Matéria publicada na Folha de São Paulo/UOL, intitulada “Junho de 2013 foi resultado dos governos Lula e Dilma, diz Angela Alonso”, é mais uma tentativa da direita golpista de colocar tudo na conta do PT. A matéria traz um pequeno vídeo no qual Leonardo Sakamoto, jornalista da Folha, entrevista a socióloga Angela Alonso, que “estudou os eventos que levaram às Jornadas de Junho de 2013“.
Segundo a entrevistada “o problema da análise que se faz sobre os eventos de 2013 ficaria distorcido porque dá ênfase nas consequências do ocorrido”.
O enfoque da socióloga, conforme diz, é tentar reconstruir todos os conflitos anteriores, da “política das ruas” e das “políticas petistas”, do que teria ocorrido nos governos petistas para tentar entender melhor “quais foram os assuntos e quais foram os atores”, e quais temas foram se acumulando no caminho para se chegar até junho de 2013.
Precisamos fazer um aparte, pois as manifestações de ruas em São Paulo estavam pedindo passe livre, que relação isso poderia ter com governos Lula e Dilma, que são governos federais e não têm controle ou gerência sobre estados e municípios, justamente quem controla os preços das tarifas?
Para Angela Alonso, existem “três grandes zonas de conflito, ou três grandes áreas temáticas” que seriam 1) redistribuição de recursos escassos como o acesso ao ensino superior, não apenas renda; 2) moralidade, “se falou muito de corrupção” que, para ela, além do Mensalão, entrou uma questão da moralidade privada, dos costumes (marcha da maconha, marcha das vadias…) e 3) controle da violência pelo Estado, “seja como segurança pública, seja em relação ao passivo que é o legado da ditadura, destampado com a Comissão Nacional da Verdade”.
Segundo ela, 2013 foi uma confluência de tudo o que foi se formando em dois governos Lula e um comecinho de governo Dilma.
Vejamos: O ponto 1, a tal redistribuição de recursos escassos, até onde sabemos, teria sido um ponto positivo dos governos petistas em relação aos demais. Foram criadas universidades federais, escolas técnicas. Foi criado o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida. Ainda que tenha havido limitações, esses programas deram enorme aprovação para Lula que se reelegeu e ainda elegeu Dilma, que também se reelegeu.
Uma coisa que ficou clara sobre o golpe contra Dilma Rousseff é que um dos motivos do impeachment foi o descontentamento do imperialismo com a destinação dos royalties do Pré-sal. A presidenta pretendia direcioná-los para as áreas da Saúde e da Educação. Portanto, se havia alguma questão contrária essa “redistribuição”, era da parte da burguesia, não da população.
A questão do ponto 2, a moralidade, ainda que Angela Alonso tente passar rapidamente sobre a questão do Mensalão, esse foi um dos momentos mais sombrios da grande imprensa, no qual ficou exposta toda sua venalidade.
O Mensalão foi, dentre outras coisas, uma grande peça publicitária de linchamento público de dirigentes petistas. Foi uma operação orquestrada no qual o “combate à corrupção” tomou, durante muito tempo, as 24 horas dos principais jornais e revistas. Era um bombardeio diário com julgamentos, investigações, delações, interrogatórios, tudo feito ao vivo. Prisões, petistas algemados, helicópteros, jornalistas avisados com antecedência para fazerem a cobertura de batidas policiais. Um verdadeiro show de horrores.
Do ponto de vista jurídico, já se preparava o Judiciário para atuar no golpe de 2016. Juízes e ministros do STF se tornaram figuras públicas e davam palpite sobre os processos. Todo tipo de aberração jurídica foi permitida para prender petistas, desde o contrabando de teses vinda de outros países, até condenação sem provas cabais, baseada apenas na “literatura”, como Rosa Weber fez contra José Dirceu, o segundo petista mais importante.
As capas da revista Veja eram semanalmente críticas ao PT, Lula ou Dilma Rousseff. Jornalistas muito bem pagos, como Reinaldo Azevedo, um golpista supostamente arrependido, se especializaram em achincalhar petistas. Foi aí que foram criados os termos “petralha” e “esquerdopata”.
A questão da moralidade, portanto, foi explorada pela burguesia e seus principais jornais, que criaram a ideia de que nunca teria havido governos tão corruptos quanto os petistas.
Quanto ao ponto 3, o controle da violência pelo Estado, mais uma vez isso não tem relação com os governos Lula e Dilma. No que diz respeito à segurança pública, as polícias são controladas pelos estados e pelos municípios.
Não importa, é culpa do PT
O entrevistador Leonardo Sakamoto, pergunta para Angela Alonso se tudo o que explodiu em 2013 estava fermentando na panela de Lula. Ainda que nenhum dos três pontos levantados pela socióloga permitisse chegar a essa conclusão.
Para Angela Alonso, as manifestações de rua contra um governo, dependem das características desse governo. Diz que se um governo for de centro ou direita é natural que as ruas sejam ocupadas pela esquerda. E que no caso dos petistas é natural que outros movimentos também tomem as ruas. Mas fica estranha a colocação se ela mesma admite que havia grupos de esquerda, que ela chama de ‘neo socialistas’, como o PSTU e PSOL atacando o PT.
Esse tipo de matéria da Folha de São Paulo nos faz lembrar do período do julgamento do Mensalão. Em toda oportunidade que se apresentava, a grande imprensa criticava o governo. E, quando não havia motivo, davam um jeito de criar algum factoide, como neste caso, que tentam atribuir ao PT, aos governos Lula e Dilma os eventos de junho de 2013.