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Mato Grosso do Sul

Latifundiários sequestram, torturam, roubam corpos e matam índios

Reportagem exclusiva do Diário Causa Operária narra os acontecimentos macabros na cidade de Iguatemi

Braços, coxas e pernas retalhadas, o cadáver ensanguentado de um índio, famílias chorando pelo sequestro de seus parentes, jornalistas agredidos por homens encapuzados. Tudo isso foi registrado por nossa equipe em visita à cidade de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul.

“A Polícia Militar viu tudo e não fez absolutamente nada”, afirmou, em vídeo, uma das vítimas das agressões.

Os episódios relatados nesta reportagem aconteceram no dia 22 de novembro, em um território reivindicado por índios Guarani-Caiouá. Mas essa história começa antes.

No dia 17 de novembro, os índios Guarani-Caiouá da comunidade Pyelito Kue retomaram uma parte de seu território em Iguatemi, no Mato Grosso do Sul. As chamadas “retomadas de terra” nada mais são que a ocupação, por parte dos índios, daqueles territórios que, embora não sejam reconhecidos oficialmente como seus, eram habitados por seus parentes e foram tomados por fazendeiros e posseiros. Atualmente, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), há 764 áreas ocupadas por índios, sendo que apenas 448 já foram homologadas ou regularizadas.

Dois dias depois da retomada comandada pelos Guarani-Caiouá, os índios passaram a ser atacados por pessoas identificadas como “seguranças privados”. “Esses seguranças”, nos revelou uma fonte local, “na verdade atuam como pistoleiros a mando do latifúndio”.

O dia 22 de novembro marcou o estopim desses ataques. Neste dia, uma família de índios foi sequestrada pelos pistoleiros. Entre os reféns, estava uma mulher grávida.

Naquele mesmo dia, um grupo de três pessoas, composto por um membro do Partido da Causa Operária (PCO), uma socióloga e um fotógrafo, foi à aldeia dos Pyelito Kue para averiguar a situação da retomada. A aldeia fica a cerca de vinte quilômetros do local que acabara de ser ocupado. De acordo com uma das pessoas do grupo, ao chegar à aldeia, eles se depararam com uma viatura do DOF (Departamento de Operações de Fronteira).

Temido pela população local, o DOF possui um histórico de ilegalidades cometidas contra os índios. Em 2015, índios de Pyelito Kue haviam denunciado que membros do DOF haviam desarticulado propositalmente a presença da Polícia Federal durante um ataque à comunidade sob o pretexto de que os índios já haviam voltado a seu antigo acampamento, o que não condizia com a verdadeira situação, e que permitiu a investida dos pistoleiros (Famílias Guarani e Kaiowá são atacadas, indígenas sofrem torturas e dois seguem desaparecidos. Conselho Indigenista Missionário. 2015). Naquela ocasião, pessoas foram espancadas, baleadas, amarradas, transportadas à força e uma mulher teria sido estuprada por vários homens (Idem).

“O DOF é a pior polícia”, afirmou um dos três integrantes do grupo. “Ela é conhecida como a polícia dos latifundiários, todo mundo fala isso”.

Ao passar pela viatura, o grupo foi abordado pelos agentes do DOF. Eles teriam perguntado o que o grupo estava fazendo e, depois, recomendaram que fosse embora, alegando que “não havia conflito nenhum, não estava acontecendo nada”. Diante da má fama do DOF, os integrantes do grupo decidiram ir embora.

Não deu tempo.

No caminho, o grupo avistou cerca de trinta caminhonetes na estrada. “Era um pessoal encapuzado, armado”, nos contou uma das fontes. O grupo, então, decidiu dar meia-volta e avisar aos índios que viria um novo ataque pela frente. No entanto, o grupo foi interceptado por uma das caminhonetes, que parou na frente do carro em que estavam.

“Tinha 4 fazendeiros armados”, afirmou um dos membros do grupo. “E ele falou: eu aconselho vocês a irem embora imediatamente’”.

