O dia 7 entrou para a história pela ação heroica de membros do Hamas que realizaram o maior ataque da resistência palestina ao Estado sionista de Israel. No entanto, as últimas revelações mostram que a data não representa apenas o dia histórico para a resistência de um povo, como também do lançamento de uma enorme operação de propaganda em defesa do genocídio de Israel contra o povo palestino.
Vídeos que circulam a Internet mostram que o próprio exército de Israel visou bombardear seus próprios civis para culpar a resistência palestina e ter uma justificativa maior para invadir a Faixa de Gaza.
Em artigo publicado no jornal israelense Haaretz, o jornalista e analista militar Amos Harel descreve qual a ação tomada pelos palestinos no dia em questão:
“O Escritório de Coordenação e Comunicação foi atacado em 7 de outubro, juntamente com todos os postos avançados ao longo da linha da divisão. Uma grande força do Hamas tomou o cruzamento adjacente de Erez, que estava fechado por causa do feriado de Simhat Torah. De lá, em poucos minutos e sem resistência, eles avançaram para a base militar, matando e sequestrando os soldados da Administração Civil, embora alguns deles tenham conseguido devolver o fogo antes de serem atingidos… O general Rosenfeld se entrincheirou na sala de guerra subterrânea da divisão, juntamente com alguns soldados, tentando desesperadamente resgatar e organizar o setor sob ataque. Muitos dos soldados, a maioria deles não pertencentes às equipes de combate, foram mortos ou feridos do lado de fora. A divisão foi obrigada a solicitar um ataque aéreo contra a própria base para repelir os terroristas [grifos nossos]” (“Failures Leading Up to the Hamas Attack That Changed Israel Forever”, Amos Harel, Haaretz, 20/10/2023).
Neste episódio, o analista explicita que a ação por parte do exército de Israel foi responder com uma grande operação militar que viria a matar, em primeiro lugar, seus próprios civis.
No sítio da Internet Electronic Intifada, é relatado, por meio de uma entrevista, que “eles [militares israelenses] eliminaram todo mundo, incluindo os reféns.” (“Israeli forces shot their own civilians, kibbutz survivor says”, Ali Abunimah e David Sheen, 16/10/2023). Os relatos acusam, inclusive, de bombardeio por parte do exército de Israel contra a população local, dentro do próprio Estado sionista.
Em meio a toda esta ocorrência, destacou-se na imprensa mais uma vez a chamada “diretriz Aníbal”, um procedimento utilizado desde os anos 80 pelo exército de Israel para “impedir a captura de soldados israelenses”.
Conforme aponta o livro Cativos, lançado pelo próprio instituto Van Leer de Jerusalém, o “Protocolo Aníbal” foi escrito em 1986 e se manteve totalmente secreto até o ano de 2003, tem como base “em caso de captura, a missão principal se torna resgatar os soldados dos captores, mesmo a custo de alvejar ou ferir nossos soldados”. A própria editora do livro, Merav Mack, descreve no prólogo que a “verdade chocante posta diante de um combatente no momento do sequestro ou da queda em cativeiro, um momento em que ele vai descobrir que o perigo principal à sua vida vem justamente do lado de seus colegas de armas”.
O caso tornou-se mais uma vez uma polêmica pública no ano de 2014, quando se utilizou o protocolo após uma ação do Hamas em Israel. Na mesma época, defensores da política de Israel afirmaram que o protocolo seria apenas “uma série de normas no caso de uma captura, como a abertura de fogo contra os sequestradores e destruição de pontes e estradas próximas a fim de evitar a fuga dos sequestradores.” Porém, que eventualmente seria “mal interpretada” pelos comandantes.
Fato é que este protocolo, em toda sua história, se revelou uma política de carnificina contra tudo e todos, atingindo inclusive a própria população de Israel durante o processo de “vingança” do exército.
“Israel o invocou pela última vez em 2014 durante a guerra em Gaza daquele ano de acordo com as gravações militares vazadas, embora o exército tenha negado que tivesse usado a doutrina. Dezenas de palestinos foram mortos no bombardeio israelense que se seguiu, provocando acusações de crimes de guerra contra o exército israelense”, afirmou um antigo soldado israelense à Al Jazeera (What’s Israel’s Hannibal Directive? A former Israeli soldier tells all, Al Jazeera). ““Você abrirá fogo sem restrições, a fim de evitar o sequestro’”, disse ele, acrescentando que o uso da força é realizado mesmo com o risco de matar um soldado em cativeiro.
Além de disparar contra os sequestradores, os soldados podem disparar em cruzamentos, estradas, rodovias e outros caminhos pelos quais os oponentes podem levar um soldado sequestrado, disse Shaul.
“Os militares israelenses negaram a interpretação da diretiva que permite a morte de seus companheiros de tropas, mas os soldados israelenses, incluindo Shaul, entendiam isso como uma licença para fazer exatamente isso, pois é preferível a um cenário em que um soldado é feito prisioneiro” (idem).
Eyal Weizman, um arquiteto israelense britânico e diretor da agência de pesquisa Forensic Architecture na Goldsmiths, University of London, descreveu na época que Israel não realiza a troca de reféns, pois “Tudo isto reforça a percepção de que a vida de um dos colonizadores vale mil vezes mais do que a vida dos colonizados”.
Em 2014, surgiram relatos anônimos das fileiras de Israel, que logo apareceram na imprensa, denunciando a operação: “Um exército que quer salvar um cativo não age assim. Um exército que quer garantir a morte de ambos os cativos e captores age assim”. Conforme aponta carta destinada ao general do exército Benny Gantz.
Dois anos depois, em 2016, o procedimento teria sido extinto, segundo relatos da imprensa burguesa.
O nome, “Protocolo Aníbal” faz referência ao famoso general, opositor do Império Romano, que para não ser pego, suicidou-se envenenado.
Sobre o acontecido no dia 7, o Hamas afirmou: “O Hamas não pode prejudicar civis ou prisioneiros e agimos de acordo com as leis internacionais de guerra e de acordo com as instruções do comandante-em-chefe de al-Qassam, Abu Khaled al-Deif, para não prejudicar crianças e mulheres”
“O Ocidente acusa-nos de cometer crimes contra a humanidade, mas ignora que a guerra contra nós se baseou em atingir civis, e os americanos falam de moralidade quando exterminaram um povo inteiro, estabeleceram um Estado nas suas terras e atacaram pessoas com armas nucleares, bombas”, completou.
O Hamas repetiu as afirmações de que o movimento não tinha como alvo civis, acusando Israel de ter como alvo civis israelenses como parte de uma “Diretiva Aníbal”, de acordo com o jornal The Jerusalem Post.
Os dados demonstram a brutalidade da ação do Estado sionista. O protocolo Aníbal é uma expressão da máquina de guerra nazista estabelecida em Israel. É melhor matar todos do que ter um soldado capturado pela resistência palestina. Para Israel, é preferível ter um refém morto do que trocar reféns com a resistência palestina.
Como mesmo já afirmou o general israelense, para o Estado sionista, os palestinos devem ser tratados como “animais”.