Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Guerra contra os palestinos

Israel é o único culpado por toda a violência

Com quase 10 mil árabes inocentes mortos e 45% das residências de Gaza destruídas, só alguém profundamente desorientado ou muito cínico pode tornar sionistas e palestinos iguais

O jornalista israelense e diretor-executivo da revista +972, Haggai Matar, teve um artigo traduzido para o português e publicado no sítio Esquerda Online, intitulado “Como o sete de outubro mudou a todos nós – e o que ele sinaliza para nossa luta” (12/11/2023), retomando a discussão sobre como Israel é cruel, mas o Hamas também e, no fim, inocentes de ambos os lados pagam. Mesmo que, como destaca o mesmo, “de acordo com a ONU, mais de 45% das casas na Faixa de Gaza foram até agora destruídas ou severamente danificadas pelos ataques de Israel”, o que não acontece no lado israelense. Tampouco existe equivalência nas baixas, fato disfarçado pela propaganda sionista, mas que revela a absurda disparidade no conflito.

“A vida de milhões de israelenses e palestinos foi abalada pelos massacres que o Hamas cometeu em Israel naquele dia [7 de outubro], e pelos massacres subsequentes e contínuos que Israel está cometendo com seu ataque em larga escala à Faixa de Gaza”, escreve o jornalista. De um lado, 1.200 mortos -segundo Israel – pela ofensiva do Hamas e demais grupos armados de libertação da Palestina; do outro, mais de 14 mil mortos pelo direito de defesa de Israel, incluindo-se aí mais de 5.840 crianças e 3.920 mulheres segundo as cifras oficiais, que desconsideram os mortos por desabamentos que não puderam ser devidamente contabilizados.

Matar e Esquerda Online precisariam definir quanto aos adjetivos: se o Hamas cometeu um “massacre” em Israel, como conceituar o assassinato cruel de 5.480 crianças? Com quase 15 mil palestinos inocentes mortos e 45% das residências de Gaza destruídas, só uma pessoa muito desorientada ou profundamente cínica pode tornar sionistas bem armados e organizados iguais aos militantes palestinos, nem de longe armados como os israelenses, mas contando com a motivação militante a seu favor. 

“Nossas vidas aqui”, continua Matar, “como israelenses, nunca mais serão as mesmas depois de 7 de outubro”. É compreensível, contudo, o senso de proporção é essencial para não cairmos na propaganda de uma equivalência entre os dois campos em disputa. Finalmente, para o povo palestino, tal frase poderia ser dita desde os anos 1920 – data em que começa a ofensiva sionista para expulsá-los da Palestina -, com o acréscimo de que a partir de 1948, a situação dos árabes piorou drasticamente.

O próprio autor lembra que as “duas comunidades que estão envolvidas em tristeza, medo e ansiedade muito reais, ambas baseadas em traumas coletivos do passado – o Holocausto e a Nakba – cujas memórias estão sendo revividas pela retórica genocida de líderes do Hamas e do governo israelense – e, no caso palestino, por expulsões reais e a discussão de planos para ainda mais deslocamentos.”

“Escusado será dizer”, continua, “que, ao recuarem cada lado para o calor e a proteção do seu grupo nacional ou étnico, estão também a reafirmar involuntariamente os medos e desilusões do outro, criando uma dinâmica destrutiva de crescente desconfiança e desespero.”

Ora, o Holocausto se deu na Europa e sob organização do partido nazista – inclusive com anuência de lideranças do sionismo. Já a Nakba ocorreu na própria Palestina, onde viviam os avós da atual geração de palestinos e fora causada pelos israelenses, que os massacram ainda hoje. Holocausto e Nakba podem ser considerados, sob uma análise puramente esquemática, como dois eventos traumatizantes.

Ocorre que se os palestinos não tiveram relação alguma com o Holocausto, Israel, por sua vez, é o responsável pela Nakba. Analisando os dois eventos mais concretamente, portanto, eles são completamente distintos.

Finalmente, é preciso destacar também que as cifras envolvidas nas baixas israelenses são manipuladas. Matar trata do tema em seu artigo dizendo que “tanto se falou sobre as atrocidades que o Hamas cometeu no sul de Israel naquele terrível sábado, e tantas teorias da conspiração e fake news têm proliferado”, o que é uma forma de tentar driblar as denúncias, apontando que mesmo entre os israelenses, as Forças de Defesa de Israel (FDI) teriam provocado um grande número de baixas.

Matar foge do questionamento e procura fazer uma desqualificação moral, mas muitas testemunhas atestam que a famigerada “Diretriz Aníbal” – mediante a qual é melhor arcar com os custos políticos de um soldado israelense morto do que o desgaste provocado por um soldado israelense capturado – foi aplicada também em relação aos civis israelenses. O autor teria que demonstrar que tais testemunhos são falsos, mas prefere taxá-los como “teoria da conspiração e fake news”, o que é também uma forma de se assumir – ainda que de maneira velada – a incapacidade de rebater as acusações. 

Ocorre que o artigo não é simplesmente uma repetição dessa ladainha, mas uma análise do jornalista sobre conjunturas possíveis nos “horizontes à frente”. “É impossível avaliar o alcance da nova era que se iniciará após esta guerra”, diz Matar, “não há como dizer quem governará Gaza – o Hamas, a Autoridade Palestina, uma força internacional ou o próprio Israel. A magnitude dos esforços de reabilitação necessários em Gaza é inimaginável”. Uma colocação que revela os planos sionistas para Gaza, praticamente, o último território palestino ainda governado pelos árabes, embora sufocado pelo bloqueio total israelense.

Não é propósito deste artigo entrar no mérito dos planos de Israel para os palestinos, mas para o debate de ideias, deve-se ressaltar como pode haver uma equivalência entre as ações sionistas e as do Hamas se o primeiro é capaz de traçar planos para o território palestino? Tal fenômeno, nem por acaso, acontece na relação do Hamas com Israel. Mesmo que se argumente que a estratégia do partido palestino visa interferir em Israel pela extinção do Estado sionista, não está nos planos imediatos do grupo nada além de trocar reféns e militares capturados no 7 de outubro por prisioneiros palestinos feitos reféns pelas forças sionistas.

“Teremos de lidar com o Hamas e o seu lugar nesta nova realidade, garantindo [grifo nosso] que ele não pode continuar a cometer tais ataques contra israelenses, tal como insistimos na segurança dos palestinos e na sua proteção contra a agressão militar e dos colonos israelenses. Sem isso, será impossível avançar. Até lá, há dois apelos extremamente urgentes para centrar nossos esforços neste momento: a libertação de reféns civis e um cessar-fogo imediato”, conclui Matar, trazendo a política do caso.

Concretamente, para garantir que o Hamas cesse os ataques a Israel, seria preciso garantir a extinção das condições que fazem o partido revolucionário ser apoiado pelos palestinos. Para isso, ou israelenses e palestinos vivem em uma harmonia incompatível com os propósitos de existência do Estado de Israel, mas que seria perfeitamente compatível com um estado plurinacional e democrático. Outra opção seria exterminar completamente o que resta de palestinos na nação árabe. A primeira solução, sem sombra de dúvidas, seria mais humana, mas a julgar pelo teor dos ataques à resistência palestina, Matar está inclinado à segunda opção, ainda que de maneira envergonhada, por razões óbvias, dado a monstruosidade desta política que parece ser, também, a política de quem traduziu e publicou o artigo: o Esquerda Online.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.