Em questão de segundos, chegaram vários pistoleiros encapuzados. “Aí, o bicho pegou”. O grupo conta que foi arrancado do carro e brutalmente agredido. “Os caras começaram a arrancar a gente, a bater, a dar chute, a dar porrada, a perguntar o que a gente estava fazendo, nos revistaram”. Nossa fonte ainda revelou que os pistoleiros roubaram praticamente todos os seus bens.

Das três vítimas, a mais agredida foi o fotógrafo, que é canadense. Os pistoleiros roubaram suas máquinas fotográficas, sua mochila, sua carteira e até mesmo o seu passaporte.

“Ele foi jogado no chão e, de repente, umas quinze pessoas começaram a lhe espancar, a dar chute, a dar porrada”.

Segundo nos contou um integrante do grupo, eles só conseguiram fugir porque os pistoleiros não haviam visto que a chave do carro estava no bolso de um deles. Em um momento de distração dos “seguranças privados”, o grupo conseguiu ligar o carro e fugir sob uma rajada de balas.

Roubo de cadáver

Naquele dia, ao menos uma morte foi registrada. O corpo do índio, no entanto, foi roubado pelos pistoleiros. “Normalmente, eles enterram os cadáveres ou os jogam no Paraguai”, nos contou uma fonte local, que disse ainda ser comum o roubo de corpos por parte dos pistoleiros. A ação, além de humilhar os índios, ainda dificulta qualquer tipo de investigação sobre os ataques aos territórios ocupados pela população local.

Corpos retalhados

Dezenas de índios Guarani-Caiouá tiveram sua pele retalhada com facas e objetos cortantes, no que pode ser considerado como prática de tortura por parte dos pistoleiros. Nas fotos produzidas por nossa equipe, é possível ver tanto feridas profundas como desenhos feitos sobre a pele das vítimas.

Nada de polícia

Após a fuga, o grupo decidiu não ir à delegacia. Falando em inglês, a socióloga declarou, em vídeo, que:

“Nós não podíamos ir a nenhuma delegacia porque não sabíamos quem estavam com eles e o que poderia nos acontecer”.

Ela ainda denunciou que, durante as agressões, uma viatura da polícia militar passou e ignorou tudo o que estava acontecendo.

“A Polícia Militar passou. Eu fiz assim para eles [gesticulou implorando] e disse: ‘por favor, por favor, façam alguma coisa’. Mas eles não fizeram nada”.

Fazendeiro encontrado armado

No mesmo dia em que homens encapuzados invadiram a retomada, uma equipe da Polícia Federal esteve na região e encontrou um fazendeiro com arma e munições sob sua posse. O proprietário, que afirmou que não estava havendo nenhum conflito, foi preso em flagrante com 88 munições calibre 12.

Pressão pelo fim da retomada

Após os ataques violentos à retomada, uma liderança identificada como “Éber da FUNAI de Ponta Porã” foi acusada de tentar forçar os índios a saírem do local. De acordo com uma índia que está na retomada em Iguatemi, essa pessoa teria ido até a casa de sua cunhada e tentado levá-la à força. “A comunidade não deixou. A FUNAI recebeu dinheiro dos fazendeiros, é isso?”, questionou a índia.

Atuação de milícia fascista

Os fatos registrados no dia 22 de novembro retratam a atuação de uma verdadeira milícia fascista no campo. Contando com a conivência das autoridades locais – Polícia Militar e DOF -, os pistoleiros atacam uma população completamente desarmada, impondo-se pelo terror.

Essa forma de atuação é comparável aos casos mais horrendos protagonizados pela extrema-direita internacional. A Ku Klux Klan, mais famoso grupo fascista da história norte-americana, ficou conhecido pelos seus membros encapuzados torturarem e executarem negros.

Já as milícias sionistas anteriores à fundação do Estado de israel, como o Haganá, protagonizaram episódios em que não apenas os palestinos eram expulsos de suas terras, mas também eram roubados ao caminharem pela estrada rumo ao exílio, revelando que o sionismo, além de fascista, é um movimento de criminosos comuns.

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