República em 2018, ou seja, uma agremiação cheia de fascistas) com o DEM (sucessor da ARENA, o partido da ditadura militar). O União Brasil é a sigla de Sérgio Moro. Não é necessário mais nada para comprovar que se trata de um partido que pode ser considerado até mesmo de extrema-direita.
Se do ponto de vista ideológico já é uma contradição que beira o esdrúxulo ter o União Brasil dentro do governo, do ponto de vista prático isso é ainda mais perigoso. Lula tem a crença de que é preciso ser “pragmático” e se aliar com Deus o mundo para garantir que sua política seja realizada. O problema é que essas alianças são absolutamente contraproducentes. O caso dos ministros e dos parlamentares do União Brasil demonstra que esse partido age para sabotar o governo por dentro. É um partido com uma atuação reacionária e antipopular em todos os sentidos.
Lula precisa ouvir mais a base do PT e ignorar os “conselheiros” burgueses e direitistas, que não passam de burocratas carreiristas que não estão preocupados com políticas para o povo, mas sim com seus cargos. Ninguém que votou em Lula elegeu o União Brasil para o governo. A base eleitoral de Lula votou nele e no PT, não na direita que foi traficada para dentro do aparato governamental. Mas temos União Brasil, PSD, MDB, Solidariedade, Cidadania etc. compondo o governo. Todos esses partidos estão atuando contra Lula dentro dos ministérios e do Congresso, os fatos comprovam isso.
É preciso que os trabalhadores e a base do PT, que está demonstrando uma consciência de que é errado se aliar com os seus inimigos, reforcem a pressão e que Lula entenda que, se quer uma verdadeira governabilidade, deve romper essa aliança artificial e improdutiva. Sua aliança deve ser com o povo, não com os malandros e pistoleiros golpistas.