Após mais um massacre cometido pela Polícia Militar contra a população, agora no Guarujá (SP), onde mais de 20 pessoas foram executadas pelas forças repressivas, aparecem (e sempre aparecem) as organizações que correm ao parlamento para fazer um teatro com parlamentares.
Teatro porque não vai resolver nada, como, na verdade, nunca resolveu. Essa encenação foi encabeçada por organizações como a Uneafro, a Unegro, a Coalizão Negra por Direitos, a Convergência Negra e outras organizações do movimento negro que se reuniram, na quinta-feira (24/08) com representante das Relações Institucionais (Alexandre Padilha), Flávio Dino (ministro da Justiça), além dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber e Luís Roberto Barroso.
As reuniões, segundo Douglas Belchior (Uneafro) revelam uma “articulação histórica do movimento negro, uma vez que levou demandas às três esferas do poder federal — Legislativo, Executivo e Judiciário”. Não há nenhuma novidade nisso. Desde que o congresso é congresso que cartas e mais cartas, reuniões e mais reuniões são feitas para tentar resolver o problema da repressão policial. E não é de lá, com certeza, que sairá uma resposta efetiva contra a opressão das forças policiais contra o povo.
“É a mensagem do povo negro brasileiro e da sociedade como um todo de que basta de violência policial, de que a gente não tolera mais que os nossos sejam assassinados, como têm sido os jovens negros em favelas e periferias, e como têm sido defensores de direitos humanos como a Mãe Bernardete”, disse Douglas.
O problema é que uma das principais reivindicações contidas nessa carta é a obrigatoriedade de que os policiais estejam com as câmeras ligadas em suas fardas. É claro que isso não vai funcionar. Para alguém morrer, basta que um policial desligue sua câmera. Pronto. As câmeras não são o problema da atuação macabra da polícia, e todo mundo sabe disso, até mesmo essas organizações do movimento negro.
As demais “reivindicações” entregues para os representantes dos poderes são: o “reconhecimento da urgência de constituição de políticas afirmativas reparatórias a exemplo da instalação de comissões da verdade para memória e responsabilização de racismo institucional”; e “o debate e construção de uma política sobre drogas pautada na saúde, no cuidado e redução de danos”.
Além, claro, em razão da natureza carreirista deste movimento: acionar “as instituições e organismos internacionais de proteção aos direitos humanos, no sentido de instituir mecanismos imparciais de investigação e monitoramento destas ocorrências”, leia-se emprego para os integrantes dessas organizações do movimento negro.
A Coalizão Negra por Direitos é uma das organizações que encabeça essa carta de reivindicações, o que explica o caráter carguista do mesmo. As “reivindicações” são propostas de empregos que devem ser criados e eles, da Coalizão, devem ocupar esses futuros cargos.
Sobre as drogas, ao contrário da conversa mole da coalizão negra, é preciso lutar pela legalização de absolutamente todas as drogas. Acabar com toda lei repressiva nesta área. Só nesta ação, quase 80% dos presos brasileiros seriam soltos. Isso sim é uma ação “afirmativa”.
Por outro lado, a máquina repressiva brasileira precisa ser desmantelada. A PM tem que acabar e todas as demais polícias que cumprem esta mesma função, só que com outra farda, precisam acabar também. Não adianta cartas e lamentos de carreiristas das ONGs, é preciso uma mobilização séria do povo negro, pobre e trabalhador.
Tal mobilização deve ser também, e em especial, pelo armamento do povo. Esses mais de 20 rapazes executados pela PM, no Guarujá (SP), só estão mortos agora porque estavam desarmados. Se armados estivessem sequer estaríamos escrevendo esta matéria, e eles estariam vivos.
É preciso dar um basta na ação policial, e com política prática, com organização e luta. Da mesma forma que é preciso dar um basta na demagogia carreirista própria da Coalizão Negra por Direitos e outras organizações da classe média esquerdista do movimento negro, que se apresentam como um dos principais obstáculos para o avanço da luta do negro no Brasil.