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Estados Unidos

Kissinger foi apenas mais um burocrata medíocre do imperialismo

As críticas a Henry Kissinger cometem um erro clássico: atacar tanto um inimigo que acabam os engrandecendo, a realidade é que essa figura foi apenas mais um burocrata

Kissinger

A morte de Henry Kissinger, um dos mais famosos secretários de Estado dos EUA, gerou diversas análises dentro da esquerda e da própria direita. Ele foi um agente do imperialismo durante os bombardeios genocidas durante a guerra do Vietnã, principalmente no Camboja. Foi ele também quem estava por trás dos golpes de Estado latino-americanos. No entanto, o que todas as análises tanto da esquerda quanto da direita erram é o engrandecimento da figura. Kissinger era apenas mais um burocrata e não um monstro especial do imperialismo. Um dos textos que expressa essa ideia foi publicado no Opinião Socialista: “Morre Kissinger, figura central do imperialismo dos EUA no século XX”.

O texto começa com um pequeno histórico de Kissinger e depois começa a elogiá-lo: “Não há dúvida de que Kissinger possuía um nível intelectual muito elevado e tinha a capacidade de elaborar estratégias e transformá-las em ação política. Ele usou essa capacidade em prol da defesa dos interesses do imperialismo estadunidense em diferentes contextos. Inicialmente, enquadrado na perspectiva global de ‘combater o comunismo’. Especificamente no sudeste asiático, o objetivo era conter a dinâmica de expansão da revolução chinesa de 1949 na região.” Aqui o PSTU caiu na propaganda imperialista, Kissinger seria o grande estrategista do imperialismo, no entanto, ela apenas fez um trabalho de burocrata como todos os secretários de Estado dos Estados Unidos.

O texto segue analisando a política de Kissinger: “A inteligência de Kissinger permitiu-lhe compreender que, diante da combinação da resistência heroica do povo vietnamita com as massivas mobilizações contra a guerra nos EUA, o exército estadunidense começava a se desmoronar e a guerra do Vietnã caminhava para uma dura derrota do imperialismo estadunidense. Aí começou uma política diferente: planejar uma ‘retirada ordenada’ do exército estadunidense do Vietnã e, a partir de 1972, “negociar a paz” com o governo do Vietnã do Norte, o que permitiria disfarçar a derrota e a rendição. Porém, não obteve sucesso: as imagens das forças estadunidenses deixando Saigon apressadamente em barcos e helicópteros correram o mundo. A ‘paz’ era na verdade uma grande derrota e uma rendição do imperialismo estadunidense.”

O próprio PSTU se contradiz, como fica claro no trecho acima. A grande inteligência de Kissinger deveria ter levado a uma política de derrota menos humilhante no Vietnã. O que aconteceu, entretanto, foi uma das maiores desmoralizações do imperialismo dos EUA. Os americanos demoraram décadas para recuperar sua capacidade de fazer grandes intervenções militares; as guerras no Oriente Médio só começaram a partir da década de 1990. Esse caso é uma demonstração de que Kissinger aplicou de forma fria uma política genocida no Camboja para, no fim, perder a guerra no que ainda hoje é marcado como a derrota mais emblemática do imperialismo.

O artigo passa a falar sobre a política no Oriente Médio: “Após a derrota no Vietnã, quando os ‘ventos mundiais’ começaram a soprar contra ele, Kissinger foi um precursor da política de atrair regimes e governos árabes para reconhecerem Israel e firmarem a paz com o Estado sionista. Com esse objetivo, viajou para Israel, Síria e Egito e teve reuniões com seus governos. Uma política que, posteriormente, obteve sucesso completo no Egito, com a assinatura dos Acordos de Camp David em 1978, já durante o governo do democrata Jimmy Carter”. Nesse ponto, se coloca um grande esforço diplomático de Kissinger, mais uma vez é um engradecimento da figura em detrimento do processo histórico.

O nacionalismo egípcio havia sido derrotado após a morte de Nasser, e a intervenção do imperialismo na guerra do Yom Kippur enfraqueceu ainda mais a posição do Egito. Esse processo tem muito mais relações com a capitulação da burguesia do Egito, que anteriormente não reconhecia “Israel” e passou a reconhecer com esses acordos. Fica claro que o trabalho de Kissinger é o do burocrata. A correlação de forças colocava o imperialismo em uma posição de ditar as regras, e assim Kissinger fazia. Não há nenhuma genialidade, assim como não houve genialidade quando Madeleine Albright aplicou sanções genocidas no Iraque. No final, Sadam caiu pela força bruta do imperialismo e não por nenhuma genialidade.

Por fim, o artigo aborda a questão da China. “O Estado operário burocratizado chinês era frágil e enfrentava uma crise: estava isolado após a ruptura do maoismo com a burocracia da ex-URSS e partia de uma base econômica muito atrasada e agrária. Era um terreno propício para a nova estratégia de Kissinger: atrair a burocracia chinesa para restaurar o capitalismo na China era especialmente adequado para essa política. Isso foi o objetivo do que se iniciou com a “diplomacia do pingue-pongue” (nos primeiros anos da década de 70), continuou com numerosas “visitas secretas” de Kissinger naquela década, alcançando seu ponto máximo com a histórica visita de Nixon a Pequim e sua reunião com Mao em 1972.”

Aqui vale o mesmo que nos outros casos, e o texto expressa isso de forma clara. A contra revolução na China já estava acontecendo. Nessa conjuntura, evidentemente, o imperialismo tomaria uma ação para aumentar o seu controle sobre o mais populoso país do mundo. Nesse caso, ao menos o PSTU não elogia nenhuma genialidade de Kissinger. Quem melhor analisou as críticas que na verdade são elogios por elogiar as figuras, foi o próprio Karl Marx.

No livro 18 de Brumário de Napoleão, Marx comenta os ataques de Victor Hugo a Napoleão III: “Victor Hugo limita-se a amargas e engenhosas invectivas contra o editor responsável do golpe de Estado. Quanto ao próprio acontecimento, parece, na sua obra, um raio que caísse de um céu sereno. Não vê nele mais do que um ato de força de um só indivíduo. Não se apercebe que aquilo que faz é engrandecer este indivíduo em vez de o diminuir, ao atribuir-lhe um poder pessoal de iniciativa sem paralelo na história universal. Pela sua parte, Proudhon tenta apresentar o golpe de Estado como resultado de um desenvolvimento histórico anterior. Mas, nas suas mãos, a construção histórica do golpe de Estado transforma-se numa apologia histórica do herói do golpe de Estado. Cai com isso no erro dos nossos pretensos historiadores objetivos. Eu, pelo contrário, demonstro como a luta de classes criou em França as circunstâncias e as condições que permitiram a um personagem medíocre e grotesco representar o papel de herói.” E, no caso de Henry Kissinger, tentam vender um monstruoso vilão, e não um medíocre burocrata.

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