Nessa quarta-feira (29), o governo brasileiro anunciou um acordo com a China para realizar transações comerciais bilaterais em suas próprias moedas, abandonando, dessa maneira, o dólar no comércio entre os dois países. “A expectativa é reduzir custos, fomentar ainda mais o comércio bilateral e facilitar os investimentos”, explicou a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) por meio de comunicado oficial divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores.
Na prática, o novo sistema exclui a necessidade de converter o real e o iuane em dólar, permitindo que as operações de comércio exterior ou financiamento entre os países sejam realizadas por meio da conversão direta das duas moedas. Durante a missão das autoridades econômicas do Brasil à China, foram designados o Bank of Communications BBM e o Banco Industrial e Comercial da China para possibilitar esse modelo de comércio.
Essa é, possivelmente, a coisa mais importante que Lula já fez desde o seu primeiro mandato, em 2003. Mais que isso, pode ser uma das medidas mais importantes já tomadas por qualquer governo brasileiro em qualquer época. Afinal, se isso for de fato efetivado, o Brasil estará abandonando o dólar, a principal moeda do imperialismo, com o seu principal parceiro comercial, o qual é a China, a principal inimiga da dominação imperialista sobre a economia mundial.
Para se ter uma noção da proporção da decisão de Lula, o comércio bilateral com a China, em 2022, bateu o recorde de US$150,5 bilhões (cerca de R$780 bilhões), sendo US$89,7 bilhões (R$467 bilhões, aproximadamente) em exportações brasileiras. Enquanto isso, com os Estados Unidos, o comércio atingiu US$88,7 bilhões e, com o Canadá, pouco mais de 10 bilhões de dólares. De maneira geral, sem contar os EUA na conta, a China é tão importante ao comércio brasileiro quanto as contribuições dos maiores e mais poderosos países do mundo combinados.
Por conta do volume das transações entre a China e o Brasil, o abandono do dólar no comércio bilateral entre os dois países representa um duro golpe contra o imperialismo. Afinal, a moeda americana sofrerá uma grande desvalorização no mercado mundial, já que não será mais usada nessa situação.
Ademais, dessa maneira, ambos os países oprimidos já não serão mais reféns dos interesses dos Estados Unidos que pode, para prejudicar o Brasil e a China, flutuar o preço do dólar, por exemplo. Ao invés disso, serão completamente soberanos, de maneira bilateral, em relação ao seu próprio comércio, peça chave nos ganhos aos governos brasileiro e chinês.
É o mesmo que, nos últimos tempos, foi feito entre a Rússia e a China e entre a Argentina e a China, todos os países que procuram se libertar das amarras impostas sobre eles pelo imperialismo. Um verdadeiro desafio à dominação econômica dos EUA no resto do mundo.
Além da questão econômica, a decisão do governo nacional possui uma imensa importância política também: significa que o governo Lula está se alinhando definitivamente com a China e com a Rússia contra, inevitavelmente, os Estados Unidos. Algo reforçado pelo recente posicionamento do Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o qual votou, ao lado apenas da China e da Rússia, em favor da abertura de uma investigação internacional no caso Nord Stream.
Por outro lado, decerto que os Estados Unidos não deixarão tamanha insubordinação passar. A decisão de Lula o reduz, agora, a uma das principais ameaças ao imperialismo no mundo, fazendo com que a chance dos EUA tentarem orquestrar mais um golpe no País aumente de maneira exponencial. Algo que não deve demorar caso o governo, de fato, faça o comércio entre o Brasil e a China funcionar da maneira como foi anunciada.
Justamente por conta disso, fica cada vez mais na ordem do dia a organização de uma ampla mobilização popular em defesa dos direitos dos trabalhadores. O governo Lula está sendo sabotado não só pelo imperialismo, por meio da política monetária do Banco Central de Campos Neto, como também pela direita membro do chamado centrão e a direita bolsonarista – basta vermos a pressão que o Executivo sofre por parte do Legislativo, sem contar nas invasões do dia 08 de janeiro por parte da extrema-direita nacional.
Portanto, é imprescindível que todos os partidos e organizações de esquerda, em conjunto com a CUT, o MST e os principais sindicatos do País, devem juntar-se na convocação da III Conferência Nacional dos Comitês de Luta que, nos dias 09, 10 e 11 de junho, dará o pontapé necessário para empurrar a esquerda e, principalmente, o povo trabalhador às ruas na luta por seus próprios direitos. Caso contrário, o Brasil não terá forças o suficiente para resistir aos ataques da direita nacional e imperialista, algo que pode resultar, inclusive, na derrubada de Lula.