Ignacio Ybáñez, embaixador da União Europeia no Brasil, compartilhou neste domingo, 5 de fevereiro, em seu tuíter, um artigo que critica a postura do presidente Lula em relação a regimes anti-imperialistas de esquerda, acusando-os de serem “autoritários” em seus últimos discursos e manifestações desde que assumiu a presidência, em janeiro deste ano. O diplomata retuitou um artigo do colunista do Globo e da Folha de S.Paulo, Demétrio Magnolli no qual este analisa o discurso do presidente na Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
O artigo de Demétrio acusou de faltar a crítica por parte de Lula aos regimes da Venezuela, Cuba e Nicarágua. Cinismo típico de um representante do imperialismo, não podemos ver o mesmo tipo de cobrança com relação à cobrança de solidariedade com a Palestina, por exemplo, que sofre diuturnamente com o apartheid israelense. Demétrio ainda diz que o presidente teria desperdiçado a “oportunidade de levantar a voz por eleições livres na Venezuela, uma abertura política em Cuba e o fim da selvagem repressão do regime de Ortega na Nicarágua”. Claro que, com eleições livres, ele quer dizer eleições livres da autodeterminação do povo e com livre intervenção do imperialismo e subserviência ao interesse estrangeiro.
Ybáñez postou o artigo nas redes sociais e destacou o verso “O tempo passou na janela e só Carolina não viu”, de Chico Buarque, citado no artigo de Demétrio Magnolli.
A publicação do embaixador, que se tratou de um claro ataque a política do presidente eleito pela maioria da população trabalhadora, foi seguida de uma tentativa de contornar a situação, na qual, em nota ao Globo, o mesmo afirmou que ter compartilhado o artigo com o comentário não significa que ele endossa a crítica a Lula. “Em relação às notícias que apareceram em O GLOBO, eu gostaria de ressaltar que em minha conta pessoal no Twitter eu tenho o hábito de “retuitar” as opiniões de outras pessoas que não são necessariamente as minhas. Isso foi o que eu fiz ao “retuitar” o artigo mencionado. Tirar de lá uma opinião ou uma crítica específica não corresponde à realidade”. Uma tentativa deslavada de velar seu ataque.
O episódio ocorreu na medida em que Lula intensificou seu choque contra os interesses do imperialismo ao colocar o País na posição de não enviar munições aos nazistas ucranianos que estão lutando na guerra da OTAN contra a Rússia.
As posições do governo brasileiro sobre o conflito entre Ucrânia e Rússia, movida pela Otan, são mais uma pedra no sapato do imperialismo, e uma pedra das grandes. Membros da União Europeia consideram que Lula se equivale a Bolsonaro nesse aspecto, e que deveria condenar com mais firmeza a operação militar russa contra a Ucrânia e “tudo mais o que os russos causam à Europa”, afirmação curiosa, tendo em vista que se dependesse da Europa, a Rússia estaria de joelhos sendo espoliada pelas potências imperialistas e cercada pela OTAN.
Na semana passada, Lula recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, no Palácio do Planalto. Segundo fontes do bloco europeu, Scholz saiu, nesse aspecto, preocupado com a posição brasileira, que demonstra resistência à pressão do imperialismo.
Lula começou o seu governo tentando retomar a presença do Brasil nas agendas e negociações internacionais. Para isso, realizou logo em janeiro as suas primeiras viagens internacionais para a Argentina e Uruguai. Lula e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciaram que estão empenhados em avançar nas “discussões sobre uma moeda comum sul-americana”.
A União Europeia, que é apresentada como a face mais humana e progressista do imperialismo, não tem nada de humana e nem progressista. Seu vampirismo crônico ataca os países explorados tanto quanto o imperialismo dos EUA.
O que a situação revela para nós é que Lula está longe de ser um queridinho do imperialismo, e que, apesar da demagogia ambiental e democrática da UE (comprada por parte da esquerda) Lula tem noção do caráter imperialista de toda essa movimentação dos países exploradores.
O imperialismo vê como problema fundamental as relações internacionais de Lula com inimigos do imperialismo, como a China, Rússia, Irã, Cuba, Venezuela e Nicarágua. Lula é amigo de Ortega, Canel e Maduro. A UE e o imperialismo não admitem isso. Com Lula, o Brasil é um sustentáculo dos “regimes totalitários” da América Latina, que o imperialismo quer derrubar. Dessa maneira, o presidente ‘protege’ os inimigos do imperialismo, coisa que os donos do mundo não admitem. Cai por terra a teoria de que Lula é amigo do imperialismo.