Nesta segunda-feira (21), o Programa de Índio, da Causa Operária TV, contou com a participação de Luca Gualoy, índio guarani-caiouá que vive em Rio Brilhante, cidade do estado do Mato Grosso do Sul. Gualoy relatou em detalhes o ataque da polícia militar contra os índios guarani-caiouás, que aconteceu na área de Laranjeira Nhanderu.
No programa, Gualoy foi entrevistado pelos companheiros Renato Farac e Marcelo Batarce, que perguntaram sobre a história do povo guarani-caiouá na região e sobre detalhes da ofensiva da polícia contra os índios. Gualoy destacou que historicamente os guarani-caiouás vivem na região e há muitos anos os índios estão restritos a viverem em uma pequena área de mata nas proximidades do local, mas que não pode ser cultivada ou explorada. A pressão dos latifundiários, o processo de construção da estrada rodoviária da região e a não realização da demarcação das terras também fez com que os índios fossem muitas vezes deslocados para diferentes áreas próximas.
Em 3 de março, um grupo de indígenas cansou de esperar, enfrentou a força do latifúndio e agiu retomando suas terras em Laranjeira de Nhanderu. Como é bem comum na região, a ação não seguiu pacificada. Gualoy contou que os policiais militares chegaram, sem qualquer mandado judicial ou ordem de despejo, e iniciaram um ataque violento contra o grupo de índios, que tinha entre eles idosos e crianças.
Os policiais perseguiram os índios com suas viaturas, tentando atropelá-los, atiraram com balas de borrachas, spray de pimenta e bombas de efeito moral. Vários índios ficaram feridos, inclusive um idoso. Gualoy, que estava apenas com o celular filmando toda a ação da polícia, disse que acredita que a polícia começou a persegui-lo e atacá-lo por conta das filmagens.
A ação foi completamente ilegal, sem ordem judicial e sem acompanhamento por parte da FUNAI ou qualquer outro órgão da justiça. Três lideranças indígenas foram levadas para a delegacia, dentre elas Luca Gualoy, que no programa contou que já não se sente mais seguro para sair e ir para a cidade, pois se sente perseguido pela polícia.
No último sábado, uma comitiva do Ministério dos Povos Indígenas, encabeçada pela ministra Sônia Guajajara, esteve no local para apurar os acontecimentos. Eles ouviram a comunidade indígena e seguiram para conversar com o governador Eduardo Riedel (PSDB). A reunião foi a portas fechadas e ainda não foi divulgado nenhum resultado da negociação. Ou seja, quase vinte dias depois de toda a ofensiva violenta contra os índios, nada de concreto foi feito ou apurado.
Para entendermos melhor o grau de repressão que os índios vivenciam no Mato Grosso do Sul, é importante relatar que no dia seguinte da visita do Ministério dos Povos Indígenas a repressão continuou. Uma liderança indígena foi parada pela polícia, interrogada e perseguida, sem nenhum processo ou mandado judicial. Os policiais durante o interrogatório ilegal fizeram grande pressão para que ele contasse detalhes sobre os índios que estavam envolvidos na retomada de Laranjeira Nhanderu. Mais uma ação autoritária e ilegal da polícia que provavelmente ficará impune.
Ao final do programa, o companheiro Farac analisou como todo esse acontecimento deixam ainda evidente que o governo Riedel não é um governo democrata, do diálogo ou de negociação, mas é um governo de extrema-direita, que governa para os latifundiários. A única alternativa possível de enfrentamento a esse governo é a organização e mobilização para a retomada das terras indígenas. Vale a pena assistir ao Programa de Índio e ouvir as denúncias diretamente do companheiro Luca Gualoy.
